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Mudanças no ensino médio será mais um desafio para a Educação

Aprovado pela Câmara dos Deputados em 9 de julho, o texto da lei que define a reforma do novo ensino médio aguarda a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ter a aplicação das mudanças já para o ano de 2025, que serão válidas para os novos alunos.

O projeto deve substituir o texto aprovado em 2022 que deixou descontente profissionais da educação. Entre as mudanças, chama atenção a carga horária que volta a ser de 2,4 mil horas, 600 horas a mais que o atual modelo, com uma carga horária de formações opcionais.

Uma das principais discussões no novo texto, que foi rejeitada na Câmara foi a retirada da obrigatoriedade do ensino da língua espanhola na formação básica. O texto que seguiu para a aprovação conta apenas com a língua inglesa na formação.

E para falar sobre todas essas, o PRIMEIRAFEIRA conversou com Lucelaine Zampolin, pedagoga e docente do curso de Pedagogia do Centro Universitário Max Planck (UniMAX Indaiatuba).

Como vê as mudanças no novo Ensino Médio e qual considera mais importante desde as mudanças aplicadas em 2022?

Lucelaine Zampolin: As mudanças no novo Ensino Médio, introduzidas a partir de 2022, nasceram com o objetivo de tornar a educação mais flexível e alinhada com as necessidades dos alunos. Em especial, as mudanças agora propostas têm pontos importantes a se destacar como a introdução de quatro itinerários formativos: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Com isso haverá uma maior flexibilidade para os alunos escolherem áreas de interesse. Além disso, o aumento da carga horária mínima anual de 800 para 1.000 horas possibilitará que metade do currículo seja composto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a outra metade por itinerários formativos escolhidos pelos alunos.

Essas mudanças representam um avanço ou um retrocesso para a Educação?

Lucelaine Zampolin: É bastante delicado adotar uma postura unilateral nessa avaliação. A personalização do ensino, por exemplo, permite que os alunos foquem em áreas de seu real interesse, o que pode aumentar a motivação e engajamento. Por outro lado, escolas com menos recursos podem ter dificuldade em oferecer a mesma variedade e qualidade de itinerários formativos. Além disso, faz-se necessária a formação dos professores para o trabalho em um modelo tão diversificado e flexível.

O que deve/pode mudar com a criação dos itinerários formativos das disciplinas opcionais?

Lucelaine Zampolin: A diversidade de conhecimento poderá enriquecer a formação do aluno com disciplinas que antes não eram contempladas no currículo tradicional. Mas, ainda aqui, cabe ressaltar o enorme desafio de implementação, uma vez que esse formato requer uma infraestrutura adequada, professores capacitados e uma gestão engajada para que os itinerários funcionem bem.

O quão prejudicial é a retirada da língua espanhola na grade curricular para a formação dos alunos atualmente?

Lucelaine Zampolin: Vivemos em um mundo a cada dia mais globalizado. Assim como a língua inglesa, também o espanhol tem imensa relevância, principalmente na América Latina. A ausência do espanhol pode ser vista como uma limitação, fazendo com que os alunos percam oportunidades de integração regional e, inclusive, no mercado de trabalho que tanto valoriza o bilinguismo.

Por que professores e profissionais tiveram certa rejeição com essas mudanças? Elas não seriam viáveis?

Lucelaine Zampolin: É difícil, e até bastante injusto, responder por toda uma categoria de profissionais, mas há que se lembrar que “na prática, a teoria é outra”. São esses os profissionais que enfrentarão as dificuldades lá na sala de aula, no pátio da escola. A proposta de mudanças curriculares deveria estar associada ao suporte logístico e estrutural necessário, mas, na maioria das vezes, essa não é a realidade vivida por quem faz a Educação nas instituições públicas de ensino.

Os professores, em sua maioria, estão preparados para as mudanças?

Lucelaine Zampolin: Em todas as áreas profissionais o investimento em formação contínua e suporte é fundamental ao sucesso dos processos. O mundo muda o tempo todo e, com isso, os profissionais precisam de acesso à formação para ajustar suas práticas às novas realidades. Na área da Educação isso é visto em todos os níveis de ensino. Se nos lembramos das aulas no período da pandemia de Covid-19, professores e sistemas tiveram o desafio de se reinventar para se relacionar com os alunos através das telas. Com o retorno gradual, professores alfabetizadores tiveram que ensinar fonemas utilizando máscaras que cobriam sua boca, ferramenta essencial nesse processo educativo. O ser humano nunca está plenamente preparado para todas as mudanças, mas nos reinventamos e isso nos define.

As mudanças na grade curricular podem controlar os níveis de evasão?

Lucelaine Zampolin: A personalização do ensino pode contribuir para a redução da evasão ao tornar o aprendizado mais relevante para os alunos, mas esse não é o único elemento que impacta nesse problema. Outros fatores como a situação socioeconômica dos alunos, acesso e permanência e realidade familiar também influenciam a evasão escolar.

É possível aplicar as mudanças até o início do ano letivo de 2025, conforme prevê o projeto?

Lucelaine Zampolin: Implementar todas as mudanças até 2025 é um desafio, especialmente para as escolas com menos recursos. É fundamental um planejamento bem estruturado e suporte contínuo para que a transição ocorra de forma eficaz.

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