Afirmação revela a possível motivação para os crimes, que envolveriam divergências em escalas do atirador e da esposa, também PM, mas a investigação ainda não chegou a conclusões
O advogado Rogério Augusto Dini Duarte, defensor do sargento da Polícia Militar Cláudio Henrique Frare Gouveia, de 53 anos, que matou com tiros de fuzil dois colegas de farda, um deles o comandante da 3ª Companhia da PM em Salto, na segunda-feira (15), disse que seu cliente era perseguido dentro da unidade.
Ele contou que o sargento tinha divergências com o capitão Josias Justi da Conceição, de 39 anos, um dos mortos (o outro foi o também sargento Roberto Aparecido da Silva, de 52), por causa da escala de trabalho dele e da esposa, também PM, já que o casal tem filhos pequenos e não podia trabalhar no mesmo horário. A PM chegou a recolher a arma da esposa na sexta-feira (12), segundo ele.
A informação esclarece uma possível motivação para os crimes, mas não foi confirmada ainda pela investigação, que não chegou a conclusões até o momento. Na cidade fala-se em várias outras razões, mas o esclarecimento virá do próprio atirador e das testemunhas que estão sendo ouvidos.
Rogério Augusto Dini Duarte revelou ainda outro detalhe que até agora não havia sido mencionado: ele disse que havia mais uma pessoa na sala do capitão no momento do ataque. O sargento Cláudio Henrique Frare Gouveia pediu a essa pessoa que deixasse o local antes de atirar, porque o seu problema era com os outros dois.
Algumas informações que circulam pela cidade dão conta de que o atirador teria feito 13 disparos contra o capitão e o sargento, mas não se sabe oficialmente ainda quantos tiros foram disparados e nem quantos atingiram cada uma das vítimas.
Os corpos do capitão e do sargento foram enterrados na terça-feira (16) na cidade de Sorocaba com honras militares e com a presença do secretário de Estado da Segurança Pública, Guilherme Derrite, de quem o capitão foi colega de turma na formação militar.
A versão para os crimes, divulgada pela PM, é de que o atirador chegou à sede da PM por volta de 9h da segunda-feira com o fuzil na mão. Disse que fazia um treinamento e mandou que todos que estavam próximo à porta da entrada saíssem. Em seguida, trancou essa porta e se dirigiu até a sala do capitão, mais ao fundo, onde estava ainda o também sargento que foi morto com o capitão.
O relato do advogado de defesa e da PM batem sobre a sequência, segundo a qual, logo após os disparos, o atirador se entregou e permaneceu detido na sede da 3ª Companhia. Seu advogado disse que ele permaneceu em silêncio todo o tempo, tendo conversado apenas com ele, advogado, que foi chamado ao local.
Na madrugada de terça-feira, o atirador foi transferido para o presídio militar Romão Gomes, na capital paulista, que abriga PMs detidos por suspeita de crimes. Lá, ele aguarda a audiência de custódia. Essa audiência já teve dois adiamentos. Deveria acontecer na terça e na quarta-feira.
Na terça, a informação é de que o atirador teria passado mal, pois estava sem comer desde os crimes e precisou ser levado ao hospital. Já na quarta-feira, ele teria sido mais uma vez medicado e não estava em condições de participar, segundo constatou e informou o Tribunal de Justiça Militar.
O atirador continua sob cuidados médicos e aguarda alta hospitalar. A nova audiência foi marcada para segunda-feira (22).
A Secretaria de Estado da Segurança Pública e a Prefeitura de Salto emitiram notas de pesar. A secretaria informou que a corregedoria da corporação acompanha a investigação para esclarecer o caso. O Executivo saltense declarou luto oficial de três dias no município.
A Polícia Militar foi procurada pela reportagem do PRIMEIRAFEIRA para dar mais detalhes da apuração, mas até o encerramento desta edição não havia respondido aos questionamentos.
Conheça mais sobre as vítimas e o atirador
O capitão Josias Justi da Conceição tinha 39 anos e era comandante da 3ª Companhia da Polícia Militar de Salto desde maio de 2020.
Em 2014, ele foi comandante do Posto de Bombeiros de Salto, mas ainda como tenente. Após um tempo se mudou para Sorocaba. Quando recebeu a promoção para capitão, retornou para Salto a fim de comandar a unidade.
Josias se formou em engenharia civil pela Facens e morava com a família em Sorocaba. Era casado e tinha dois filhos pequenos, de três e quatro anos.
Já o sargento Roberto Aparecido da Silva tinha 52 anos e atuava como PM há mais de 20 anos. Ele era casado e tinha três filhos, de 29 anos, 18 e 15.
O sargento Claudio Henrique Frare Gouveia, de 53 anos, o atirador, estava na PM havia 32 anos e há dez em Salto. Também é casado e tem três filhos pequenos, um deles de oito meses.
Ele foi descrito como um homem calmo, educado, respeitoso e, principalmente, gentil, em uma reportagem da BBC Brasil News.
A reportagem foi sobre uma entrevista que deu um mês antes dos crimes para falar de aulas de patinação que dava a alunos de uma associação em Salto.
Veja qual o efeito que causa um tiro de fuzil
Os dois policiais militares foram mortos após tiros de fuzil. Embora a Secretaria de Estado de Segurança Pública não tenha divulgado qual o modelo utilizado no assassinato dos policiais, essas armas são utilizadas geralmente para tiros de longa distância, sendo praticamente impossível sobreviver a um tiro desse tipo de arma.
Informações do site do governo federal apontam que o modelo utilizado pela Polícia Militar de São Paulo é o mesmo utilizado por outras policiais militares do país e pelo Exército Brasileiro: o fuzil IA2 5,56mm. Ele tem um alcance de até 600 metros e essas armas são utilizados por equipes especiais das polícias Civil e Militar, em ações específicas, sobretudo no combate ao crime organizado para o combate de roubo de cargas e tráfico de drogas, por exemplo.