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Vereador Daniel Bertani abre o jogo após cassação e detona os colegas de Câmara

Para ele, sua saída foi uma armação política e Fábio Jorge, Cícero Landim e Vinícius Saudino foram frouxos porque disseram que não votariam para tirá-lo e depois não cumpriram o que defendiam

Em entrevista exclusiva ao PRIMEIRAFEIRA, o vereador cassado Daniel Bertani (Novo) não economizou palavras e nem revelações sobre o que viu nos mais de três anos em que esteve na Câmara de Vereadores. Ele criticou duramente alguns companheiros de plenário pela votação que acabou resultando na sua cassação e reforçou a certeza de que a sua saída foi uma decisão política.

Bertani acredita que pode retornar ao Legislativo ainda este ano, lamentou como o ocorrido o prejudicou pessoal e profissionalmente e falou sobre o lado da política que poucos conhecem da forma de atuar dos vereadores e do jogo político que está nos bastidores, uma situação que o surpreendeu, segundo ele, desde o primeiro dia depois de eleito quando começou a conviver com esse novo mundo.

O vereador foi cassado por unanimidade pelos colegas em uma sessão tumultuada na terça-feira (11). Ele foi acusado de importunação sexual e quebra de decoro parlamentar. No dia 5 de março ao passar por um corredor estreito que dá acesso ao plenário da Câmara, ele tocou de costas com as nádegas nas partes íntimas de uma assessora do presidente da Câmara.

Mais tarde, no dia 28 de março, a assessora o denunciou na polícia e fez o registro de um boletim de ocorrência. O Podemos, então partido do vereador na data dos fatos, também pediu a cassação por quebra de decoro parlamentar. Com a decisão, ele perdeu o mandato atual e ficará inelegível pelos próximos oito anos.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

Qual é o sentimento que fica para o senhor de deixar a Câmara de Vereadores da forma como ocorreu?

Daniel Bertani – Minha família tem 120 anos de história na cidade e nunca teve qualquer problema desse tipo. Mas agora estamos tendo de lidar com isso, porque a política não é para amadores. Eu nunca gastei tanto dinheiro com advogado e com tudo o que estou tendo de gastar. Felizmente é um dinheiro que eu tinha, só que também acabou. Se tentaram acabar comigo financeiramente e destruir minha reputação, conseguiram.

O senhor acredita que pode retornar ao Legislativo em 2024?

Daniel Bertani – Vou judicializar e, se conseguir voltar, ótimo. Senão, espero esses oito anos e volto depois. O que querem é que eu saia da política. Mas não vou sair. Se eu voltar, essa eleição eu não disputo. Mas a próxima com certeza. O que eu tinha de fazer para Salto como vereador, eu já fiz. Agora, tenho de lutar contra um sistema maior.

Se retornar, como acredita que será o clima na Câmara?

Daniel Bertani – O que eles queriam, conseguiram, que era derrubar minha credibilidade. O clima não vai ser bom, infelizmente. E isso é ruim para a cidade. Mas é o que temos para o momento. Uma Câmara rachada.

A situação poderia ser diferente se se tratasse de outra época ou de outro político que não o senhor?

Daniel Bertani – Seria bem diferente se não fosse um ano eleitoral e se vivêssemos em mundo diferente. Hoje as pessoas julgam sem saber. Não tiro a razão de quem julga por um fato apenas, mas acho que temos muitos advogados de Facebook. Eu falei muitas coisas e mexi em calos de muitas pessoas, algumas delas acabaram até virando as costas para mim, porque falei o que achei que deveria ter sido falado. Mas não me arrependo. Eu falo e faço o que sinto e o que realmente acho ser correto.

O senhor se sente injustiçado pela forma como foi cassado?

Daniel Bertani – Isso é a Justiça quem vai ver. Injustiçado é uma palavra que botaremos à prova agora, mas eu senti que os vereadores foram frouxos. Vereadores que falaram para mim que não era caso de cassação, como Fábio Jorge (União Brasil), Cícero Landim (União Brasil), Vinícius Saudino (PSD), na hora foram frouxos. E isso eu falei para eles. A celeuma se deu porque não pedi desculpa. Mas como vou pedir desculpa se, de minha parte, não teve dolo? Eu não tive intenção de algo sexual ou de qualquer coisa. Não tive intenção de nada. Mas a pressa de querer me caçar fez com que pulassem alguns pontos e é nisso que minha defesa vai se pautar. Logicamente que foi um ato político e estou tentando resolver judicialmente por conta dessas falhas. A parte criminal, que pouco falo, e algumas coisas até estou guardando para o processo, tudo isso vai ser uma guerra que vou travar. Não foi questão de um ato, mas ela (a assessora que o acusou de importunação sexual) alega um assédio de um ano e meio. Isso que parecem não ter entendido.

O que teria motivado o entrevero entre o senhor e o presidente da Câmara, Edival Pereira Rosa, que o senhor alega existir?

Daniel Bertani – O entrevero entre mim e o vereador Edival, o Preto) começou aqui (no PRIMEIRAFEIRA), quando ele não quis fazer uma entrevista porque ele não tem argumentos para fazer isso sozinho. Precisa de um assessor do lado. Nisso eu comecei a falar e começou todo o perereco. Eu acabei não tomando as precauções que deveriam ter sido tomado e isso serviu de aprendizado para mim.

Esses três anos e meio em que o senhor esteve no Legislativo mudou a forma de o senhor ver a política?

Daniel Bertani – Mudou a forma de ver a política logo que ganhei a eleição. Começou um assédio de partidos e deputados que entraram em contato pedindo para fazer campanha para 2022. No primeiro dia, logo quando entrei e fomos fazer a votação para presidente, o Kiel peitou o presidente Preto no corredor, olhando e falando que ele era um canalha, um traíra, por uma suposta mudança de voto. Aquilo me abalou. Eu pensei: “Puta merda, o que falavam era verdade”. Caguei na calça. Até cheguei a avaliar se era mesmo aquilo que eu queria ou não. O (Antônio) Cordeiro me puxou, falou que era normal e que nada aconteceria. Mas nunca sofri ameaça de ninguém.

O fato de ir contra o “sistema” como o senhor disse corroborou para essa perseguição ao seu mandato de vereador?

Daniel Bertani – Com certeza. A partir do momento que me desfiliei do Podemos e comecei a fazer um grupo, acabou. Vimos uma união de dois grupos para tentar me derrubar.

O senhor acha que a política está tomando um rumo perigoso?

Daniel Bertani – Vimos um ex-presidiário sendo eleito democraticamente e temos de respeitar. Mas isso abriu uma brecha enorme para mostrar que o crime compensa. A luta partidária é muito pior. É um problema lá de cima. Essa movimentação partidária é mais nojenta e pior que as falácias entre os vereadores.

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