Algumas pessoas diziam que Carmelo tinha problemas com bebidas, mas ele mesmo afirmava que o seu único problema era estar sóbrio.
Ele se considerava um bêbado socialista. Mais do que isso: um bêbado social.
Ele dizia que a única felicidade dele era a bebida. Muitas vezes nada mais importava.
Ele se perguntava:
Por que me preocupar, quando ninguém mais se importa comigo? É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduzia a isso: eis o único problema para os outros.
Não posso dizer que um bêbado é mais feliz do que um sóbrio?, afirmava. – Mas também não sei por que eles dizem que estou indo no caminho errado. A esses eu só poderei dizer: saiam do meu caminho, que eu acerto os meus passos.
Certa manhã, Carmelo estava em frente à Igreja falando alto e desviando a atenção dos fiéis que estavam chegando para a missa das 10h.
O padre Getúlio, que era um velho amigo e conselheiro de Carmelo, quando ouviu aquele falatório alto foi até a porta da igreja para ver o que estava acontecendo e foi quando se deparou com Carmelo naquele estado de embriaguez.
Carmelo, disse o padre: – Meu amigo, hoje você exagerou na cachaça. Pega a sua bicicleta e vai embora para sua casa. Você vai acabar atrapalhando a minha missa, que já vai começar.
Carmelo concordou:
É, seu padre, o senhor está com a razão. Vou mesmo embora para casa, porque hoje passei da conta.
Pegou sua bicicleta e, quando estava saindo, o padre lhe abençoou:
Vai com Deus, vai com a Virgem Maria, que Santo Antônio, São José e São João Batista lhe acompanhem também.
Carmelo andou alguns metros e levou um grande tombo.
Levantou puto da vida e resmungou:
Eu sabia que isso não ia dar certo seu padre. É muita gente para eu levar na minha garupa…