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Ariano Suassuna no céu

Bom, eu não sei se o Ariano Suassuna morreu de raiva ou de medo. Que ele era contra estrangeirismo, isso nunca foi segredo. O certo é que a morte o levou sem lhe tocar um dedo.

Um anjinho de recado foi chamar o Soberano dizendo:

Agora o Senhor vai concretizar seu plano.

São Pedro tá lá na porta recebendo o Ariano, Jesus saiu apressado apertando o nó da manta e disse:

Vou me lembrar dessa data como santa: a Arte de Ariano em toda parte encanta.

Logo chegaram uns companheiros.

Com um chapéu de palha chegou Ascencio Ferreira, o grande Câmara Cascudo; Zé Pacheco e Zé Limeira também chegaram. João Fermino Cabral foi engrossando a fileira e o próprio João Ubaldo Ribeiro, que tinha ido por engano, veio de braços abertos para abraçar o Ariano, e Suassuna falou:

Oh, João, morrer não estava em meus planos.

Depois chegaram Jorge Amado e o ator Paulo Goulart.

Veio também Chico Anísio, que começou a contar um causo muito engraçado, descontraindo o lugar.

Por fim, chegou Jesus Cristo com seu rosto bronzeado. Veio de braços abertos. Suassuna, todo emocionado, disse assim:

Esse é o mestre, o resto é papo furado.

Suassuna, que na vida sonhou ser imortal, entrou para a Academia de Letras, mas percebeu afinal que mortal é a vida no plano celestial.

Jesus lhe explicou então que o seu plano era o de fazer uma companhia de teatro e ele era o escritor que ele queria para escrever as suas peças, enchendo o céu de alegria.

Nisso Ariano respondeu:

Senhor, eu me sinto honrado, porém escrever uma obra é um serviço demorado. Às vezes, gasto dez anos para obter resultado. Nisso Jesus gargalhou e disse:

Fica à vontade. Aqui tempo não é problema. Estamos na eternidade e você pode criar na maior tranquilidade.

Um homem pequenininho, com um chapéu manzano, com um singelo instrumento tocou um coco ligeiro, falando da Paraíba. Era Jackson do Pandeiro.

Logo chegou Luiz Gonzaga e Lindu, do Trio Nordestino, e Lindu apontou Dominguinhos junto com José Clementino e o grande Humberto Teixeira, mais Raul e Zé Marcelino. Depois chegaram Marinês com Abidias, do lado assim, e Waldick Soriano com aquele vozeirão cantando: “Eu Não Sou Cachorro Não”, como sempre apaixonado.

Veio então o Sílvio Romeiro com Catulo da Paixão Cearense. Aí Suassuna enxugou as lágrimas de emoção, porque o Catulo com seu pinho, sabe o que ele cantou? “Luar do Sertão”, e Leandro Gomes de Barros, junto a Leonardo Mata, chegou com Juvenal Galeano, Otacílio Patriota e até Rui Barbosa veio com o título de poliglota.

Chegou Regina Dourado tocada de emoção juntinho de Ariano. Ela veio e beijou a sua mão e disse:

Na sua peça eu quero participação.

Ariano então dedicou-se para aquele projeto novo e, ao concluir a sua peça, Jesus deu o seu aprovo e a peça foi encenada finalmente para o povo.

Ariano foi Quixote e lutou com alma pura contra a arte descartável. Ele vestiu a sua armadura: em qualquer dia do ano, eu digo: “Viva Ariano Suassuna, o padroeiro da cultura”.

Por Antônio Klévisson Viana

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