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COMO ITU ME CONQUISTOU

Amo Salto como se ela fosse a minha cidade natal.
Na verdade, nasci em Pederneiras, no centro geográfico do Estado de São Paulo. Com apenas três meses fui morar em Indaiatuba. Depois, aos oito anos, me transferi para Salto, onde estou até hoje.
Evidentemente, morei, por diversas circunstâncias, em outras cidades, mas sempre mantive a base familiar em Salto.
Por que estou falando de Salto se este é um caderno voltado a homenagear o aniversário de Itu?
Simples, sempre houve uma rivalidade entre os moradores nascidos nas duas cidades. Isto permeia desde o esporte até áreas como a política, que, em tese, não deveriam permitir tal situação.
Não é para reforçar esses ataques e contra-ataques que estou entrando neste assunto, mas para contar como Itu me conquistou.
Como encaro a cidade como se fosse a minha terra natal, encarnei essa rivalidade desde o início e participei de disputas sem muita repercussão com ituanos em vários campos.
O caldo entornou mesmo quando entrei para a Faculdade de Jornalismo e me deparei com um colega de classe ituano.
Sabendo da rivalidade, os outros insuflavam a nossa briguinha particular e nós éramos os dois bem-dispostos a ela também.
Sempre trocávamos farpas.
Um falando do atraso da cidade do outro.
Na época tinham colocado nas entradas das cidades o nome delas em alvenaria e eu disse que Itu, vista do lado de dentro, ou seja, pelos moradores, era Uti, o que explicava bem como sofriam.
Ele disse que em Salto as coisas demoravam tanto a chegar que os saltenses nunca iriam ver um passarinho verde, mas amarelo.
Bastava surgir uma notícia em uma ou na outra cidade, para que um dos dois cutucasse o outro com a língua afiada.
Certa vez, a situação saiu do controle.
O meu adversário aproveitou o lançamento do filme “Guerra nas Estrelas” e disse, em alto e bom som na classe, que em Salto essa produção se chamava “Rancarabo nas Arturas”.
Foi uma gargalhada frenética só.
E todos ficaram esperando que eu revidasse.
Fui mais cirúrgico que ele e disse que Itu tinha a fama de ter tudo grande, mas o que era grande lá mesmo eram as injeções.
Outra gargalhada intensa.
Só que o meu oponente ou a família dele era dona de farmácia e a brincadeira ficou parecendo que eles ultrajavam os clientes.
Ele não gostou e partiu para briga comigo.
Os ânimos foram serenados e seguimos depois como amigos ásperos, mas nunca fomos próximos.
Mesmo assim, continuei mantendo a rivalidade em alta.
Um dia embarquei em um ônibus de excursão e fui para Iguape.
O ônibus levava gente das duas cidades.
Mais um motivo para a rivalidade estar no foco.
Chegamos à praia e nada de sol. Ao contrário, choveu todos os dias. A saída foi ficarmos no hotel e nos distrairmos com jogos.
Não havia celulares nem notebooks à época, ao menos que tivéssemos acesso com os nossos parcos recursos financeiros.
Nesses jogos conheci uma ituana que tinha o apelido de Limãozinho, dado o seu mau-humor, o qual aumentou terrivelmente com as minhas brincadeiras em torno da rivalidade.
Mas, felizmente, o que poderia terminar muito pior que o episódio da faculdade, dada a minha insensatez da juventude, acabou virando mesmo um namoro e a rivalidade foi para o espaço.
E foi assim que Itu me conquistou definitivamente.
Então, hoje, mais consciente e mais maduro em relação a tudo isto, eu parabenizo os ituanos e a cidade de Itu pela sua grandeza de fato e desejo que os próximos anos sejam de muito mais sucesso.

Eloy de Oliveira é escritor, poeta e o editor responsável pelo PRIMEIRAFEIRA.

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