O livro “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, é uma experiência bonita, sensível e universal.
A narrativa, escrita na perspectiva de uma criança, o Miguilim, nunca falha em me tocar. Apesar do paradigma infante, a leitura traz lições e simbologias de extrema complexidade.
No início do livro, quando cavalgava de volta para casa com o seu tio, o menino indaga: o Mutúm é bonito?
Ele não enxergava enquanto estava lá. Viveu no local sua infância inteira e construiu memórias lindas e felizes. Também memórias tristes: gente que ele amava, demais, se foi de lá.
Apenas uma criança, o protagonista sofre demasiadamente.
Ao final da história, Miguilim sabia que era hora de ir, de deixar o Mutúm na memória. E as memórias que ele guardaria, com certeza, seriam as mais bonitas.
Ele ia olhar para trás e lembrar de seus irmãos. Do Dito, astuto; de Drelina, toda menina; e Chica, toda moleca. Das aventuras, dos passarinhos que cantavam, também bonito, daquela vez que eles olharam a lua cheia e de Dito ensinando como sempre estar contente.
Assim, antes de partir, Miguilim olha em volta e confirma: o Mutúm era bonito.
No fim, parece que todas as dores encolhem quando a gente olha de longe. E Guimarães Rosa sussurra isso para o leitor em Campo Geral.
Em retrospectiva, percebemos que não enxergávamos a saudade que deixaria aquilo que estávamos vivendo.
Só naquela última olhada antes de dizer adeus, de fazer virar passado, a gente olha e fala “O Mutúm era bonito!”