Um dos primeiros professores da cidade, além de um engenheiro ativo, esse saltense de nascimento sempre esteve ligado à Educação e ao desenvolvimento locais e acredita que o município vai ser a bola da vez nos próximos anos
Um dos primeiros professores de Salto e engenheiro ativo, Benito Begossi é um expoente na sociedade saltense por suas atividades e por sua dedicação, com uma longa história de amor e de carinho por Salto, onde nasceu e vive até hoje e onde foi, durante muito tempo, uma figura de destaque na Educação e no desenvolvimento.
É com base nessa folha de serviços prestados que ele afirma que Salto está trilhando um caminho para a prosperidade. Ele acredita que a cidade vai se desenvolver mais a partir dos próximos anos. “Indaiatuba cresceu muito e hoje é uma baita cidade. Itu também. Então, quem falta agora? Qual cidade ainda pode crescer?”
Aos 86 anos, hoje aposentado, o professor precisou deixar de lado muitas de suas atividades por problemas de saúde recentes, mas encontrou na culinária um novo passatempo. “Eu me divirto, busco soluções, erro e continuo. Além disso, tem meu filho que é arquiteto e gosta da culinária. Então nos divertimos através da gastronomia. Pelo menos uma vez por semana nos reunimos, cozinhamos e conversamos. Aliás, foi vendo-o cozinhar que me inspirei”.
Engana-se, porém, quem pensa que seu instinto curioso ficou de lado. Parte de seu tempo livre, o professor usa para conhecer mais sobre a história da Matemática, aprendendo e tentando resolver problemas de séculos e séculos atrás. “Eu ainda me dedico à Matemática, mas de forma recreativa. Busco as novidades que surgem, ainda mais hoje que temos acesso a vários conteúdos de muita gente boa, que dá aulas e explana a Matemática dos fenícios, dos babilônios, dos gregos, entre outras. Não me preocupo em resolver problemas. Eu me preocupo em conhecer as curiosidades”.
Em entrevista ao PRIMEIRAFEIRA nesta semana, ele contou um pouco sobre a sua história de vida e como vê a cidade que tanto ama no futuro, acreditando que a vanguarda está muito próxima de Salto, em especial para a população mais idosa.
Veja a íntegra da entrevista abaixo.
O senhor teve uma vida profissional sempre muito ligada à Educação. Como vê essa área atualmente na cidade?
Benito Begossi: Se não mexermos na Educação, sobretudo em relação aos professores, não evoluiremos. É preciso mexer em várias áreas: na docência, na grade curricular, na infraestrutura das unidades. Falta também intercâmbio entre família e escola.
Como foi sua trajetória como professor e por que o senhor decidiu trocar a sala de aula pela engenharia?
Benito Begossi: Tenho uma formação acadêmica na área de Pedagogia, tendo me formado pela PUC Campinas em 1958. Apesar de eu ter lecionado nessa época em Jundiaí, onde comecei ensinando as disciplinas atreladas ao curso, eu não me encontrei. Então voltei para Salto, porque não me achava pronto, mas nessa época estava iniciando o primeiro curso ginasial (atual Ensino Fundamental I) na Escola Paula Santos e não havia nenhum professor saltense. Por isso apareceu a oportunidade de trabalhar na escola como professor de desenho geométrico. E foi lecionando essa disciplina, ligada a cálculos e números que eu resolvi cursar Matemática em 1974. Foram três anos de curso até obter a licenciatura plena para dar aulas no ensino colegial (atual Ensino Fundamental II). Logo após me formar em Matemática me veio à cabeça a ideia de partir para a Engenharia, e eu já estava com 39 anos. A Engenharia foi um “plano B” na minha vida, mas eu queria atrelar a Engenharia dentro de um projeto estrutural, utilizando a Matemática para desempenhar o meu papel. Por isso meu papel de engenheiro foi mais dentro do cálculo estrutural. Fiz um curso extracurricular para entender o que era um projeto estrutural e me dei relativamente bem, atuando nessa área até minha aposentadoria. Dentro desse contexto ajudei a fundar a Associação dos Engenheiros de Salto, que foi muito atuante entre as décadas de 1980 e 1990, com bons elementos para trabalhar, inclusive auxílio ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, o Creas.
Mas ainda hoje a Educação está ligada à sua rotina, não está?
Benito Begossi: Eu ainda me dedico à Matemática, mas de forma recreativa. Busco as novidades que surgem, ainda mais hoje que temos acesso a vários conteúdos de muita gente boa que dá aulas e explana a Matemática dos fenícios, dos babilônios, dos gregos, entre outras. Não me preocupo em resolver problemas. Eu me preocupo em conhecer as curiosidades. Até outro dia eu estava conversando com um aluno do Ensino Médio e perguntei para ele o que era um ponto. Ele não soube me responder. Essas coisas são fantásticas, me transformam e me tornam em algo mais útil.
Mesmo após a aposentadoria, o senhor continuou bastante ativo nessas áreas. Em quais projetos o senhor participou?
Benito Begossi: Depois do trabalho no magistério, atuando como professor em quase todas as escolas da cidade e do meu trabalho como engenheiro, me dediquei a uma série de trabalhos sociais, dos quais o que eu mais me orgulho é da minha participação como presidente na Fundação Saltense de Educação e Cultura, a Funsec. Na ocasião, nós recebemos inclusive o presidente da República, Luís Inácio “Lula” da Silva (PT). Conseguimos finalizar a obra do prédio (antigo prédio do Instituto Federal de Salto em frente ao Terminal Rodoviário, e que se tornará, em breve, um Centro Cultural) e mudamos seu conceito inicial, já que a ideia, primeiramente, era oferecer cursos técnicos de administração, física, hotelaria, turismo e gestão. Eu achava que, naquela época, não eram precisos tais cursos e então criou-se a oportunidade de se constituir em uma escola secundária, em nível colegial. E conseguimos transformá-la em uma escola acadêmica, voltada ao Ensino Superior. Foi um processo que valeu a pena desenvolver.
Qual a participação do senhor junto à tradicional e antiga Associação Italiana Giuseppe Verdi?
Benito Begossi: Ainda tenho alguma participação lá, mas hoje menos efetiva (como diretor de patrimônio). É uma associação que meu avô fundou, mas que me traz algumas memórias não tão boas. Ainda quando estudante do Externato Sagrada Família, eu cheguei a ver, antes do final da Segunda Guerra, pessoas tentando laçar o busto de Giuseppe Verdi. Era uma briga dos nativos daqui contra a influência italiana em Salto. Foi uma situação degradante. Vi minha tia, que também trabalhava no Externato, discutir com cidadãos saltenses que tentavam trazer para baixo o monumento em homenagem a Giuseppe Verdi.
O senhor acredita que a influência italiana em Salto se enfraqueceu com o passar de tantos anos?
Benito Begossi: A criação de unidades do Rotary Club fez com que a Associação Italiana Giuseppe Verdi entrasse em um ostracismo. Não fosse o (atual presidente, Odair José) Perón, talvez a entidade não fosse mantida. Eu acho que os descendentes de italianos não foram preparados para essa responsabilidade. Isto porque a influência italiana em Salto foi gigante, vide a própria Brasital. Não fosse ela, a realidade seria diferente até mesmo para a cidade.
A ligação do senhor com o esporte é grande, tanto que foi homenageado recentemente. Como foi receber essa participação?
Benito Begossi: Fui homenageado pelo Valdir (Líbero, secretário de Esportes da Prefeitura) pelo meu tempo como jogador de vôlei. Não que eu tenha sido um grande jogador, mas tive minhas participações. Joguei até 2006 quando tive um problema cardíaco e precisei me afastar. Mas o evento foi lindo, repleto de idosos de diversos Estados e de diversos países, numa confraternização bastante interessante. A realização dessa competição, o Sul-americano de Vôlei Adaptado, em outubro, valeu a pena para mostrar o trabalho para com o idoso que é realizado no esporte em Salto. É um trabalho exponencial, sobretudo no vôlei adaptado. Um trabalho que começou em 2002 e hoje o vôlei adaptado de Salto é respeitado regionalmente. É um trabalho de inclusão que torna o idoso protagonista. Muito bom mesmo.
O senhor ainda acompanha os esportes?
Benito Begossi: Se perguntar para mim se vejo ou não vejo filme, não vejo nada. Meu negócio é o esporte. Vejo partidas de sinuca, tênis, vôlei, basquete e futebol. Até agora estou tentando entender as regras do futebol americano. Mas, o futebol é o que mais me agrada. Eu lembro de ter visto meu primeiro jogo do Palmeiras em 1944, no Pacaembu, em São Paulo. E de lá até hoje vibro com o time. Mas vejo os jogos sozinho. Não vejo com ninguém ao lado. Fico na minha, analiso e acompanho os programas esportivos também.
O senhor tem outra paixão também, a culinária. Como ela foi importante na vida do senhor até agora?
Benito Begossi: Em 2018, eu sofri um processo depressivo violento. Ficava o dia todo acabrunhado, prostrado e avesso a muita coisa, sem saber o que estava acontecendo. A causa era um medicamento que não combinou comigo. Foi difícil até para minha família conviver comigo no período. Eu então procurei uma médica geriátrica, que me mudou. Ela me disse que deveria procurar atividades para fazer ou viveria à base de medicamentos. Então comecei a encontrar um caminho, que, no fim das contas, foi tão frutífero que hoje eu a coloco como minha salvadora. Eu decidi entrar na cozinha. Comecei sem saber fritar um ovo e o período da pandemia foi esplendoroso para mim. Tive de me virar. Faço o que tenho vontade de fazer, buscando referências através de vídeos, e me divirto. Ainda faço muitas burradas, mas se tornou minha terapia.
O que mais o senhor gosta de fazer na cozinha?
Benito Begossi: Os pratos da cozinha italiana, principalmente os do Sul da Itália. Eu me divirto, busco soluções, erro e continuo. Além disso, tem meu filho que é arquiteto e gosta da culinária. Então nos divertimos através da gastronomia. Pelo menos uma vez por semana nos reunimos, cozinhamos e conversamos. Aliás, foi vendo-o cozinhar que me inspirei.
Como o senhor enxerga o atual momento da cidade de Salto e, na visão do senhor, o que podemos esperar para o futuro?
Benito Begossi: Salto ainda vai ser grande. Indaiatuba cresceu muito e hoje é uma baita cidade. Itu também. Então, quem falta agora? Qual cidade ainda pode crescer? Vejo Salto como um sinônimo de prosperidade. É uma cidade que tem tudo para se desenvolver. E, quando deslanchar, será um momento muito especial. Sou saltense e vivo aqui há 86 anos. Hoje, eu vejo Salto como uma cidade próspera e que atravessa um bom momento, sobretudo para a pessoa idosa, com a presença de diversos movimentos, sejam eles esportivos, religiosos ou sociais. Tenho visto que há uma grande preocupação da Secretaria de Ação Social e Cidadania, que faz um trabalho interessante.