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Saltenses apontam os desafios para que a cidade de Salto siga crescendo

A cidade de Salto completa, no dia 16 de junho, 327 anos de história e tradição. A data marca mais do que um aniversário: é um momento de reflexão sobre o caminho já percorrido e, principalmente, sobre os passos que ainda precisam ser dados para que o município continue crescendo em seus mais diversos setores.Em meio às comemorações, diversos saltenses atuantes em diferentes áreas compartilham suas visões sobre os principais desafios e oportunidades que moldarão o futuro da cidade.

Vinicius Ferreira – Artista e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais

“Vejo Salto como uma potência cultural, com artistas de grande talento, equipamentos públicos relevantes e pontos turísticos que também são manifestações culturais. O grande desafio é alavancar todo esse potencial artístico e cultural. Esse é um desafio não apenas da Secretaria de Cultura, mas também dos próprios artistas e produtores. Passamos por uma fase de pandemia, depois enfrentamos um período de ingerência na Secretaria de Cultura e, agora, vivemos um momento em que é preciso impulsionar os talentos que já atuam e também aqueles que ainda estão por vir.”

Ivan Valini – Jornalista e incentivador do esporte local

“Nossa cidade tem tudo para ser uma potência esportiva. O nível dos atletas, em diversas modalidades, é altíssimo. O problema é que não temos pessoas qualificadas e verdadeiramente interessadas em ver o esporte da cidade progredir. Salto tem muitas pessoas que gostam de esporte, mas não entendem de esporte — o que faz toda a diferença. É como gostar de comida, mas não saber cozinhar.

Atualmente, o que prevalece em nossa cidade é o egocentrismo: pessoas que só olham para o próprio umbigo e ignoram o coletivo. O reflexo disso pode ser visto em diversas modalidades, infelizmente. Enquanto o esporte saltense continuar sendo conduzido por pessoas incompetentes — e, pior ainda, mal-intencionadas —, jamais alcançará destaque.

As pessoas precisam entender que o esporte, antes de tudo, forma cidadãos, melhora a qualidade de vida, promove saúde física e mental, e não pode, nem deve, ser tratado de qualquer jeito. É essencial compreender que regulamentos precisam ser respeitados, e que procurar “jeitinhos” para burlar regras não é papel de gente séria e honesta. Enquanto isso não mudar, nada vai evoluir.”

Francisco Moschini – Ambientalista

O ambientalista Francisco Moschini aponta como principal desafio a ser enfrentado em Salto a questão da água — um tema que, segundo ele, deve estar no centro das prioridades dos gestores públicos.

“A capacidade de abastecimento de água da cidade é limitada. Nas últimas décadas, Salto se expandiu sem planejamento adequado. As áreas habitacionais avançaram em todas as direções, mas a água continua sendo a mesma, e a rede de distribuição precisa ser renovada. Ainda temos encanamentos, talvez até da época em que se usavam tubos de ferro”, afirma.

Segundo Moschini, os problemas hídricos, tanto no abastecimento quanto no tratamento, se agravam a cada ano devido à expansão urbana. “Além disso, as mudanças climáticas têm provocado longos períodos de estiagem. Todas as nossas fontes de água vêm de rios ou ribeirões que não nascem em Salto — ou seja, não temos fonte própria”, completa.

Por outro lado, ele destaca aspectos que lhe causam admiração: “Para mim, o que valoriza o município são os três parques — Parque da Rocha Moutonnée, Parque do Lago e Parque das Lavras — e outros locais como a Ponte Estaiada, a Ponte Pênsil e a Ilha da Usina. Além disso, destaco a qualidade das escolas. Como professor aposentado de Ciências Físicas e Biológicas, posso dizer com segurança que o nível de ensino dos nossos CEMUS é muito bom.”

Professora Mestre Bianca ZanoniFaião Benetti – Arquiteta e urbanista

Para a professora Bianca Zanoni, a precária estrutura de mobilidade urbana impacta diretamente a vida de todos os moradores de Salto, afetando sua rotina diária. Ela ressalta a necessidade de uma boa estrutura de transporte público e também de acessibilidade para o transporte privado — incluindo, nesse contexto, a locomoção de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais, que carecem de maior atenção.

“A infraestrutura necessária para essas adequações exige um planejamento urbano integrado, sustentado por políticas públicas capazes de organizar o território. É preciso responder à demanda gerada pela especulação imobiliária, que induz o crescimento nas franjas do município. Os limites urbanos não podem mais atender apenas aos centros e suas expansões diretas”, explica.

Bianca destaca ainda que o crescimento urbano não deve ser feito de maneira descontínua ou isolada, pois isso gera maior dificuldade ao poder público no fornecimento de serviços básicos, como abastecimento de água, saneamento e transporte público regular.

Ela também aponta um motivo de orgulho para Salto: “A antiga Brasital, importante fábrica de tecidos de algodão, teve papel relevante no desenvolvimento industrial regional. Hoje, requalificada e localizada próxima ao centro da cidade, abriga um centro universitário de grande importância, mantendo as características da arquitetura industrial original.”

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