Um livro é beleza em potencial. A capa pode ser atraente e chamativa, ou talvez ela seja vazia. Não importa tanto. Quando o livro é aberto, ele tem a mágica, ele tem o encanto.
Enquanto o cheiro do papel e seu toque áspero tocam por fora, a soma de palavras, ideias e de algo que vai além delas tem o poder de tocar por dentro.
Porque o bonito invisível é menos palpável e, ironicamente, mais real. O bonito invisível é mutável, fluido. Ele é uma valsa que acelera e acalma. A beleza cresce com amor, cresce com saudade, cresce com convivência, cresce com carinho.
Desde sempre, o ser humano tem essa tendência ao belo. Quando superficial, o belo se esvazia. Pintura, escultura, música, poesia. Elas são o todo que vai além das partes, porque a combinação, o arranjo dentre tantas possibilidades ordinárias criou um sentimento extraordinário.
No livro Campo Geral, Miguilim pergunta se sua terra natal era bonita. Após crescer lá, ter experiências transformadoras, sentir um espectro de sensações e criar memórias inesquecíveis, ele pode afirmar sem dúvida: “O Mutúm era bonito”. Um belo que ultrapassa a mera paisagem bucólica.
É como dizia o Pequeno Príncipe (Saint-Exupéry): “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.
Quando sentida, a beleza é inconfundível. De verdade, ela está por toda parte. Basta dançar com as folhas enquanto caem, balançar com o vento, ver as ondas quebrando e espumando. O sal da terra é todo bonito, porque tudo tem algo por trás.
Essa essência: ela é o belo.
O ser humano se apaixona pela essência das coisas.