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Comtur vai entrar na luta para movimentar o turismo em Salto

Entidade está com novos dirigentes e eles prometem juntar os empresários do setor para discutir alternativas e ainda provocar a população para que participe mais intensamente

Com a reabertura prevista de diversos pontos turísticos, construção de outros atrativos e a consolidação das atrações já existentes, o ano de 2024 deve ser bastante movimentado para o turismo saltense. E para colocar a cidade em destaque no cenário estadual, o Conselho Municipal de Turismo, o Comtur, vem desenvolvendo um trabalho junto aos empresários locais para que o turista possa não apenas desfrutar dos parques e equipamentos, mas também movimentar o comércio da cidade, fazendo girar a economia local.
O secretário da entidade, Claudiney Bravo, que assumiu o cargo em novembro de 2023, disse que há um longo trabalho para incentivar os empresários locais a investirem na própria cidade e a população comprar essa ideia. “O trabalho da nossa gestão é fazer isso: juntar os empresários, mas não só eles. A população também precisa participar e partilhar dessa crença. Será um trabalho e tanto pela frente”.
Claudiney Bravo falou que o trabalho do Comtur passa ainda por discutir junto ao Poder Público novas soluções e ideias para cativar o turista. “São vários eventos e muitos turistas, mas está chegando a um ponto em que não teremos mais estrutura. Estamos estudando as possibilidades. Tem eventos que o Pavilhão das Artes já não comporta mais. Mas ainda não há uma solução para isso. É um desafio para a Secretaria de Turismo nos oferecer opções. A preocupação será atender aos turistas daqui para frente. E não apenas com espaço, mas com hotéis, restaurantes etc.”
Confira a entrevista na íntegra.

Como você avalia o Turismo hoje em Salto?
Claudiney Bravo:
Apesar da fama de Estância Turística, eu não via o turismo e nem um trabalho voltado para isso. Já hoje eu vejo muitas ações acontecendo, mas uma das maiores dificuldades é fazer com que empresários e a própria população acredite no turismo local. Temos vários pontos turísticos e há um trabalho de melhorias neles, mas só isso não é suficiente. Se tivermos um bom número de pontos turísticos e atrair muitos turistas, mas não tivermos uma estrutura, não adianta. Se o turista vem e não tem uma estrutura para se alimentar ou para transporte, ele não volta. Agora, o trabalho da nossa gestão é fazer isso: juntar os empresários, mas não só eles. A população também precisa participar e partilhar dessa crença. Os próprios empresários falam que a população não valoriza o que temos. Será um trabalho e tanto pela frente. Temos um projeto para juntar empresário e população e, na próxima semana, no dia 23, teremos a primeira reunião para discutir setores como a culinária e os restaurantes.

Qual a importância do Turismo para Salto e o quanto ele pode ajudar no crescimento da economia local?
Claudiney Bravo:
O Turismo é um propulsor da economia local. É preciso acreditar. Só demonstrando os exemplos que temos em Salto já dá para incentivar outros investimentos. É um trabalho de valorização para esses empresários e as oportunidades que o Turismo gera para eles. Ao mesmo tempo, precisamos desenvolvê-los empresarialmente com um trabalho de capacitação para esses comerciantes. Recentemente eu conversei com um empresário que me disse que a maioria dos frequentadores do seu restaurante é de pessoas de fora. Ou seja, são turistas. Tem muitas pessoas que vêm de fora e a intenção é que venham cada vez mais. Isso gera ainda mais renda para o empresário e para a cidade. Infelizmente, o Turismo é um pouco desacreditado.

Então o Turismo pode ser uma importante fonte de renda para muitos empresários?
Claudiney Bravo:
Falam que o Turismo não movimenta a cidade. Mas, veja o exemplo da lanchonete no Parque Rocha Moutonnée. Um refrigerante e um salgadinho farão o turista gastar mais ou menos uns R$ 15. Se considerarmos que desde a inauguração do parque, em setembro, foram mais de cem mil visitantes, o empresário faturou mais de um milhão. É muito mais do que muito comerciante fatura na sua vida cotidiana.

E como fazer para que a população acredite no potencial do Turismo como negócio e que seja bom para ela?
Claudiney Bravo:
Seria ótimo ter essa resposta. Mas não há uma receita. Precisamos entender e por isso queremos reunir os empresários para entender o porquê. A partir do momento que entendermos o pensamento dos empresários, conseguiremos formular as estratégias e ações para que consigamos resolver os percalços.

O Turismo pode ser rentável para o comerciante?
Claudiney Bravo
: Salto foi, nas décadas de 1960 e 1970, uma cidade turística que tinha um dos dois únicos restaurantes que faziam o pintado na brasa. O outro era um restaurante em Piracicaba, do mesmo proprietário. A poluição acabou fechando o restaurante que ficava na beira do Rio Tietê (onde atualmente existe o Memorial do Rio Tietê) e nenhum outro comerciante abraçou a ideia do prato. Em Piracicaba, os comerciantes abraçaram esse prato. O mirante que havia em Piracicaba deu origem à Rua do Porto, onde existem muitos pequenos restaurantes que fazem o prato. Essa força que o Turismo tem que precisa ser resgatada. O Turismo precisa ser incrementado à nossa economia e não disputar com a Indústria, por exemplo. Um festival gastronômico realizado na cidade movimenta entre R$ 500 mil e R$ 600 mil, já que o edital é direcionado que produtos e profissionais precisam ser de Salto. Esse tipo de coisa é que as pessoas não percebem. Acham que é apenas uma festa.

Qual a importância do Senac para os empresários locais?
Claudiney Bravo:
Dentro do Senac existem áreas voltadas para a gastronomia, estética e beleza, agricultura e outras, todas proporcionando desenvolvimento profissional e para que façam movimentar a economia. No ano passado foi feito um trabalho junto ao Poder Público sobre a importância dessas capacitações. A partir do momento que se dá educação, no sentido de conscientização do poder do empreendedorismo, isso transforma a mente das pessoas para que enxerguem novas possibilidades. Nós buscamos privilegiar a Indústria local, mas ainda vemos muitos empresários descrentes que não se adequam a todas as necessidades, não apenas para estar aptos às atividades e cursos oferecidos, mas também para participar de uma licitação da Prefeitura ou de uma grande empresa.

Como pretendem conduzir o mandato à frente do Comtur?
Claudiney Bravo:
Na nossa diretoria seguimos uma linha em que as pessoas trabalham juntas. Não é porque há um presidente que ele tem a palavra final. Por exemplo, nós formamos uma equipe apenas para essas reuniões com empresários. A presidência não dá conta sozinha, já que tem outras atividades além do Comtur. Algo que sempre batemos na tecla é de não querer brigar por interesses. Queremos fazer com que o Turismo funcione de verdade, com um olhar crítico.

Qual a importância do Comtur para a cidade?
Claudiney Bravo
: Nós somos quem está no dia a dia, olhando, cobrando ações da secretaria para que o Turismo aconteça de verdade e com qualidade. Temos vários eventos na cidade, como, por exemplo, o encontro automobilístico que acontece no Monumento à Padroeira, que já tomou proporções que não tem mais condições de se manter naquele espaço, pela falta de acessibilidade e estrutura. Então, a função do Comtur é buscar um novo espaço para o evento, para trazer ainda mais turistas para a cidade.

Há desinteresse dos empresários locais em investir na própria cidade e por isso o Turismo não avança?
Claudiney Bravo
: Para se ter uma ideia do desinteresse, foi aberta uma licitação para a cafeteria no Espaço do Artesão, no Complexo da Cachoeira, e ela ficou deserta (não houve interessados). Agora eu pergunto. O turista vai chegar lá e procurar pela empada frita, que é o prato mais conhecido da cidade, e nenhum estabelecimento próximo oferece isso. Vai ser inaugurado um Jardim Japonês e não tem restaurante típico nas proximidades. Outro exemplo: O Trem Republicano traz, em média, 500 pessoas para a cidade a cada final de semana e não há nenhum receptivo para levá-las aos parques e atrações da cidade. Isso tudo é renda. Esse tipo de pensamento que precisa evoluir na cidade. O turista chega de Itu e a maioria sequer sabe que está em Salto. É aí que entra a participação dos empreendedores, oferecendo desde roteiros a pé pela região até passeios guiados. Na estação era um ponto que deveria haver uma ou duas pessoas vestidas de italianos vendendo empada frita em cestos, que era como se vendia anteriormente.

Quanto o Pavilhão das Artes ainda pode ser útil e qual a importância de um novo espaço para eventos?
Claudiney Bravo:
Essa é uma das discussões que temos. São vários eventos e muitos turistas, mas está chegando a um ponto em que não teremos mais estrutura. Estamos estudando junto ao secretário de Turismo, Wanderley Rigolin, as possibilidades. Tem eventos que o Pavilhão das Artes já não comporta mais. Mas ainda não há uma solução para isso. É um desafio para a Secretaria de Turismo de nos oferecer opções. A preocupação será atender aos turistas daqui para frente. E não apenas com espaço, mas com hotéis, restaurantes etc.

Mas ainda é possível utilizar o Pavilhão das Artes para eventos?
Claudiney Bravo:
O Pavilhão precisa ser repensado em algumas coisas. Talvez se eliminássemos a saída para Itu, obrigando o motorista a dar a volta pela Avenida Vicente Schivitaro ganharíamos mais espaço. Essa é uma opção. O Pavilhão ainda é o ponto principal da cidade e o melhor lugar para retorno ao empreendedor, apesar dos problemas a serem resolvidos, como a questão dos banheiros. É um ótimo lugar para eventos médios.

Como o Posto de Atendimento ao Turista na estação auxiliará o turista que chegar em Salto através do Trem Republicano?
Claudiney Bravo:
O turista vai chegar e saber que há uma estrutura turística e conhecer os pontos turísticos. Haverá funcionários explicando as opções de passeios; vai haver exposições; haverá o Cine Anselmo Duarte, que exibirá trechos de filmes do cineasta saltense e apresentar as opções locais de restaurantes, comércios, entre outros. Não precisamos criar mais coisas. Precisamos fomentar o que já existe. A importância do espaço é mostrar que temos turismo, temos cultura, temos personalidades. A intenção nossa não é que o turista venha e volte no mesmo dia, mas sim que ele possa ficar mais de um dia na cidade. Isso ainda não foi feito, porque ainda temos muitos equipamentos turísticos que não estão funcionando. Quando estiverem, aí sim venderemos a cidade para fora.

Qual a importância de se trabalhar parcerias com outras cidades, como por exemplo Itu?
Claudiney Bravo:
Em Salto se fala sobre essa richa entre as cidades. Isso precisa acabar. Nossa história não é a história deles. O que tem de Turismo lá não tem aqui. Se trabalharmos juntos todos ganham. Mudar esse entendimento não é fácil, mas é preciso começar. Não queremos tirar o turista de Itu, mas fazer com que ele também venha para Salto.

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