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Marcas da Memória – Parte II

O casarão localizado à Avenida Marciano Xavier de Oliveira, uma das ruas que mais gosto no Centro de Cabreúva, chama a atenção pela sua fachada preservada, janelas e portas de madeira e colunas falsas que contribuem para sua monumentalidade. A mesma rua abriga uma série de outros casarões com suas fachadas que narram histórias e ajudam na busca pela memória de tempos outros da cidade. Muitas dessas construções datam do final do século XIX ou início do XX. Aquele localizado no número 278 abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico da cidade.

No texto anterior proseamos sobre marcas do tempo, de tantas que é possível observar diariamente no prédio da Secretaria, uma sempre me chama atenção quando entro na sala dos diretores da pasta, próximo a porta de entrada da sala: uma marca triangular escurece aquele pedaço do chão de madeira. Ao longo da sala é possível observar outras marcas escuras em menores dimensões.

Dado o tamanho da marca e sua tonalidade em relação ao restante do piso de madeira, atribuo a marca a uma atividade do cotidiano presente nas residências de outrora e que permanece nos dias de hoje, seja como afazer da vida prática ou como ofício rentável, me refiro à atividade de passar roupas.

Como chego a essa hipótese?

Diariamente olho para minha biblioteca pessoal, localizada no escritório em um cômodo anexo à área de churrasqueira no fundo de minha casa, em uma das prateleiras um antigo ferro de passar roupas, pesado, feito de ferro e que pertenceu à minha falecida avó, dona Irene Cordeiro (1946-2022). Tal ferro, contava minha avó, era movido a carvão, o vapor esquentava sua base e, ao passar sobre os panos de peças de roupa, estas ficavam lisinhas. Em uma época em que não se tinha energia elétrica, tal objeto doméstico servia e muito em uma residência. Algumas mulheres usavam tal recurso até mesmo como fonte de renda, eram as passadeiras de roupas. Quando tais ferros caiam ao chão, era possível que marcasse aquele espaço da queda, no caso do casarão mencionado, marcas de um tempo que ali permanecem até hoje.

Ao olhar para as marcas deixadas pelo ferro, algumas perguntas passam pela minha mente: a pessoa que operava o ferro de passar, estaria fazendo isso por ofício? Quanto recebia para tal? Quem contratava tais serviços?

Essas e muitas outras perguntas podem nos ajudar a entender questões econômicas presentes no município, questões de gênero, vida pública e vida no ambiente privado.

Enfim… o historiador é movido por perguntas, quando mais pesquisa, mais perguntas podem surgir. É preciso cuidado com aqueles que contam “a verdadeira história”, afinal, o que analisamos através de fontes das mais diversas naturezas são marcas deixadas pelo passado, e essas marcas são interpretadas à luz do presente.

O tempo, meu amigo leitor e amiga leitora, é nosso grande desafiador!

Um bom fim de semana a todos e todas.

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