Tendo como uma das principais bandeiras a causa autista, deputada quer ampliar número de centros de referência
Primeira mulher eleita deputada estadual em Indaiatuba, Clarice Ganem dará continuidade ao trabalho iniciado por seu filho, Bruno Ganem, que deixará a Assembleia Legislativa para assumir o cargo no Congresso Nacional. Com 67 anos, ela inicia na política apostando na sua experiência de vida e no tempo de trabalho no serviço público. Nessa entrevista, concedida ao jornal PRIMEIRAFEIRA, ela fala de seus principais objetivos: ampliação de leis contra maus tratos a animais, defesa de pessoas com síndrome do espectro autista e também proporcionar melhor qualidade de vida aos idosos. Essa é a última entrevista da série realizada com os deputados eleitos pela região.
Sua eleição representa a continuidade do trabalho do Bruno Ganem?
Clarice Ganem: Com certeza. Inclusive ficarei com seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e com seus assessores. O intuito é continuar o trabalho do Bruno, já que fazemos parte do mesmo grupo.
O que representa para você iniciar na política, já ocupando o cargo de deputada?
Clarice Ganem: Sou deputada do maior parlamento da América Latina, então, a responsabilidade é muito grande. Acabei de fazer 67 anos e considero um desafio bem grande, sobretudo por ser iniciante na política, mas tenho a meu favor a experiência de vida. Mas eu gosto do que faço e acho que estou no lugar certo.
O que podemos esperar de seu primeiro trabalho na política?
Clarice Ganem: Espero que tenhamos um bom relacionamento para com o governador, que ele atenda nossas emendas. É um trabalho de todos, não apenas de governo, mas também da sociedade. Nós, políticos, fomos eleitos e temos os salários pagos pela população, é preciso devolver essa confiança. Meu filho costuma dizer que sou tão insistente que de tanto bater o pé o governador vai acabar acatando minhas sugestões.
Qual a importância de representar a classe feminina numa área que ainda tem os homens como maioria?
Clarice Ganem: É muito importante. Inclusive sou a primeira deputada eleita de Indaiatuba. Não adianta a população querer colocar uma vereadora, por exemplo, numa Câmara de Vereadores. Ela deve ter o interesse e depois, se eleita, confirmar esse interesse. É preciso ter vontade para trabalhar já que é um trabalho árduo. Se a mulher tiver interesse, ele terá capacidade para assumir qualquer cargo, mas primeiramente, depende dela, de querer trabalhar com a política. Seria muito bom ter mais mulheres na política, já que temos certa sensibilidade para algumas situações.
Uma de suas prioridades é o trabalho junto à causa autista. Como pretende desenvolver esse tema, agora como deputada?
Clarice Ganem: Antes de iniciar a campanha já havíamos entregado para o Secretário Estadual de Educação um abaixo assinado para desenvolver projetos voltados para a causa autista. Agora vamos ampliar essa campanha nas cidades, falando com os prefeitos. Pedimos a criação de centros de tratamento para o autista e também a capacitação de profissionais das escolas estaduais para cuidar. Hoje em dia as professoras ficam ‘doidas’ por que não sabem como lidar, porque não foram preparados para trabalhar com esses estudantes.
Para você, crianças autistas devem ter a educação juntamente com outras crianças sem o transtorno?
Clarice Ganem: A maioria dos pais não querem essa separação. Eles entendem que colocar a criança autista em uma escola apenas com autistas não o ensinará a viver em sociedade, então preferem que estudem nas escolas estaduais ou municipais. Entretanto, aqui em Salto, existe o Instituto Zoom, que faz um trabalho maravilhoso. Gostaria que tivesse um instituto como esse em todas as cidades. No Zoom, a criança é avaliada por psicólogos e pedagogos, que falam quando a criança está preparada para conviver com alunos sem autismo. Enquanto a criança não tiver essa socialização necessária, ela não vai, mas fica no instituto com acompanhamento, ensino e tratamento.
O Instituto Zoom pode ser vir de referência para a construção de novos centros para a causa?
Clarice Ganem: Com certeza o Instituto Zoom pode ser uma referência para outros institutos no Estado, até por que uma única entidade não consegue atender a todos. Mas, percebe-se o bom trabalho realizado quando há casos de pessoas que se mudaram para Salto para o tratamento. Se conseguíssemos implantar um instituto como o Zoom em cada cidade, ou cada região, seria maravilhoso. E seria melhor ainda se empresários colaborassem como aconteceu em Salto. Nós como deputados conseguimos mandar emendas, mas para isso, é preciso o projeto estar pronto, com toda documentação e registro necessário. As emendas são apenas o ‘up’ para dar início no projeto. Tendo uma estrutura, a coisa funciona.
Além da causa autista, você também é uma defensora da causa animal. Acredita que é possível a construção de hospitais veterinários públicos?
Clarice Ganem: Essa é uma campanha que já começou. Temos 130 hospitais-contêineres veterinários em construção. O triste é saber que tem prefeitura que não quer, não aceita, porque não quer bancar o funcionamento. Não adianta colocar um equipamento como esse, sem o apoio necessário.
Quais outras pautas pretende trabalhar como deputada?
Clarice Ganem: Já fui procura pelo grupo ‘Podemos Mulher’ para realizar um trabalho voltado para a violência contra a mulher. Infelizmente a mulher já conseguiu tanta independência, mas ainda existem muitos casos de mulheres vítimas de violência, não apenas física, mas com palavras. Em alguns casos, essas mulheres são dependentes dos companheiros e não sabem onde viverão, acabam não denunciando e se escondendo. Precisamos ter leis mais rígidas para isso e o governo dar amparo. Se elas não tiverem para onde correr, vão aceitar essas situações. Também pretendo realizar ações na saúde, segurança pública, enfim, e todos os problemas que a população nos indica.
Como vê a ‘fuga’ de pacientes da rede pública de saúde de Salto para Indaiatuba?
Clarice Ganem: É comum a população das cidades menores correr para Indaiatuba, apesar de nós que estamos no dia-a-dia, não acharmos a saúde cem por cento. Mas não é cem por cento porque também falta apoio do SUS. Estive no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher de Itatiba (Caismi) e no Gastrocentro, em Campinas, e vimos que muitos pacientes de Indaiatuba fogem para lá, para o tratamento oncológico e ainda assim chegam a ficar mais de 10 horas para receber o atendimento. Precisamos trabalhar para que exista um pouco mais de cuidado com a saúde em todas as cidades. Mas, nós deputados, podemos apenas mandar emendas.
Em relação às necessidades dos idosos, nas mais diversas frentes, como prioridades no atendimento, segurança, entre outros, o que pode ser feito?
Clarice Ganem: No dia que fui eleita já me pediram para auxiliar os idosos. Minha mãe tem 88 anos, minha sogra 86 e vejo as dificuldades que essas pessoas enfrentam. Acho que precisamos conseguir prioridades para várias faixas da população. Pretendo brigar por tudo isso, afinal entrei para a política para representar a população, que não tem acesso ao governador.
Como foi sua campanha em Salto?
Clarice Ganem: Eu fiz uma campanha muito virtual, mas acabei visitando algumas cidades. Em Salto, tive contato com uma veterinária, que também é protetora animal. Foi um primeiro contato bacana. A campanha também foi uma estratégia do Bruno para conseguir eleger tanto eu quanto o (Ricardo) França.
Qual recado pode deixar para a população saltense?
Clarice Ganem: Primeiramente gostaria de agradecer a população saltense pela votação e dizer que podem confiar em mim. Não sei de todos os problemas, mas conforme for conhecendo vou procurar atender naquilo que está em meu alcance. Precisamos ter uma política de boa vizinhança com todas as cidades, já que é através dos vereadores e dos prefeitos, que nos indicam as demandas para as emendas. A própria população pode nos procurar, já que não temos como saber de todos os problemas. Durante a campanha recebi muitas demandas que pretendo auxiliar.
Como começou na política?
Clarice Ganem: Eu comecei na política junto com o Bruno (Ganem), quando ele foi candidato a vereador em 2007. Eu trabalhava com ele na campanha, na prestação de contas, entrega de santinhos, sempre nos bastidores. Também fazia resgate de animais com ele a equipe. Até que no começo do ano de 2021, ele me convidou a ir para frente da política e eu pensei bem e disse: ‘Por que não?’. Acabei aceitando e abracei as duas principais pautas, sendo uma a causa animal. Mas, por conta de um projeto do próprio Bruno, contra a soltura de fogos de artifício com estampidos, comecei a perceber que não eram apenas os animais que sofriam com esses fogos. Tinha também criança, idoso, paciente de hospitais, mas principalmente o autista sofre com isso. Fiz abaixo assinado para essa proibição e acredito que foi aí que comecei minha campanha.
Quais seus objetivos políticos?
Clarice Ganem: Pretendo continuar na política. Gostei… Se der tudo certo, quero continuar após esses primeiros quatro anos de mandato. Quando você começa a trabalhar em certas causas, você não quer mais parar. Já fui voluntária em várias ONGs e agora terei a responsabilidade de ajudar ainda mais pessoas.