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Treinador aposta em experiência e capacitação para chegar ao futebol profissional

Ele jogou junto de Robinho e Domingos no Santos; foi contemporâneo do lateral Kléber, no Corinthians; e chegou treinar com o volante Capitão, um dos grandes ídolos da Portuguesa. Apesar da passagem pela base de grandes clubes, a carreira de Luiz Eduardo dos Santos não decolou por conta de uma lesão no tornozelo.

Segundo ele, a decisão de parar foi fácil. Mas, sua história junto aos campos estava longe de terminar. Com a experiência adquirida ao lado de nomes como Fábio Carrile (atual técnico do Santos), Dorival Júnior (treinador da Seleção Brasileira) e Jair Ventura (treinador do Juventude-RS), o treinador de 39 anos almeja estar, em breve, no mais alto nível do futebol, representando a cidade de Salto, a qual adotou como casa.

Para isso, Eduardo se capacitou com os cursos obrigatórios para qualquer treinador no Brasil, uma experiência que considerou essencial, não apenas para treinadores, mas para qualquer profissional do futebol.

Confira a entrevista completa.

Você passou pela base de grandes clubes brasileiros. Como foi esse período?

Joguei no Corinthians durante praticamente três anos (entre 1998 e 2000). Fiquei um ano e meio, saí e depois voltei, quando na época ainda era o terrão; fui para o Santos e depois para a Portuguesa. No Corinthians, um pouco mais velho que eu, tinham o Kléber (lateral esquerdo), o Rubinho (goleiro); no Santos joguei com Robinho (atacante), que já era um grande destaque, com o Domingos (zagueiro), que já era um jogador bastante robusto com 15 anos; e na Portuguesa cheguei a fazer alguns treinos com o Capitão (volante), no time principal. Foi nessa época da Portuguesa que rompi o ligamento do tornozelo. Eu já estava na faculdade e com 20 anos abri minha primeira academia, foi quando resolvi parar com o futebol e tocar minha vida de empresário e treinador.

É realmente difícil a decisão de parar de jogar?

Hoje em dia mudou muito. Para quem decide parar tem várias outras oportunidades dentro do futebol. O mercado do futebol é muito grande, bastante diferente do que era na minha época. Mas, é aquilo. Tem muitos times, mas sabemos que um momento começa a afunilar. O atleta precisa decidir se vai seguir tentando, muitas vezes em times menores, as vezes sem receber e precisando sustentar a família; ou se para. Hoje em dia, há muitos atletas que tem oportunidades no exterior de jogar e também de estudar. Não falo que é mais fácil, mas são mais oportunidades.

E quando decidiu iniciar a carreira de treinador?

Eu tive um empresário que ainda quando eu jogava tentou me levar para a Europa e algum tempo depois, falando sobre carreira de treinador ele me chamou para fazer as licenças de treinador na Europa. Naquela época esse tipo de licença ainda não tinha no Brasil. Não deu certo naquele momento, mas um ano depois, entrei na segunda turma do curso de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Hoje estou na licença Pro (que credencia a treinar equipes profissionais).

Qual a importância desses cursos, além da obrigatoriedade para comandar uma equipe?

Essas licenças abrem muitas portas porque você tem um network imenso. Na minha turma estavam nomes como Renato Gaúcho (treinador do Grêmio), Dorival Júnior (treinador da seleção brasileira), Lisca Doido (técnico do América-MG), Gilson Kleina (treinador do Cascavel-PR), Alexandre Gallo (coordenador técnico do Santos)…era muita gente boa. E conviver 15 dias seguidos com cada um faz você aprender muito mais do que talvez o próprio curso.

Além de treinadores, outras pessoas envolvidas com o futebol também deveriam ter essa obrigatoriedade?

Acho que os coordenadores de base também deveriam ser capacitados. E tem curso para isso, mas é opcional. Para quem quer trabalhar com futebol é preciso ser capacitado. Um médico tem de ser especializado em medicina esportiva. Não é colocar um clínico para ser ortopedista. Tenho amigos que moram na Indonésia e um preparador de goleiros por lá precisa ter o curso de preparador de goleiro e de treinador. Porque ele precisa inserir o goleiro no trabalho tático. E isso vale também para os jornalistas. A CBF poderia fazer um curso para que o jornalista possa olhar tudo o que aprendemos. Infelizmente criticam um treinador sem saber o motivo, sem saber o que aconteceu nos treinamentos, durante a semana…

Você também fez estágio com treinadores renomados. Qual a importância dessa experiência para sua carreira?

Tive uma experiência fantástica com o Carrile no Corinthians. Eu precisava fazer um estágio de algumas horas e fiquei meses com ele, acompanhando treinos, reuniões com a comissão e diretoria, perguntava muito sobre o porquê fazia isso ou aquilo. Ele me ensinou muito da parte defensiva, o que eu considero essencial. Também tive a experiência de acompanhar o Dorival (Júnior), que pra mim é meu grande ídolo. Ver ele lidando com os jovens é algo fantástico. Ele ensina, ele está ali mostrando para os meninos. Como gestor de grupo é fantástico.

Existe o preconceito com os treinadores que não atuaram profissionalmente?

Hoje em dia as licenças são obrigatórias e muitas comissões são mescladas. Tem ex-jogadores que foram campeões mundiais, tentaram como treinadores e não deram certo. Acho que a grande questão do futebol é se capacitar e ter a sorte de estar na hora certa, no lugar certa e tomar a decisão na hora certa.

Você acha que o futebol brasileiro dá poucas oportunidades aos mais novos?

É preciso estar preparado. Preparado para gerir pessoas; saber o que se passa em cada setor para te ajudar no trabalho; mas infelizmente alguns treinadores acabam ficando rotulados, mesmo após mudarem o comportamento. Futebol é midiático e resultadista. O Carrile era auxiliar do Tite no Corinthians e estava no lugar certo e na hora certa; deu sorte de pegar um time estruturado; colocou as ideias dele e foi campeão. Mas um ou dois anos depois foi mandado embora. Eu gosto muito de tênis e o Roger Federer disse que a última raquete que ele quebrou por não ganhar foi com 19 anos. A partir do momento que ele colocou na cabeça que é normal perder e que ele precisa melhorar, ele virou o melhor de todos.

O quanto evoluiu o futebol de base no Brasil, da sua época para hoje?

No interior, a estrutura dos clubes ainda está abaixo do ideal, mas os clubes grandes possuem megaestrutura com profissionais como fisiologista, nutricionista, psicólogo etc. Mas, num geral, melhorou muito. Infelizmente há muita coisa amadora no Brasil ainda, com pessoas amadoras que ainda permanecem em cargos com apoio de diretorias que possam dar preferências para algumas coisas que não são legais.

Por que muitos jovens começam no futebol já pensando em jogar no exterior?

O dinheiro faz muita diferença. Aqui no Brasil a competição é absurda. Num outro país periférico ele é diferente e pode fazer uma ponte para um time maior. Aqui ele pode até ser diferente, mas tem outros tantos diferentes ao seu lado. Quando vai num mercado menor, ele vai estourar. E hoje, com a facilidade na comunicação, ele pode vai ganhar dez vezes mais, pode dar uma estrutura para a família e também pensar que a carreira dele pode durar apenas três ou quatro anos. E para os clubes também pode ser um negócio bacana, já que são muitos talentos que as vezes se perdem. Você vê moleque que foi camisa 10 do Corinthians em duas ou três copinhas e não teve espaço no profissional. São escolhas que as vezes dá certo, mas outras vezes dá errado.

Seu objetivo é ser treinador de futebol profissional ou quer permanecer na base?

Eu gosto da base, de trabalhar e podem ensinar os atletas mais jovens. Ao mesmo tempo, eu gosto da competição do profissional, que tem uma cobrança diferente. Seja na base ou no profissional, o importante é o projeto. Não adianta chegar num lugar que não te dá estrutura. Eu gosto do futebol.

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