Dona da Casa Una, que completa um ano de atividades e é responsável pelo Salto Zen, com atividades gratuitas na Praça XV em parceria com a Prefeitura, Ângela Duarte prevê mais duas propostas
A professora de Yoga Ângela Duarte usa a sua experiência, adquirida com dez anos vivendo no exterior e com passagens por vários dos dramas humanos, para ajudar as pessoas a se reconectarem com o seu eu por meio da Casa Una.
O espaço completou um ano de atividades no dia 4 de março e se tornou conhecido por oferecer vivências terapêuticas e diversos tipos de aulas, como yoga, meditação, yoga aéreo, dança circular, tai chi chuan, entre outras, além de terapias individuais, como acupuntura auricular, coaching de saúde integrativa, psicologia, terapia com florais, entre outros.
A idealizadora da proposta é formada em Economia pela Unicamp e tem pós-graduação em Marketing e Marketing Digital, mas foi quando morou na Finlândia, na Argentina, na Alemanha, no México e pouco tempo em vários outros países, que desenvolveu toda a sua formação para a área da terapia. Na Índia, por exemplo, ela ficou seis semanas e foi onde fez o curso de professora de Yoga.
Antes de se reconectar consigo mesma, Ângela Duarte, desenvolveu até a Síndrome de Bournout, que é provocada pela sensação de cansaço, negatividade e estresse extremos. Ela trabalhava na área de Comunicação de uma empresa e chegou ao seu limite. A partir daí foi buscar a volta para a normalidade.
Algum tempo depois, a professora conseguir se reconectar e percebeu que muita gente vivia o mesmo problema. Daí veio a ideia de montar a Casa Una. Além das aulas particulares, o espaço realiza festivais mensais com entrada gratuita e está oferecendo também, em parceria com a Prefeitura de Salto, o Salto Zen, projeto que está levando aulas gratuitas de diversas modalidades à Praça XV.
Em entrevista exclusiva ao PRIMEIRAFEIRA, a professora contou que está desenvolvendo mais dois projetos para este ano: uma incubadora de negócios de almas, projetos que as pessoas querem tirar do papel e não sabem como, e o bistrô, restaurante montado no formato de cozinha colaborativa.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Como foi criar um espaço voltado especificamente para essa atividade, como aconteceu com a Casa Una?
Ângela Duarte: Morei fora do Brasil por dez anos e quando voltei para cá, voltei para Salto porque minha família é daqui. Eu nasci em Campinas, mas passei toda minha infância e adolescência em Salto. Após o meu retorno, comecei a dar aula de yoga e curso de construção de estilo saudável, que ensina as pessoas a encontrarem seu propósito de vida, a se curar através do trabalho voluntário e meditação. Eu achava que ficaria pouco tempo em Salto, porque eu não enxergava como eu poderia colocar em prática tudo que eu queria aqui e aí fui pensando que as dores do ser humano, de ter essa desconexão que eu tinha, de querer encontrar sua missão de vida e não conseguir, não é problema de uma cidade ou de outra, é do ser humano e onde ele estiver vai ter essas crises existenciais. Então resolvi começar aqui mesmo. Comecei a realizar programas em empresas sobre meditação e saúde mental e em 2022 fui chamada pela administradora de um dos espaços que eu trabalhava e ela me ofereceu para administrar lá, porque ela iria se afastar por problemas pessoais. Eu aceitei. Em novembro daquele ano, ela voltou e queria que eu ficasse na administração junto com ela, mas não deu muito certo, porque cada um tem seu jeito e para mim a questão da sustentabilidade é muito importante. Quando eu saí de lá, eu não ia abrir aqui, mas as pessoas que trabalhavam lá que tinham ido a meu convite, vieram me procurar para eu abrir um espaço e aí acabei decidindo por abrir essa casa. Comecei a procurar uma casa com quintal, porque queria construir uma “florestinha” no fundo para conectar as pessoas com a natureza, mas não poderia ser em um lugar longe das pessoas. Achei um anúncio dessa casa de 2011 e vi que conhecia essa casa e meu pai conhecia o proprietário. Aquele anúncio era de 2011, da primeira vez que ele saiu daqui e alugou, mas apareceu para mim, porque era para ser aqui.
Além do quintal, o que mais foi importante para você escolher esse espaço para começar?
Ângela Duarte: Quando vim ver esta casa para alugar, eu já olhei para o espaço no fundo dela e imaginei o domo que eu tanto queria (domo são estruturas definidas a partir de uma malha composta por uma rede de polígonos – geralmente triângulos em aço, madeira ou bambu – que, tridimensionalizados, conformam espaços). Além dos benefícios energéticos e da estética linda, o domo é super sustentável. Quando sairmos daqui somente o chão vai ficar, porque é de cimento. O resto tudo vai com a gente. Não vamos perder nenhuma porquinha. Conseguimos desmontar as placas triangulares, a lona que está por fora também e podemos levar para outro terreno e montar outra estrutura lá. As placas do domo são ecológicas e são feitas com embalagem tetrapak e tubos de pasta de dente. A Casa Una é zero lixo. Não usamos nenhum descartável de uso único. Se pensarmos na equação Casa Una em um ano, nós mais tiramos do que colocamos lixo no planeta. E não geramos lixo. Temos uma composteira. O que sobra de casca e resto de comida vai para lá, até porque não consumimos nada de origem animal. Tudo vai para lá. No nosso domo desenhamos a mandala da vida, que é baseada na geometria sagrada. Também temos cristais programados enterrados aqui. Antes de chegar a estrutura para montar o domo, fizemos isso, já que temos terapeutas de Cristaloterapia aqui. Fizemos isso para melhorar a energia do ambiente. Construímos esse domo em um dia, no dia 1° de abril do ano passado, e já fizemos vários eventos aqui.
Qual o propósito da Casa Una?
Ângela Duarte: A nossa proposta é fazer as pessoas entenderam que todas as mudanças que elas querem ver no mundo, elas precisam primeiro fazer nelas mesmas. A nossa proposta é sempre olhar para dentro de si. A mudança acontece de dentro para fora. Defendemos essa ideia de que podemos celebrar e participar de festividades com pessoas que pensam diferente da gente. Hoje o mundo é muito polarizado. Vemos pessoas até dentro da mesma família brigando. Aqui a ideia é sermos universalistas. Todas as religiões e visões políticas e econômicas são bem-vindas aqui, porque todo mundo pode e deve contribuir.
A Casa Una se juntou à Prefeitura para realizar o projeto Salto Zen na Praça XV de Novembro. Como está sendo isto?
Ângela Duarte: O Salto Zen é um presente que queríamos dar para a cidade. Nas aulas estão vindo de 15 a 20 pessoas por final de semana. Percebo que não é o público que estou acostumada a atender. Quando pergunto como ficaram sabendo do Salto Zen, a maioria fala que foi pelo jornal PRIMEIRAFEIRA e alguns pelo cartaz que está exposto na praça. Com o Salto Zen, eu atingi um público que eu queria aqui em Salto. Fizemos aulas gratuitas com o Salto Zen todos os sábados de fevereiro e agora em março. Neste sábado (23), das 8h às 9h, teremos na Praça XV uma aula de danças circulares e no próximo sábado, dia 30, no mesmo horário, teremos aula de dança livre. Além disso, como estamos no mês de aniversário agora em março, até o fim do mês, estamos fazendo terapias com até 50% de desconto para atingir quem precisa.
Qual o intuito da Casa Una em desenvolver um projeto gratuito?
Ângela Duarte: Fazemos todos os festivais aqui na Casa Una. A primeira coisa que estamos fazendo fora é o Salto Zen, porque queríamos que fosse gratuito e em lugar de fácil acesso ao público. Entendemos que muita gente nem entra aqui, nem toca a campainha, porque olha a casa, a fachada, a recepção e acredita que aqui não seja para ela e já se exclui. Por isso quisemos levar para a praça. Completamos um ano aqui e foi um ano muito bom. Quisemos dar esse presente para a cidade como retribuição. Fomos muito bem-recebidos pelo público da cidade e da região. Todos podem vir fazer uma aula experimental gratuitamente para conhecer a técnica. Temos a visão de que quanto mais ajudamos as pessoas que já se conscientizaram que precisam de ajuda, mais estaremos no caminho certo. Temos muitos eventos com entrada gratuita. As pessoas podem vir e vivenciar um pouco das terapias sempre. Temos meditação, exercícios de constelação, palestra de aromaterapia, entre outros, nessa condição.
Quais outros projetos gratuitos são oferecidos na Casa Una?
Ângela Duarte: Queremos fazer o Festival de Yoga desse ano, que será em junho, metade aqui e metade na Praça XV para levar para mais pessoas. Teremos ainda o Festival da Dança no dia 28 de abril, que também terá atividades gratuitas. Ele será uma mistura de apresentações e oficinas. As oficinas serão pagas, porque são outros professores que virão ministrá-las, mas todas as apresentações o público poderá assistir gratuitamente. No festival, juntaremos dança afro, dança cigana, dança circular, dança livre, dança do ventre. Teremos professores e dançarinos de todas essas modalidades que apresentarão um pouco para o público e depois as oficinas, mas alguns professores já disseram que farão a oficina gratuita. A ideia do festival é mostrar que todos podem dançar, que não é só dançar no palco, que dançar é curativo e que podemos levar isso para nossa vida. Também temos um programa que é Cuidar dos Cuidadores, onde ofereceremos sessões gratuitas de Barras de Access, uma terapia que temos aqui e que você toca 32 pontos na cabeça e ajuda, entre outras coisas, a desbloquear crenças limitantes. Aos sábados, os alunos que fazem esse curso, vêm aqui gratuitamente para receber e aplicar. Faremos um dia para cuidar de pessoas que cuidam. Faremos um dia por mês, um dia com pessoas da Enfermagem. Também temos a ideia de fazer um dia com mães de crianças autistas, um dia com funcionários do Caps. A ideia é servir quem vive para servir aos outros e as vezes acaba não olhando para si. Além disso, vários festivais são gratuitos, as pessoas podem vir aqui e até ouvir música ao vivo.
Você sempre quis trabalhar nessa área?
Ângela Duarte: Sou formada em Economia pela Unicamp e tenho pós-graduação em Marketing e Marketing Digital. Trabalhei 15 anos no mundo corporativo em multinacionais de Tecnologia e com isso morei dez anos fora do Brasil. Já morei na Finlândia, na Argentina, na Alemanha, no México e já fiquei pouco tempo em vários outros países. Na Índia, por exemplo, fiquei seis semanas e foi onde fiz meu curso de professora de yoga. Depois fiz uma especialização no Canadá. E nisso eu tive uma crise de estresse. Cheguei a sofrer da Síndrome de Bournout, porque me desconectei de mim. A Síndrome de Bournout é provocada pela sensação de cansaço, negatividade e estresse extremos. Eu trabalhava na área de Comunicação Corporativa e Marketing Estratégico e eu só trabalhava. Saí da faculdade, fiz a pós-graduação, o estágio, fui efetivada e já fiquei. Foquei nisso e cresci muito rapidamente na empresa, porque era workaholic e só pensava em trabalho. Com isso, fui mandada para vários lugares e eu ia sem questionar, porque não tinha família e nem filhos, mas isso fez com que eu me desconectasse de mim, que eu trabalhava direto e não tinha nem final de semana. Às vezes, acordava de madrugada para trabalhar. Quando eu voltei para o Brasil, em 2015, fui mandada para o Rio de Janeiro e foi aí que eu adoeci. Comecei a me sentir mal. Eu tinha como se fosse uma alucinação sonora. Ouvia o telefone da empresa tocar no meio da noite e acordava achando que tinha esquecido alguma reunião. Ouvia sons de notificação de mensagem do computador. O que estava tendo era a Síndrome de Bournout, que é quando o corpo para de funcionar como devia. Se o Brasil é o país mais desigual do mundo, o Rio de Janeiro é a cidade mais desigual do mundo. Lá, você tem o rico e o pobre morando no mesmo bairro. As favelas não estão só nas periferias, estão em áreas nobres da cidade também. Na portaria do meu prédio tinham crianças usando drogas e foi aí que comecei a surtar, porque eu via aquilo e pensava que eu não poderia ajudar, que eu era uma “fraude” e que não contribuía em nada com o mundo. Comecei a me questionar o que estava fazendo com a minha vida. Tive esse despertador na minha vida. Comecei a ajudar como eu podia. Quando fiquei muito doente, me desliguei da empresa e vendi tudo o que eu tinha. Aí comprei uma passagem de volta ao mundo e fui viajar para a Ásia, morei em Ecovilas. Lá, conheci a bioconstrução, os domos, fiz quinze cursos terapêuticos, entre eles o de professora de yoga e meditação, e decidi que queria trabalhar com isso e ajudar as pessoas a se reconectarem outra vez com elas mesmas.
Quais são agora os seus próximos projetos com a Casa Una?
Ângela Duarte: Temos mais dois projetos para esse ano: a incubadora de negócios de almas, projetos que as pessoas querem tirar do papel, como por exemplo, fazer cadernos artesanais, mas as pessoas não sabem como fazer e por onde começar. Vamos dar um suporte a essas pessoas, sobre como tirar o projeto do papel e colocar seu negócio no mundo. E, se for algo físico, como um bolo inclusivo, por exemplo, que tenha as características como a da nossa alimentação aqui, podemos ter o bolo nos nossos eventos. Depois que a pessoa fizer as seis semanas de incubadora, o resultado é ela fazer parte da rede Una, que terá profissionais, indicações e trocas e ela já terá um público inicial. Temos todos os equipamentos para fazer um primeiro portfolio para essa pessoa, como notebooks, celular, câmeras e luzes. Esse projeto será feito por mim, porque tenho pós-graduação em Marketing e Marketing Digital e outros profissionais também, como um especialista em identidade visual, uma pessoa da área de comunicação para ajudá-la com um texto de apresentação, por exemplo, entre outros.
Você falou de um dos projetos. Qual é o segundo projeto?
Ângela Duarte: O outro projeto é o bistrô. Temos um espaço aqui na casa onde faremos o nosso bistrô. A ideia é que tenha eventos gastronômicos como no formato de cozinha colaborativa. Morei dez anos fora do Brasil, então alguns modelos que estou trazendo aqui na Casa Una eu vi lá fora. A cozinha colaborativa eu ouvi falar lá fora do Brasil, mas vi funcionando mesmo e contratei o serviço em São Paulo, que era uma cozinha com um bistrô pequeno e você podia alugar e era “dono” do restaurante por um dia. Você definia o menu, fazia a compra, colocava o chef que você queria e fazia a divulgação. Depois abria o restaurante, servia todo mundo, fechava e ia embora. Muitas pessoas gostam de cozinhar, mas ter um restaurante implica muitas outras coisas. A ideia é oferecer essa estrutura para eventos de pessoas que estão começando, por exemplo. Já temos alguns chefs que cozinham para a gente nos eventos e nenhum deles tem restaurante hoje, mas eles voltariam a ter se fosse apenas por um fim de semana, por exemplo.