O estudante saltense Pedro Ribeiro Coelho, ex-aluno do Colégio Anglo, e o seu professor Felipe Fontes representaram Salto e o Brasil na Olimpíada Copernicus de Astronomia e Física em Houston, nos Estados Unidos, em janeiro deste ano, e o aluno, que terminou o Ensino Médio em 2023, conquistou a medalha de bronze, superando representantes de mais de 30 países.
“Foi um processo árduo de pelo menos um ano brincando com isso. Eu falo brincando, pois estudar Matemática, Química ou Física muito a sério não é um processo bacana. Foram vários encontros ao longo do ano, muitas provas e para mim não foi surpresa conseguir alguma premiação. É um caminho que foi trilhado nos últimos anos”, explicou o professor.
Para Pedro, a experiência foi além da conquista. Ela representou o resultado da dedicação, esforço e coragem, já que, segundo o estudante, muitos alunos acabam desistindo de participar de competições nacionais pelo medo de não conseguir vencer. “Eu sempre gostei e tive interesse e facilidade em disciplinas como Matemática, Física e Química, mas no início eu não era bom. Aos poucos fui estudando, me aperfeiçoando e praticando. O interesse em participar de olimpíadas como essa de Astronomia começou ainda quando estava no nono ano do Ensino Fundamental. No início era aquele medo de perder a disputa, mas a possibilidade de ostentar a conquista de uma medalha me motivou. Pouco a pouco fui me interessando. Participa de uma, de outra, até que os professores vão nos incentivando a participar de todos os desafios, como esse de uma disputa internacional”.
Pedro seguirá seu caminho, possivelmente em alguma área de estudo ligada a Exatas, enquanto o professor Felipe tentará garimpar novos talentos para que possam não apenas conquistar medalhas, mas também terem a oportunidade de abrir portas para o futuro. “A intenção é que eles peguem gosto e não estudem apenas pensando no vestibular. As universidades passaram a olhar para esses alunos olímpicos de uma forma diferente. Alguns estudantes podem ingressar nas universidades apenas com os resultados obtidos nas olimpíadas e não apenas as de Matemática, mas também de História, de Português, entre outros”.
Confira a entrevista completa:
Como foi conseguir a classificação e ainda a sua participação na Olimpíada Copernicus nos Estados Unidos?
Pedro Ribeiro Coelho: Houve uma rodada preliminar nacional em que foi preciso atingir uma pontuação determinada para ser selecionado para o chamado round global (realizado na Rice University, em Houston, no Texas). A prova preliminar incluiu 25 questões objetivas e na prova mundial foram 20 questões objetivas e outras cinco questões que exigem do aluno um trabalho de cálculo para chegar a um número final. Foi a primeira vez que participei de uma olimpíada internacional e a experiência foi extraordinária e quase que indescritível. É uma realidade totalmente diferente, ainda mais por ter podido conquistar a medalha de bronze.
E para você, professor, o que pode destacar dessa experiência?
Felipe Fontes: Foi uma dinâmica diferente, na qual a maioria dos estudantes não tinha ideia do tamanho da repercussão que isso poderia causar. Não apenas pelo fato de aparecer no jornal, mas pela vivência. É difícil expressar em palavras, ainda mais com os pais do Pedro juntos, vivenciando a experiência do filho. Não foi o caso de enquanto o filho está no evento os pais estavam no shopping. Pelo contrário, eles ficavam juntos. E isso deu ao Pedro uma bagagem diferente. Quando falei de fazer a prova (da etapa nacional) ele foi resistente, mas eu insisti até que conseguimos chegar à etapa mundial. Foi uma viagem muito bacana. Nos juntamos com outros alunos brasileiros e ficamos juntos o tempo todo, seja no avião seja no hotel, criando uma amizade, depois com estudantes de outros países e isso torna tudo mais interessante, já que todos os que estavam lá tinham o mesmo propósito. Foi um processo árduo de pelo menos um ano brincando com isso. Eu falo brincando, pois estudar matemática, química ou física muito a sério não é um processo bacana. Foram vários encontros ao longo do ano, muitas provas e para mim não foi surpresa conseguir alguma premiação. É um caminho que foi trilhado nos últimos anos. Estou há mais de 20 anos nesse mundo, tentando descobrir novos talentos e quando eles acreditam nesse desafio, a coisa funciona, como com o Pedro.
Quais atividades são realizadas num evento como esse?
Pedro Ribeiro Coelho: Todos os passeios eram voltados para a Educação. O primeiro dia foi apenas um encontro entre os alunos, mas visitamos o Museu de Ciências Naturais; conhecemos as instalações da Nasa, na qual passamos o dia e tivemos a oportunidade de tocar uma das sete pedras que foram trazidas da Lua, vimos o primeiro foguete que levou o homem à Lua, o púlpito em que John Kennedy (ex-presidente dos Estados Unidos) comunicou sobre as missões lunares; vimos a capsula da Apollo 17 (foguete da sexta e última missão tripulada do Projeto Apollo à Lua, realizada em dezembro de 1972), que voltou à Terra, e muito mais. Ainda fomos ao observatório; tivemos períodos de estudo e participamos de workshops. Foi uma vivência muito bacana.
Como surgiu seu interesse pela Astronomia?
Pedro Ribeiro Coelho: Eu sempre gostei e tive interesse e facilidade em disciplinas como Matemática, Física e Química, mas no início eu não era bom. Aos poucos fui estudando, me aperfeiçoando e praticando. O interesse em participar de olimpíadas como essa de Astronomia começou ainda quando estava no nono ano do Ensino Fundamental. No início era aquele medo de perder a disputa, mas a possibilidade de ostentar a conquista de uma medalha me motivou. Pouco a pouco fui me interessando. Participa de uma, de outra, até que os professores vão nos incentivando a participar de todos os desafios, como esse de uma disputa internacional.
Você tem interesse em seguir nessa área?
Pedro Ribeiro Coelho: Eu penso em seguir na área de Exatas, mas não em Astronomia, embora ache a disciplina bastante interessante. Essa área, no Brasil é pouco valorizada, mas lá fora ela vale bastante. Tenho um amigo que conquistou uma medalha olímpica e ganhou uma bolsa de 106% em uma universidade fora do país, algo que não temos aqui. Valorizamos pouco essa área e temos dificuldade até para encontrar alguns materiais de estudo.
Qual é o desafio de preparar os estudantes para essas disputas olímpicas do ponto de vista do professor?
Felipe Fontes: Meu carro-chefe para o treinamento olímpico é a Matemática. Então o primeiro desafio é fazê-los pegarem gosto para depois irmos enxertando outras atividades. A Astronomia em si não acaba sendo uma disciplina. Ela vem apenas como uma cereja do bolo nos estudos da Matemática, colocada pouco a pouco com dinâmicas envolvendo planetas ou constelações, por exemplo. A intenção é que eles peguem gosto e não estudem apenas pensando no vestibular. Infelizmente, sabemos que, no Brasil, a Educação como um todo não tem o glamour que gostaríamos, mas existem alguns carros-chefes do governo federal, como a Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), para descobrir novos talentos e isto tem acontecido mesmo.
Qual a importância de participar de provas como essa?
Felipe Fontes: As universidades passaram a olhar para esses alunos olímpicos de uma forma diferente. Alguns estudantes podem ingressar nas universidades apenas com os resultados obtidos nas olimpíadas e não apenas as de Matemática, mas também de História, de Português, entre outros. Os alunos já carregam seu portfólio com suas participações olímpicas. É mais fácil? Não, pois exigiu deles anos de estudos para criar esse currículo. O estudante que ganha uma medalha na Olimpíada Brasileira de Matemática, a OBM, entra direto em qualquer universidade. Isto porque as universidades sabem que esse aluno é diferente. E as olimpíadas internacionais valem muito para quem almeja estudar fora. Isso faz com que seja mais fácil o interesse dos alunos pelas participações em olimpíadas e não apenas porque “é legal”. São formas de abrir portas, além do vestibular que muitos não terão.
Esse incentivo das universidades em aceitar os resultados das olimpíadas como ingresso ajuda a fomentar o interesse?
Felipe Fontes: Não só acho isso como acredito. É transformador ver o aluno buscando o estudo. Por incrível que pareça, a Olimpíada de Matemática foi o carro-chefe dessa história toda, lá na década de 1970. Com o passar dos anos, outras disciplinas foram sendo incrementadas e hoje as universidades aceitam alunos que participam das olimpíadas de Ciências, de Física, de História, de Literatura, entre outras. Hoje, no manual de candidato das principais universidades, já é descrita a lista de olimpíadas que são aceitas para determinados cursos. O problema é que, por ainda ser algo muito recente, são poucas vagas oferecidas. Mas já aumentou. O que era uma vaga, hoje são cinco. É uma vertente que vai funcionar no Brasil. Não que o vestibular vai sumir, mas quem quiser algo a mais terá essa opção e ganhará duplamente com ela.
O Pedro citou o medo de perder já na etapa nacional. Como trabalhar a cabeça do estudante nesse quesito?
Felipe Fontes: Este ano temos as Olimpíadas em Paris, mas não são todos os atletas que vão. São apenas os melhores. Mas não quer dizer que você chegando lá você vai ganhar. E se não ganhou não significa que não é bom. O Pedro ficou com o bronze, mas poderia ter ficado com a prata, talvez por uma questão. Então a missão é melhorar. Fazer os alunos pegarem gosto é um trabalho de formiguinha que vimos fazendo o tempo todo.
Há um interesse grande dos alunos pelos treinamentos direcionados a essas participações olímpicas?
Felipe Fontes: Quando começamos havia meia dúzia de alunos interessados e hoje conseguimos uma sala cheia. Considerando que se trata de Matemática, é algo difícil de se conseguir. Há escolas em São Paulo, com três mil ou quatro mil alunos que têm uma sala cheia para estudos de Matemática e aqui no Anglo conseguimos isso com menos alunos. Até mesmo no Ensino Médio, onde os estudos e as provas são mais difíceis, temos um bom número de alunos interessados que nos procuram para saber.
Qual o segredo para que o aluno possa conquistar uma medalha como o Pedro conseguiu em uma competição como essa?
Felipe Fontes: Não é só uma medalha. Por trás disso tudo há o empenho de muitas pessoas. Em relação ao resultado, 99% do mérito é do aluno, mas há outros envolvidos. Numa ponta está o aluno, na outra a família e numa terceira o educador. Não tem como dar errado quando essas três pontas se unem.