Com quatro anos de atividades em Salto, o Senac adota o ajustamento às necessidades do mercado para definir os seus cursos e para decidir onde expandir. A tese é da gerente das unidades de Salto e Itu, Rita de Cássia Coimbra, que falou ao PRIMEIRAFEIRA nesta semana sobre a inserção da escola na cidade.
“Temos algumas marcas formativas que não abrimos mão e uma delas é a atitude empreendedora. Então, se não houver uma aderência do que o aluno vê em sala em relação ao mercado de trabalho, diminui o seu arcabouço de conhecimento. Por isso, é importante ele viver na teoria o que na prática vai aprender quando estiver no mercado. Nós valorizamos muito a forma de trabalho, formando conhecimento”, disse a gerente.
Além do conceito de educação do Senac, Rita de Cássia reforçou que a escola mantém o Programa Senac de Gratuidade, no qual o objetivo é permitir que todas as pessoas que desejam se qualificar possam receber a mesma qualidade de um aluno pagante, ou seja, o Senac oferece bolsas de estudo para essas pessoas.
A gerente também anunciou que neste segundo semestre haverá mais de 20 turmas de cursos técnicos, dentre eles alguns inéditos que atenderão ao mercado local, como o de Técnico em Guia de Turismo e Técnico em Multimídia, e mais de 40 turmas de cursos livres, de curta duração, todos com disponibilidade de bolsas.
Veja abaixo a íntegra da entrevista.
O Senac tem a preocupação de formar profissionais, especificamente para o Turismo e para a Indústria, duas das áreas mais fortes da cidade de Salto?
Rita de Cássia: A procura por cursos dessas áreas é bastante grande. Temos o curso de Segurança do Trabalho, mas também o curso técnico de Administração, no qual os alunos estão conseguindo estágios, através do projeto Senac Carreiras, que oferece algumas vagas junto a empresas e Poder Público. São cursos que oferecem uma boa mão de obra para a Indústria. Já na área do Turismo, estamos fazendo um esforço, com uma turma de técnico em Turismo, que está para acontecer. Nós sabemos ainda que a veia artística de Salto também é muito grande e queremos gritar aos quatro cantos que o Senac está lá para que os alunos se qualifiquem. Nós escutamos que o mercado pede mão de obra qualificada.
E para a área de tecnologia, na qual a Secretaria de Desenvolvimento Econômico tem pretendido investir?
Rita de Cássia: Temos alguns cursos específicos na área de informática, mas não podemos ficar apenas nesse mundo da tecnologia da informação. Temos alguns cursos na questão da inovação, afinal em todas as áreas você leva um pouco da tecnologia, como, por exemplo, o Designer de Interiores. Antigamente você trabalhava com grandes espaços para planejar com facilidade. Hoje os profissionais precisam trabalhar com espaços menores, mas que consigam abrigar todos os móveis. Isso é uma inovação e depende de muita tecnologia, inclusive a tecnologia humana. Então, olhamos para isso com bons olhos. Em tudo o que oferecemos, buscamos colocar um plus.
O Senac também está oferecendo alguns cursos voltados para os meios digitais para aqueles que buscam trabalhar com a internet?
Rita de Cássia: Estamos com alguns cursos para essa área, como, por exemplo o de Fotografia para a Alimentação, algo que é diferente. Temos essa preocupação de fazer algo nessa área, como cursos de tratamento de imagens, edição de vídeos, produção de conteúdo, entre outros.
Qual a participação do Senac junto à comunidade?
Rita de Cássia: Abrimos os espaços através de parcerias para realizarmos não só dos nossos eventos, mas de algo que para a cidade seja interessante. O Poder Público e as associações são parceiros nossos. Fazer parceria com quem também pensa no bem-estar da população faz toda a diferença.
O que é o Programa Senac de Gratuidade?
Rita de Cássia: Desde a inauguração do Senac Salto, em 2019, nossa intenção era trazer 80% da nossa programação de forma gratuita. Para isso, o Senac criou o Programa Senac de Gratuidade, no qual temos como objetivo permitir que todas as pessoas que desejem se qualificar possam receber a mesma qualidade de um aluno pagante. Dessa forma destinamos diversas bolsas de estudo para que esse aluno venha até nós.
O que é preciso para ser elegível a essas bolsas?
Rita de Cássia: Para um aluno se candidatar à bolsa de estudo, a soma da renda da família não pode ultrapassar dois salários-mínimos per capita. Depois, para os cursos técnicos, o aluno necessita de alguns requisitos básicos, como, por exemplo, ter o ensino médio completo ou, para algumas turmas, cursando, no mínimo, o segundo ano do ensino médio. Para se inscrever é bem simples. Basta acessar o site do Senac (www.sp.senac.br). A oferta de bolsas de estudos abre 20 dias antes do início de cada curso e os postulantes devem se cadastrar, apresentando uma declaração, e a partir de então, verificaremos se ele atende os requisitos para a bolsa. Vale dizer que o aluno bolsista não dispende nem mesmo do valor da paramentação. É o Senac quem banca o uniforme dele.
N.R: as bolsas de estudo são concedidas por meio do Programa Senac de Gratuidade, mediante análise do perfil socioeconômico do candidato e por ordem de inscrição. Outras informações podem ser conferidas no site www.sp.senac.br/bolsas-de-estudo/como-funciona.
Quais cursos o Senac irá oferecer a partir do segundo semestre desse ano na sua unidade local?
Rita de Cássia: Temos turmas em diversas áreas, em cursos técnicos de Podologia, Administração, Segurança do Trabalho, Estética, Recursos Humanos, Gastronomia, entre outros. Cada turma dispõe de 25 a 30 vagas. Para o segundo semestre são mais de 500 vagas que serão oferecidas. Atualmente temos um lançamento que é o curso técnico em Multimídia e teremos a novidade de um curso de Cuidador de Idosos, pois estamos percebendo o quanto a população está envelhecendo e buscando qualidade de vida.
Qual a estrutura oferecida pelo Senac Salto?
Rita de Cássia: Temos as salas de aula tradicionais para os cursos teóricos e as salas ambientes, que são montadas com cada formação. Temos, por exemplo, o laboratório de Gastronomia, com uma cozinha industrial com toda a estrutura para a formação, com fornos combinados, uma fábrica de gelo, bancadas higienizáveis e outros equipamentos específicos. Já no laboratório de Bem-Estar, existem as máquinas separadas com cortinas, tem banheiros separados etc. Nossos laboratórios são todos montados simulando a realidade do mercado.
Então, o aluno do Senac vive na sala de aula/laboratórios aquilo que encontrará no mercado de trabalho?
Rita de Cássia: Temos algumas marcas formativas que não abrimos mão e uma delas é a atitude empreendedora. Então, se não houver uma aderência do que o aluno vê em sala em relação ao mercado de trabalho, diminui o seu arcabouço de conhecimento. Por isso, é importante ele viver na teoria o que na prática vai aprender quando estiver no mercado. Nós valorizamos muito a forma de trabalho, formando conhecimento. Por exemplo, cada aluno do curso de Técnico em Segurança do Trabalho vivencia a experiência que terá nas empresas. Recentemente os alunos participaram de uma dinâmica de evacuação do prédio, que é uma simulação da realidade. Os alunos fizeram toda a programação junto dos professores para sair dali sabendo lidar com a situação. Obviamente que a expertise ele terá com o tempo, mas é importante viver essas situações. Temos de trazer isso para que o aluno entenda o que o mercado está buscando.
Qual a importância das relações interpessoais atualmente no mercado de trabalho?
Rita de Cássia: Outra marca do Senac é a atitude colaborativa. Eu não sou ninguém se eu não tiver um pouco de cada um em mim. Isso porque o mercado de trabalho, hoje, tem maior dificuldade relacional do que técnica. Por isso, levamos aos alunos que a informação técnica é importante, mas as soft skills, o relacionamento e o emocional são essenciais para qualquer ambiente. É algo elementar. Temos a missão de fazer com que cada aluno se sinta pertencente onde ele está e para onde vai. E para isso adotamos algumas condutas, entre elas o feedback dos alunos, porque o resultado nem sempre é o mais importante e sim o processo que ele vivenciou. Para aqueles alunos que têm mais dificuldades, nosso trabalho é trazer isso para discussão e compreensão dele. Nós até costumamos brincar que o conhecimento técnico contrata, enquanto o relacionamento demite. É importante saber pertencer, saber sair do palco para o outro brilhar. É algo que não é simples e precisa ser compreendido por todo um grupo. Não existe uma boa formação se não tiver preocupação com o indivíduo.
Nesses quatro anos do Senac em Salto, quais histórias mais marcaram a senhora como educadora?
Rita de Cássia: Eu até me emociono quando falo. No curso de Doceiro havia uma aluna surda, apesar da boa oralidade dela. E nesses casos, nós disponibilizamos um intérprete, então para ela foi uma transformação de vida. Ela não imaginou passar por tudo aquilo. A filha dela me disse que tinha medo de deixar a mãe estudar, mas agora ela já queria fazer outros cursos. Isso porque ela passou muito tempo esquecida. E descobrir que a educação pode proporcionar isso às pessoas, não tem preço. Ser empreendedor não é apenas abrir um negócio. É se auto empreender, saber tomar as decisões, encarar as dificuldades e tomar uma atitude que seja. Recentemente também tivemos a formação do curso de Panificação que me marcou muito. Uma aluna precisou voltar para a alfabetização para poder falar em público. Imagina alguém que não falava nada estar apresentando uma receita na frente de diversas outras pessoas… Isso é dignificante. É o empoderamento da pessoa.
Qual a importância do Senac para a cidade de Salto?
Rita de Cássia: Estamos em um bairro que está crescendo e contamos com o apoio do Poder Público e com a empresa responsável pelo transporte público para que possamos melhorar esse ciclo de ir e vir dos alunos. Além disso, queremos disponibilizar o Senac para todos. O Senac tem um prédio maravilhoso e que está lá para os alunos, obviamente, mas para mães, filhos, avós… Temos uma biblioteca fantástica para uso da comunidade, inclusive com acesso a computadores. Isso é atitude colaborativa e atitude empreendedora. A escola precisa ter a cara do aluno. O Senac é um presente onde ele estiver. A pessoa ter acesso a uma educação de qualidade e compatível com o mercado, cujos cursos muitas das vezes gratuitos, é de uma relevância até difícil de mensurar. É um presente que possibilita o indivíduo a ser ele mesmo, mas mais completo. Somos uma escola que dá o direito de todos a terem acesso numa qualidade inquestionável.