A recente contratação da empresa Água Forte Saneamento Ambiental pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto, o Saae, por R$ 1,8 milhão, levanta importantes questões sobre transparência, eficiência e integridade na administração pública. O termo de homologação do contrato, publicado no Diário Oficial no último sábado, despertou atenção e preocupação, especialmente à luz do histórico da empresa e das circunstâncias da sua seleção.
Como se sabe, em 2019, a Água Forte esteve envolvida em uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o Gaeco, durante a Operação Sevandija. Na época, a empresa foi contratada pelo grupo Aegea, sendo acusada de fraudar uma concorrência pública em Ribeirão Preto. Esse histórico controverso coloca em xeque a confiança na idoneidade da empresa e levanta dúvidas sobre se a escolha da autarquia foi o melhor.
O Saae justificou a contratação pela urgência de retornar à leitura convencional dos hidrômetros, em vez da média de consumo, adotada excepcionalmente na última conta. Segundo a autarquia, um concurso público para contratar novos leituristas levaria mais tempo e poderia prejudicar os serviços e a população. Argumentou ainda que a contratação foi embasada pelo corpo técnico, administrativo e jurídico do Saae e que a Água Forte tinha preço menor: R$ 2,80 por leitura, contra R$ 4,17 e R$ 5,02 de concorrentes.
Apesar dessas justificativas, é necessário questionar se o menor preço é suficiente para justificar a escolha de uma empresa com um histórico questionável. O Saae tenta reforçar quanto a isso que o valor mensal que pagará de R$ 155.302,00 cobre os serviços dos dez leituristas e o fornecimento e suporte técnico do software de leitura, os smartphones utilizados, as bobinas e máquinas de impressão das contas, além de outras atuações, como identificação de fraudes e inconsistências cadastrais. Mas ainda assim é caro.
É importante reconhecer que a eficiência e a economia são objetivos válidos na administração pública. No entanto, essas metas não podem ser alcançadas à custa da transparência e da integridade. A presença de uma empresa com histórico duvidoso em um contrato público deve ser motivo de preocupação pela possibilidade de se repetirem irregularidades e também pelo impacto na confiança da população na gestão pública, o que é fundamental.
É bom que se diga que a administração pública deve ser pautada por critérios de eficiência, economicidade e, sobretudo, de ética e de transparência. A população de Salto merece que a gestão priorize esses valores e que escolha seus fornecedores com base no preço sim, mas também na reputação e na capacidade de entregar serviços de qualidade. A contratação da Água Forte, dada sua história, é um exemplo que não deve ser seguido.