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Destruição das chuvas de sexta-feira ainda causa falta de água e de energia em Salto

Quadro levou o prefeito Laerte Sonsin Júnior a decretar estado de emergência na cidade, o que permite a realização sem licitação de compras para reparo dos danos, de serviços e de obras

Uma semana depois da tempestade que assustou os moradores de Salto e de todo o Estado na sexta-feira (3), Salto ainda não tem os serviços de abastecimento de água e de energia totalmente restabelecidos. As empresas responsáveis trabalham para restaurar o atendimento o mais brevemente possível. Enquanto isso, moradores, comerciantes e empresários da indústria contabilizam os prejuízos e tentam recuperar o que é possível.
O quadro levou o prefeito Laerte Sonsin Júnior (PL) a decretar estado de emergência na cidade. A decisão flexibiliza a legislação para a administração colocar em prática a recuperação. Por meio do decreto, foram dispensados de licitação, uma obrigação legal de todas as Prefeituras, mas um processo que demora até seis meses em média, os contratos para aquisição de bens visando o reparo dos danos, para a prestação de serviços e para obras de restauração.
Segundo a administração, ainda não é possível calcular o tamanho dos danos causados pela tempestade. A Companhia Piratininga de Força e Luz, a CPFL, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na cidade, também não conseguiu estimar os prejuízos. As reclamações de comerciantes, empresários da indústria e cidadãos são variadas, mas também sem um número fechado.
Até a tarde de quinta-feira (9), 80% do abastecimento de água da cidade já havia sido normalizado. As regiões que ainda apresentavam maior dificuldade de estabilização do abastecimento eram as do Santa Cruz (veja abaixo). Já a CPFL informou que 97% dos clientes afetados já tiveram (até a manhã de terça-feira, dia 7) o fornecimento restabelecido (veja abaixo).
A Prefeitura estima que foram centenas de árvores derrubadas ou arrancadas com raiz. Os danos atingiram até mesmo o prédio da administração na Abadia de São Norberto, já que vidraças foram quebradas com o vento. Ainda assim, a Prefeitura informou que esses danos não afetaram o funcionamento dos serviços no local.
Comerciantes perderam grande quantidade de produtos por causa da falta de energia para a refrigeração. Altemar Silveira, do Nações, dono de um pequeno comércio, disse que a maioria dos produtos que depende de geladeira estragaram. O empresário Alamir Santos disse que o seu prejuízo maior foi com o alagamento da oficina onde produz peças para outras empresas. “As peças molhadas enferrujam e não servem mais”, disse.
Maria Rosa, moradora do Condomínio Terras de Santa Rosa contou que passou por vários transtornos. O portão da sua casa foi entortado com o vento. Ela estava de plantão no trabalho e não conseguiu falar com ninguém devido à falta de energia. Ainda precisou comprar água para se manter e gelo para tentar manter os alimentos congelados. Mesma situação da maioria dos moradores.
Leitores e internautas do PRIMEIRAFEIRA, moradores do Condomínio Piccolo Paese, reclamaram que já era insuportável, na segunda-feira (6), três dias após o temporal, a falta de energia e uma parte do condomínio não ter água.
Através das redes sociais muitos moradores reclamaram que diversos bairros, como o Buru, Chácaras Iracema e Jardim Arquidiocesano, ficaram dias com árvores caídas e fios derrubados pelas vias. Alguns ainda estão nessa condição. Uma moradora das Chácaras Halter relatou que até mesmo postes de eletricidade estavam caídos pelo bairro. Moradores da Vila Nova e da Vila Roma relataram que árvores caídas ainda continuavam lá nesta quinta-feira (9).
Nas quedas de centenas de árvores, uma chamou atenção foi um ipê na Vila Teixeira, que havia sido plantado há mais de 50 anos e que era um símbolo do bairro, atraindo mais por estar florido.
Apesar dos danos materiais, segundo o Poder Público, não houve nenhuma ocorrência de desabrigados, desalojados e nem de óbitos.

Velocidade dos ventos na sexta foi a maior em 17 anos

O Instituto Nacional de Meteorologia, o Inmet, informou que as rajadas de vento que atingiram Salto na sexta-feira (3), alcançaram 91,4 km/h na estação mais próxima da cidade, localizada em Iperó, e considerou essas as maiores rajadas de vento em 17 anos. “Desde a sua instalação, em 2006, é a maior rajada registrada pela estação meteorológica automática. Anterior a essa rajada, a maior era de 90 km/h em janeiro de 2018”, informou o Instituto.
Já a Companhia Piratininga de Força e Luz, a CPFL, responsável pelo fornecimento de energia em Salto, informou que os ventos foram acima de 151 km/h, velocidade equivalente à de um furacão.
Como comparação, uma tempestade ocorrida em 2015, chamada de Fenômeno Downburst, derrubou mais de 200 árvores em Salto e registrou ventos de até 100 km/h. O fenômeno ocorrido na sexta-feira (3) teve ventos tão fortes quantos o de um tornado que atingiu Indaiatuba em 2005, que, segundo dados da época, foi de 140 km/h.
Rodolfo Bonafim, especialista em climatologia do Canal Geoastrodicas e da ONG Amigos da Água, explicou o ocorrido negando a ocorrência de um furacão.
“Não teve furacão nenhum. A velocidade dos ventos de 151 km/h realmente é a velocidade de um furacão categoria 1, o mais fraquinho, só que furacão são ventos constantes com essa velocidade ou até maior. O que aconteceu foram rajadas de ventos que vão e que vem. Se fosse um furacão, a maioria das cidades não estaria preparada. O que aconteceu foi uma frente de rajada, devido a uma infiltração da frente fria que acabou se despregando da região Sul e se chocando com uma área de instabilidade, que estava instalada no Estado de São Paulo havia dois dias”.
A forte tempestade causou severos impactos sobre trechos da rede elétrica em Salto e em diversas cidades da região, segundo a CPFL. “A tempestade provocou quedas de árvores de grande porte, destelhamentos, deslizamentos e alagamentos”, informou a concessionária em nota enviada à reportagem do PRIMEIRAFEIRA. Não há ainda um cálculo exato da destruição.
Segundo a CPFL, todo o efetivo da distribuidora foi imediatamente mobilizado, inclusive com reforço de outras cidades da área de concessão. “A CPFL Piratininga ressalta que, apesar dos danos, aproximadamente 97% dos clientes afetados já tiveram (até a manhã de terça-feira, dia 7) o fornecimento restabelecido e continuará ininterruptamente os serviços até regularizar para todos os seus clientes o fornecimento de energia elétrica”.

Após temporal, Saae diz que 80% do abastecimento já foi normalizado

O temporal que atingiu a cidade e região na última sexta-feira (3) causou transtornos que persistiram por vários dias, afetando principalmente o abastecimento de água. Todos os bairros foram afetados, mas, segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto, o Saae, até a tarde de quinta-feira (9), 80% do abastecimento de água da cidade já havia sido normalizado. As regiões que ainda apresentavam maior dificuldade de estabilização do abastecimento eram as do Santa Cruz, pois o reservatório apresenta problemas de sustentação de nível, que já eram notados antes mesmo do evento.
O Saae informou também que o abastecimento da região do Hospital e do Icaraí está sendo fechado com frequência devido ao consumo e às oscilações de energia que se estenderam por mais tempo nas proximidades do Booster Telesi, responsável pela transferência de água para os bairros.
Apesar dessa situação, a autarquia informou que não irá adotar nenhum sistema de rodízio de abastecimento e que estão fazendo diversas manobras na rede e nos reservatórios para reduzir o impacto desse temporal. Em relação à quantidade de chuva de sexta-feira (3), o posto pluviométrico da ETA Bela Vista mediu 27,6 mm de chuva entre as 7h da manhã de sexta-feira (3) e as 7h da manhã de sábado (4).

Clientes podem ser ressarcidos a partir de 4 horas sem energia, afirma advogada

O temporal de sexta-feira (3) deixou milhões de pessoas sem energia elétrica na capital de São Paulo, litoral e interior. E em situações como essa, os consumidores logo começam a buscar informações sobre ressarcimentos e indenizações.
Segundo a advogada Renata Abalém, especialista em Direito do Consumidor, a partir de quatro horas sem luz, o cliente pode pedir um desconto na conta. “Caso alguém perca algum equipamento em decorrência da falta de energia, é preciso apresentar um laudo com requerimento para pedir um reembolso ou conserto do aparelho”, explicou.
Para empresas e comércios, são três os tipos de danos que podem ser requeridos: dano material, no caso do estoque perdido; dano estimado, estimativa de quanto poderia vir a faturar no período; e dano moral, que é a utilização do dinheiro faturado no período sem energia. Em todos esses casos, as indenizações são concedidas pela Justiça.
No caso de quem teve o veículo avariado por causa do temporal, o consumidor pode buscar reparações na Justiça, mas é preciso ter provas.
Procurada, a CPFL informou que, em caso de equipamentos danificados em decorrência de problemas na rede elétrica, os clientes podem procurar a empresa por meio de seus canais de atendimento e solicitar o ressarcimento seguindo o procedimento padrão, que inclui uma breve descrição do caso, com provável data e horário do ocorrido, informações sobre sua unidade consumidora e o relato dos problemas apresentados.
A solicitação pode ser feita pelo site www.cpfl.com.br, pelo 0800 010 2570 (ligação gratuita) ou nas agências e postos de atendimento presencial, cujos locais estão disponíveis no site para consulta.
De acordo com a Secretaria Nacional do Consumidor, para ressarcimento, a concessionária terá 10 dias para inspecionar o equipamento danificado; um dia para equipamento utilizado no acondicionamento de alimentos perecíveis ou medicamentos; 15 dias para apresentar, por escrito, resposta ao pedido e 20 dias para providenciar o ressarcimento.

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