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A inflação, a guerra e a indústria

Olá, amigo leitor, seguimos aqui com mais um bate papo. Nesse mundo complexo e dinâmico a cada momento temos um novo evento de grandes repercussões como agora, em que, além da invasão russa à Ucrânia, temos um novo conflito envolvendo Israel e os palestinos. Opiniões e ideologias a parte, esses conflitos pressionam o petróleo para cima e, como tudo o que consumimos precisa de energia e derivados de petróleo, temos aí mais um fator que pressiona os preços para cima e o impacto na economia será percebido em breve.
Para os brasileiros isso é percebido em maior intensidade uma vez que nossa economia vivencia desde o começo dos anos 1990 um processo de desindustrialização e seguimos migrando para uma economia voltada em commodities como mineração, agronegócio e serviços, na qual a política de remuneração é diferente dos empregos gerados na Indústria. Há uma discussão entre os economistas em relação ao quanto a indústria é importante para uma economia e logo abaixo vou listar alguns fatores que sugerem que é essencial e necessário que a política econômica brasileira volte o foco para a criação de um ambiente favorável à reindustrialização da economia.
A riqueza gerada pelo agronegócio é alta e, hoje, com as novas tecnologias e processos, demandam menos capital humano. As posições mais bem remuneradas, no geral, ficam longe dos grandes centros urbanos, enquanto uma indústria demanda proporcionalmente maior quantidade de capital humano e, para cada emprego gerado, de acordo com a sua atividade, repercute na geração de mais empregos indiretos. Por exemplo: na indústria de bens de consumo de alto valor agregado, como a indústria automotiva, há uma equação que mostra que para cada emprego direto gerado em uma montadora, outros 100 empregos indiretos são gerados. Isso dentro de toda a cadeia do processo que começa com a fabricação dos componentes, como a logística necessária para fazer com que esses componentes cheguem as linhas de montagem; distribuição para a atividade comercial; marketing e vendas; pós-vendas; serviços de manutenção desses automóveis; além do consumo gerado por todos os colaboradores envolvidos nessa cadeia produtiva que se concentram em centros urbanos gerando riqueza perceptível aos olhos da sociedade.
Um segundo ponto a se ressaltar é que não há país que enriqueceu com sua economia baseada somente em mineração e agronegócio. As principais economias do globo vivenciaram um processo de forte industrialização e mesmo com suas economias evoluídas e em um processo de migração de uma base econômica industrial para uma economia mais focada em serviços, ainda preservam uma base industrial forte e diversificada, o que infelizmente não é o caso do Brasil, que não teve tempo de enriquecer com a sua indústria e segue a passos largos para um processo de simplificação da sua atividade econômica. Isso gera impacto com salários médios menores e crescente degradação do poder de compra e capacidade de consumo das famílias brasileiras.
Politicamente falando, não é possível atribuir a culpa desse processo a um único político ou partido, uma vez que esse processo vem acontecendo há décadas e alguns dos caminhos que podem ajudar a mudar esse cenário não são apenas incentivos fiscais como os programas de diversos governos já se mostraram ineficazes, justamente por sua descontinuação e insegurança jurídica gerada.
Nesse caso, basicamente três pontos deveriam servir de base para incentivar o desenvolvimento de nossa matriz industrial: reforma séria e consistente do nosso sistema tributário; simplificação dos processos aduaneiros dos quais ninguém fala a respeito; e investimento pesado nos programas de pesquisa e desenvolvimento fomentando a educação direcionada. Nesse último caso, o principal exemplo são os cursos voltados para a indústria e o financiamento de bolsas de estudos que incentivem o pesquisador brasileiro ficar no país.
Há muitos caminhos pelos quais a nossa economia poderia se desenvolver consistentemente, gerando riqueza e qualidade de vida e não desconsiderando a sua relevância, mas somente o agronegócio e a mineração não servem como base para a nossa necessidade e realidade econômica.
Vida longa e próspera.

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