Em uma mesa redonda sobre o futuro do jornalismo, no final de março, o professor Henrique da Silva Pereira, do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, o Ceunsp, revelou que tem dois celulares e que os dois estão com todas as notificações ativas, porque ele não consegue ficar desconectado.
A revelação trouxe a público, por meio da pergunta de uma adolescente na plateia, uma preocupação que afeta 99% dos estudantes e dos jovens e gente de outras idades e outras atividades também: como desacelerar em um mundo cada vez mais frenético e cheio de informações de toda ordem, se mantendo antenado?
Certamente, o leitor já teve a sensação de estar perdido em virtude da avalanche de informações que estão ocorrendo e que ele não consegue acompanhar. Certamente, já se sentiu despreparado e sem competência empreendedora para fazer acontecer? Certamente, já questionou sua capacidade e se está no caminho certo.
Não é à toa. Pelo menos 2,2 milhões de terabytes de novos dados são criados todos os dias no mundo. Isso é como se o mundo estivesse armazenando 704 bilhões de fotos digitais em um dia.
Só para se ter uma ideia, a cada minuto são carregadas mais de 300 horas de vídeo no Youtube. A cada minuto, são realizadas 2 milhões de consultas no Google, 100 mil mensagens são enviadas pelo Twitter e cerca de 200 milhões de e-mails são disparados.
A vida em um mundo acelerado e, por muitas vezes, com uma certa pressão de que se precisa fazer diversas atividades, como trabalhar, estudar, se exercitar, estar atento às notícias e a tudo que acontece em volta, está enlouquecendo as pessoas. E dessa forma as pessoas acabam vivendo de forma acelerada e sentindo que o tempo está passando cada vez mais rápido, muito diferente do que acontecia antigamente. Piscou já é Natal.
Como dar conta
Roger Pereira, de 21 anos, trabalha durante o dia e aos finais de semana e é estudante universitário. Ele relata que sente que o tempo passa rápido em diversas ocasiões, seja trabalhando ou estudando e até mesmo quando está procrastinando, como por exemplo, navegando nas redes sociais. Em relação à pressão, que praticamente todos os jovens sofrem de ter de estudar, trabalhar, sempre se atualizar e “dar conta” de tudo, Roger relata que tem de se virar para lidar com essa pressão e realizar todas as suas tarefas. “Procuro dividir minhas prioridades e manter sempre uma disciplina para executar as tarefas mais importantes do dia sem deixar que a procrastinação tome conta de mim”, informou.
A psicóloga Patrícia Zanetti, ouvida pelo PRIMEIRAFEIRA, também dá dicas do que se pode fazer para aproveitar mais o tempo e lidar com esse turbilhão de informações e tarefas. Uma delas é fazer exatamente o que Roger relatou: priorizar suas tarefas e ter organização. Segundo Patrícia, a organização é o ponto chave para o sucesso, pois resulta em produtividade maior e preocupação menor.
Ela também destaca que atualmente se vive um paradoxo, pois, enquanto se corre para ter mais tempo para as tarefas diárias e buscar qualidade de vida, menos tempo se tem e, por isso, os pensamentos ficam acelerados e transformam a mente em um turbilhão. Segundo ela, ficar mais agitado, preocupado, com sintomas de ansiedade, irritação, insônia, incapacidade de relaxar, medo do futuro, medo de perder o controle, são alguns dos principais sintomas da crise vivida pelo mundo moderno.
Nada é como antes
A aposentada Mercedes Milani, de 67 anos, afirma que hoje em dia o mundo está bem diferente, cada vez mais acelerado e as pessoas possuem cada vez mais tarefas para realizar. “Antes tínhamos tempo para brincar, passear, acho que aproveitávamos muito mais o tempo antes do que hoje em dia”, destacou. Para Mercedes, antigamente era muito mais fácil, pois os jovens terminavam o colegial, que seria o ensino médio atualmente, e conseguiam um bom emprego. “Hoje em dia é preciso fazer pelo menos uma faculdade e ainda assim continuar correndo atrás para conseguir um bom emprego. Na minha época, completei o ginásio e com 18 anos, realizei um curso de compras, e consegui um emprego bom na área. Hoje em dia existe uma pressão muito maior em cursar uma faculdade, arrumar um bom emprego e sempre se atualizar”, finalizou.
Para a psicóloga Patrícia Zanetti, é fundamental realizar atividades para desacelerar a mente e assim atingir resultados melhores, como a melhora da concentração, foco no presente e nas atividades, diminuição do cansaço mental, tomada de decisões mais assertivas, redução do estresse, controle da ansiedade, ampliação das emoções positivas, melhora na qualidade do sono, aumento da produtividade, dentre outros. A psicóloga dá dicas do que pode ser feito para desacelerar a mente, aproveitar mais os momentos e ser mais produtivo nas obrigações.
A primeira dica é realizar meditação. Segundo ela, uma prática diária de 12 a 20 minutos para praticantes iniciantes tem benefícios comprovados pela ciência, proporcionando tranquilidade, relaxamento, benefícios cognitivos e psicológicos. A prática é recomendada para todas as pessoas, em todas as faixas etárias. Outro conselho é estar presente e prestar atenção no que se está fazendo em cada momento, por exemplo, se se está caminhando, se deve prestar atenção ao caminho, nos passos e na paisagem ao redor, ao invés de ficar preocupado com algo que aconteceu ou pensando em alguma atividade que terá de fazer depois. O conselho é focar e aproveitar sempre o momento presente.
Hobbies e família
Além disso, outro conselho importante é tirar um tempo, se possível diariamente, para praticar hobbies e desconectar do mundo virtual. Quando estiver realizando alguma atividade que não precise de nenhum aparelho eletrônico, como celular e computador, se deve deixá-los de lado e focar no que se está fazendo naquele momento. Também é importante realizar atividades físicas, ter um sono de qualidade e manter vínculos sociais profundos e saudáveis.
São várias dicas simples, mas que, se aplicadas ao dia a dia, irão melhorar a saúde física e mental. Além disso, sem esse cuidado, todos os pontos da vida serão afetados, seja a vida acadêmica, profissional ou pessoal. “Cuidar de si não é exagero e, sim, fundamental, é um respeito e demonstração de amor-próprio”, finaliza Patrícia.