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Ex-secretário defende preservação do Parque do Lago como santuário de aves

Primeiro titular da pasta de Meio Ambiente da história de Salto, João de Conti Neto disse que qualquer mudança de uso do local vai interferir em uma questão natural e será danosa para a cidade

O ex-secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Salto, o engenheiro agrônomo e especialista em gestão ambiental João de Conti Neto, defende que o Parque do Lago vire um santuário de aves. “O Parque do Lago foi criado pela natureza por ser um lugar de remanso. Sempre que o Rio Tietê encher ele vai acabar adentrando no parque. Não há o que fazer para evitar isso”, afirmou.
Para o ambientalista, que foi o primeiro secretário de Meio Ambiente da história da cidade, na gestão do ex-prefeito Juvenil Cirelli (PDT), o Parque do Lago deve ser tratado como um espaço de nidificação (ação de alguma espécie de animal construir seu ninho), com algumas espécies em período migratório que utilizam o local para descanso e talvez até como local de reprodução.
João de Conti Neto defende que não se deve mudar a estrutura existente. Revelou que o ex-prefeito Juvenil queria colocar pedalinhos no parque e que ele foi contra justamente por causa dessa vocação de santuário. “Se mexer em algo, você interfere nesse meio ambiente”, ressaltou para enfatizar que nem a limpeza do lago deve ser feita na totalidade e mesmo em parte deve ser manual.
Ouvido pelo PRIMEIRAFEIRA, o ex-secretário falou também do programa Município Verde e Azul, do plantio de árvores, da situação do Rio Tietê e não poupou críticas à falta de participação da população na questão ambiental, ressalvando que falta uma ação junto às crianças para gerar uma conscientização natural dentro de casa, quando o filho fala para o pai e cobra atenção.
Veja a íntegra da entrevista abaixo.

Como ex-secretário de Meio Ambiente e ambientalista, qual a importância do programa Município Verde e Azul para Salto?
João de Conti Neto –
O programa foi criado pelo governo do Estado no final da década de 2000. Essa questão ambiental, aliás, é muito recente. Para os municípios, poder criar uma estrutura ambiental para fazer obras ou legislações visando dar um rumo sustentável é um pouquinho difícil. Primeiro por não ter tantos profissionais capacitados nessa área e, muitas vezes, o Meio Ambiente acaba sendo comandado por pessoas sem experiência, que geralmente acabavam ajudando nas campanhas políticas. O pessoal acha que por estar envolvido com a natureza não vai ter muita dor de cabeça, mas, se não tiver um respaldo técnico, essa pessoa vai se perder. O governo estadual começou a identificar que os municípios estavam ficando meio perdidos na questão e resolveu criar uma cartilha com diretrizes para serem desenvolvidas ao longo do ano, que geram pontos até o ranking final. Sob esse aspecto, o programa é bom.

E o que Salto fez de significativo para o programa?
João de Conti Neto –
O Juvenil (Cirelli) teve uma grande sacada, a Parceria Público-Privada (PPP). Vai ser difícil encontrar um município de São Paulo que tem a estrutura que temos aqui. Por isso que dá certo até hoje. Lógico que existem alguns ajustes, mas o grosso você não mexe. Hoje temos o melhor serviço de limpeza da região. Ano que vem completa dez anos e você vê que funciona. Todos elogiam e temos uma empresa comprometida por trás. Hoje temos um padrão de limpeza pública que ainda não é o ideal, mas está muito próximo de ser.

O que faltaria para atingirmos esse ideal?
João de Conti Neto –
Mais participação da população. A população, às vezes, se acomoda e acha que os contêineres de lixo são a salvação. Então ela não faz a coleta seletiva, não faz o descarte legal utilizando os ecopontos, não cumpre as “regrinhas” de limpeza e acaba jogando aquilo que não pode dentro dos contêineres. Se a população colaborasse um pouquinho mais, nosso padrão estaria mais próximo do ideal. Eu gostava muito de incentivar a educação ambiental para as crianças nas escolas. Quando um filho cobra acaba sendo uma forma para que o pai faça a coisa certa e sirva de exemplo. Nisso, vamos criando uma consciência em todo o município. Mas, essa é uma questão que nunca vai terminar. É preciso estar inventando a roda todos os anos.

Ainda na área da melhoria do meio ambiente, qual o grande problema em relação à arborização na cidade de Salto?
João de Conti Neto
– Essa é uma questão delicada. Na década de 1960, mais ou menos, o governo de São Paulo incentivou a arborização nos municípios cedendo muitas mudas. Além disso, não me recordo se no governo do Pílzio Di Lelli (ex-PPS, hoje Cidadania) ou do Jesuíno Ruy (MDB), foram plantadas muitas árvores na cidade, mas sem critérios na seleção das espécies, com o plantio de árvores grandes em calçadas pequenas. Essas árvores foram crescendo e criando conflitos com as calçadas e fiações elétricas. Então existem muitos problemas que nos obrigam a fazer substituições, que é algo normal, já que, lá atrás, não houve um planejamento. Hoje em dia, já há um manual com as espécies adequadas para cada área. Às vezes até são selecionadas menos espécies, mas com a certeza de que elas não criarão conflitos e irão permanecer por um longo período. Vão acabar morrendo pela vida útil de cada uma.

Quais ações podem ser feitas para incentivar o plantio de árvores na cidade de uma maneira planejada?
João de Conti Neto –
Hoje em dia existe o Habite-se Verde para que, quando a pessoa acabar a obra, sobretudo nos novos loteamentos, plante-se uma árvore em frente à casa e assim ela consegue o documento. Desse modo, a pessoa vai passar a cuidar da árvore. Antigamente, quando se iniciava um loteamento, a empresa fazia o plantio das árvores e, durante as obras, muitas árvores acabavam danificadas ou só ficavam intactas porque o lote ainda não tinha sido ocupado. Quando se plantava antes das construções, 90% das árvores acabavam morrendo. Essa iniciativa acaba criando uma regra e evita qualquer interferência no crescimento das árvores por causa das obras. Vamos acabar vendo os resultados nos próximos dez anos.

Na região central, qual seria a solução para aumentar o número de árvores, já que existe mais adensamento populacional?
João de Conti Neto –
Na região central precisamos de uma adesão maior da população. Os proprietários não querem árvores na frente dos imóveis e, quando se planta, dentro de dois ou três dias, ela já não está mais lá. Os proprietários dizem que foi danificada por outros, roubadas etc. Mas não foram. Não adianta sair plantando um milhão de mudas sem dar a devida atenção. O mais importante é fazer a manutenção. Quando se iniciou a questão da arborização ainda não tínhamos a estrutura da empresa CSO (que faz a coleta de lixo) no setor de arborização. Plantamos menos árvores do que agora, mas também perdemos muito menos, seja por vandalismo ou má formação, em relação ao que se perde agora. Precisamos pesar se é melhor plantar muitas árvores e elas não vingarem ou plantar poucas e conseguir cuidar adequadamente.

Qual é o papel da CPFL nessa questão?
João de Conti Neto –
A CPFL, por cuidar do sistema de energia elétrica e por conta de algumas fiações, sobretudo de alta tensão, tem algumas podas que somente ela pode fazer. Nesses casos o município não pode mexer. Então a CPFL é chamada e em alguns casos faz uma poda drástica para não ficar perdendo tempo. Nessa, a estrutura da árvore acaba comprometida e daqui alguns anos vai acabar pendendo, vai acabar caindo.

É possível fazer com que o lago do Parque do Lago volte a ser como era antes ou ele já não tem mais saída?
João de Conti Neto –
Essa é outra questão delicada. Ainda quando eu estava no governo, o Juvenil (Cirelli) me chamou e perguntou da possibilidade de colocar pedalinhos no lago. Eu falei que não daria certo, porque lá não era lugar para aquilo. O Parque do Lago foi criado pela natureza por ser um lugar de remanso. Sempre que o Rio Tietê encher ele vai acabar adentrando no parque. Não há o que fazer para evitar isso. Talvez fazendo um muro de arrimo enorme para evitar essa água, mas esse não seria o caminho certo. Na natureza, quanto menos intervenções, melhor. Ainda na gestão em que estivemos à frente da Secretaria de Meio Ambiente, já havíamos dado essa conotação ao Parque do Lago. Ele deve ser tratado como um espaço de nidificação (ação de alguma espécie de animal construir seu ninho), com algumas espécies em período migratório que utilizam o Parque do Lago para descanso e talvez até como local de reprodução. Então, se mexer em algo, você interfere nesse meio ambiente. O Parque do Lago é como se fosse o “Pantanal saltense”, em que, assim como o Pantanal brasileiro, há alguns períodos de estiagem que as aves migram para lá. Nunca poderemos limpar o lago em sua totalidade. Se limpar e der outra conotação, acaba com a natureza. Seria possível até limpar metade do lago, com uma limpeza manual para não alterar o ambiente, como ocorreu da primeira vez que fizeram com maquinário. Acho que devemos ter o Parque do Lago diferente dos outros. Lá, deve ser um local para fotografar passarinhos, para conhecer as capivaras, ter umas torres de observação, chamando outro tipo de público. Essa visão de ter um parque ambiental é o ideal para ir lá e desfrutar da natureza, talvez com alguns painéis informativos com as aves que estão presentes no local. Fazer algo parecido com o que foi feito no Parque Rocha Moutonnée, em que é preciso tirar o chapéu, pois ficou muito bacana.

Em relação ao Rio Tietê, o que é possível Salto fazer para se ter um rio minimamente limpo e aproveitável?
João de Conti Neto –
Quando fizemos a limpeza (em 2014) foi uma sacada para chamar atenção. Aproveitamos a estiagem para mostrar quanta sujeira vem através do rio. Foi uma sementinha plantada naquela época e passou-se a falar mais do Rio Tietê naquele momento. É preciso uma visitação constante aos municípios, convencer e convidar políticos da região para cá, fazer palestras e mostrar as belezas que Salto tem e as que poderia ter se a condição fosse melhor. Esse exemplo pode ser usado não apenas em Salto, mas várias outras cidades ribeirinhas que podem ter um melhor aproveitamento do Rio Tietê e até gerar renda com ele. Com essa força entre municípios seria possível “brigar” lá na capital para que façam no Rio Tietê o que foi e está sendo feito no Rio Pinheiros, a começar por acabar com essas ligações clandestinas de água e esgoto, além de criar novas estações de tratamento. Vimos uma melhora ao longo do tempo, mas precisaria ser um pouco mais rápido para esta geração aproveitar.

As intervenções que foram feitas ao longo dos anos na barragem de Pirapora do Bom Jesus têm influenciado no aumento das cheias?
João de Conti Neto –
O extravasor de fundo foi criado para evitar o rompimento da barragem. Então ele é acionado somente quando há um estado de alerta. O que temos notado é que as próprias cidades se desenvolvem, vão se criando áreas impermeáveis e a água da chuva precisa correr para algum lugar. Então as enxurradas acabam sendo maiores. Além disso, o próprio refluxo da água faz com que as barragens sejam acumuladoras de dejetos que ocupam o lugar da água. Deveria se fazer o desassoreamento das barragens, tirar as sujeiras, sobretudo a que está acumulada, para aumentar a vazão e assim evitar a abertura do extravasor. Aqui em Salto mesmo, faz tempo que não deve ter sido feita. Do Mirante da Ponte Estaiada é possível ver uma mancha desses dejetos próxima à barragem.

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