Cidades

Interligadas

Museu Republicano de Itu reabre nesta sexta-feira depois de dois anos fechado para reformas e adequações

A supervisora técnico-científica da instituição acredita que agora há condições de segurança para as visitações públicas

O Museu Republicano de Itu reabre nesta sexta-feira (12) suas portas ao público após dois anos de fechamento por causa de reformas e adequações. O museu que completou 100 anos em abril está pronto novamente para mostrar ao público uma rica e importante história sobre a formação do Brasil como República.

Em seu acervo, os interessados em conhecer um pouco do que determinou a instituição da República vão poder travar contato com objetos históricos do período da política liberalista e positivista, obras de artes de artistas ituanos e documentos que podem ser consultados por qualquer pessoa que tenha interesse.

Mantido pela Universidade de São Paulo, a USP, a instituição chegou a receber mais de 50 mil pessoas num único ano, número importantíssimo, nas palavras da supervisora técnico-científica do museu e coeditora do periódico Anais do Museu Paulista Maria Aparecida de Menezes Borrego, que falou ao PRIMEIRAFEIRA.

Maria Aparecida é mestra e doutora em História e docente do Departamento de Acervo e Curadoria do Museu Paulista. Ela é autora de “A teia mercantil: negócios e poderes em São Paulo colonial”, (Códigos e práticas: o processo de constituição urbana de Vila Rica colonial” e co-autora de “Poderes privados, práticas públicas”.

A professora está animada com a retomada da visitação pública, porque, embora o museu estivesse funcionando mesmo sem exposições abertas ao público, é a integração com a população que faz o local ser tão significativo para a história e para o desenrolar dos fatos que surgiram a partir da Convenção Republicana.

 

O Museu Republicano passou por quais reformas e adequações?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O Museu ficou fechado para adequação de suas instalações às normas de segurança contra incêndio. Quando tivemos o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2020, recebemos do Ministério Público uma ação pedindo para fecharmos por conta da inadequação às normas de segurança. E nesse período fizemos todas as adequações e tivemos agora a certificação do Corpo de Bombeiros. Aguardamos a liberação do Ministério Público. O Museu está pronto. Todas as exposições foram refeitas, colocamos objetos novos e mudamos alguns pontos.

 

Todas as obras terminaram ou ainda há obras previstas?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: Estou como coordenadora do museu há nove anos e desde então há a ideia da Universidade de São Paulo, a USP, que mantém o local, de fazer uma reforma para ter acessibilidade física. Temos dois degraus enormes na entrada, que, ao longo do tempo, precisamos dar umas adequações caseiras, com a colocação de rampa para subir ao primeiro degrau, instalação de puxadores de metal, etc. Essas adaptações foram feitas, sobretudo, para pessoas idosas ou com dificuldade de mobilidade. Cadeirantes, infelizmente, têm de serem carregados, o que não é o adequado. Além disso, muitas pessoas não conseguem subir ao primeiro pavimento, então fizemos um vídeo de apresentação com as salas do piso superior. A ideia da superintendência do espaço físico da USP é fazer, nos fundos do museu, um anexo para termos elevador, além de criarmos vestiários, uma copa e um espaço para reparos do acervo. Esses projetos já foram aprovados pelos órgãos de conservação e pela Prefeitura de Itu e já recebemos o projeto executivo finalizado. O que resta à universidade é fazer a orçamentação para a licitação. Aí sim vamos começar com uma reforma para acessibilidade e instalações elétricas. Nós esperávamos que a reforma acontecesse nesse tempo em que o museu ficou fechado, mas não saiu. Então, teremos de fechar o museu de novo temporariamente ou quem sabe apenas em parte.

 

Como historiadora, é decepcionante ver o museu fechado justamente no ano do seu centenário?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: É decepcionante não só para mim e para a universidade, mas para todo mundo. O importante dizer é que o Museu Republicano não é apenas a área expositiva. Em São Paulo, com o Museu do Ipiranga foi igual. Todos achavam que não estávamos fazendo nada, mas continuamos com os trabalhos. A instituição funciona a todo o vapor. O que não está funcionando são as exposições ao público. Por isso eu até casei esses espaços no centro de estudos. Desde 2022, quando vimos que não conseguiríamos reabrir ao nosso tempo o museu, no retorno das atividades após o auge da pandemia, já fizemos cinco exposições. Compreendemos a situação, pois precisamos entregar o Museu Republicano em segurança, mas é difícil não se decepcionar.

 

Hoje o público como um todo tem interesse em visitar museus?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: Não sei dizer com relação aos museus do interior, mas até nosso fechamento, tínhamos 52 mil visitantes por ano e, para nós, isso é bastante. Ano passado (2022), mesmo com o museu fechado, tivemos mais de 10 mil visitantes no centro de estudos. Muitas vezes as pessoas não têm a instituição como se fosse dela, por ser um bem público. Eles passavam em frente e perguntavam se poderiam entrar. Nós tínhamos de chamá-los para entrar. Então eu acho que as pessoas procuram sim. Há uma demanda por espaços que levam cultura. Eu acho que, quando o museu reabrir, haverá uma demanda reprimida muito grande, como tem sido no Museu do Ipiranga, claro, numa outra proporção.

 

Como foi coordenar o Museu Republicano durante a pandemia?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: Ao longo da pandemia lançamos sites educativos do Museu Republicano com base nos nossos acervos, nas nossas coleções e nas nossas atividades. Temos um serviço educativo que prepara o material para os professores sobre as monções, sobre Almeida Junior, pintor ituano; e o terceiro sobre os cardápios e banquetes da coleção Washington Luiz. Além disso, fizemos também nosso tour virtual para quem quer realizar as atividades para os alunos. Claro que não é o ideal, mas é uma opção que utilizamos durante esse período.

 

Qual é a importância do Museu Republicano para Itu e o Brasil?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O Museu Republicano Convenção Republicana de Itu é uma instituição científica, cultural e educacional, que é especializada no campo da história materializada da sociedade brasileira, com especial destaque para o período entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, quando se dá então o período de configuração do regime republicano no Brasil. Para além da própria configuração da República brasileira, ele trata também da história de Itu e da região, com ênfase nesse mesmo período, sobretudo destacando os artistas ituanos desse período, como Almeida Júnior e Miguelzinho Dutra.

 

Como se deu a criação do museu e o que mudou nele desde sua criação até agora ao completar o centenário?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O museu foi criado no dia 18 de abril de 1923, exatamente cinquenta anos após a realização da Convenção de Itu, no mesmo sobrado que abriga hoje o Museu Republicano. Essa convenção foi formada com a presença de grupos republicanos das províncias de São Paulo e Rio de Janeiro, que discutiam, ainda no Império, as questões políticas e a formação desse grupo que deu as bases da fundação do Partido Republicano Paulista no ano de 1873. Por isso, Itu é considerada o berço do republicanismo e teve-se a ideia de se criar esse memorial, um guardião das coleções de presidentes e das memórias dos ituanos, por meio de documentos que eram doados pelas próprias famílias. Ao longo do século XX o Museu Republicano foi se transformando num espaço de produção de conhecimento histórico, a partir de problemas históricos que dizem respeito às formações humanas da sociedade. A partir de 1989, a cultura material foi assumida como uma área de concentração para análises desenvolvidas na instituição considerando três linhas de pesquisa, definidas naquele momento pelo professor Ulpiano Bezerra de Menezes (Professor Emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), que hoje são norteadoras dos trabalhos. São elas: Cotidiano e Sociedade, Universo do Trabalho e História do Imaginário. As exposições passaram a ser concebidas a partir de problemas e mobilizamos os diferentes tipos de acervos que possuímos na instituição para atender essa proposta.

 

Quais objetos historicamente importantes os visitantes podem encontrar em uma visita ao museu?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O Museu Republicano é composto pelo edifício histórico, onde estão dispostas as exposições; pelo centro de estudos, onde temos todo o acervo de curadoria e administração, além de espaços expositivos; e a chamada Casa da USP, que é apenas a reserva técnica. No museu e no centro de estudos temos em exposições obras originais ou em reprodução dos artistas ituanos; existem peças de mobiliários dos séculos XIX e XX; temos coleções presidenciais, especialmente de Washington Luiz e Prudente de Moraes, que poderão ser encontradas em meio às temáticas que a própria instituição escolhe para poder discutir nas exposições.

 

O papel da USP sempre foi o de mantenedora do museu?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O Museu Republicano nasceu em 1923 como uma extensão do Museu Paulista, de São Paulo, instituição ligada à Universidade de São Paulo, a USP, que tem duas sedes: uma no Museu do Ipiranga e outra no Museu Republicano, em Itu. Quando nasceu, o Museu Paulista pertencia ao governo do Estado e esteve ligado a ele até 1963, mas, com a criação da universidade, em 1934, ele se tornou um órgão completar. São muitos estudos realizados no local, pois não temos apenas exposições e sim também a guarda de documentos em quatro serviços. O acervo é a alma do museu e é em torno dele que as ações ocorrem, onde contamos com uma biblioteca de 32 mil volumes, um acervo histórico com 69 conjuntos documentais, que foram acrescidos em 2007 com mais 24 conjuntos do acervo municipal, como uma contrapartida à utilização da Casa do Barão. O setor de iconografia conta com 10 mil peças distribuídas em 50 coleções, muitas delas fotografias, além de 50 peças das mais diversas tipologias. É uma infinidade de tudo.

 

Quais as atividades desenvolvidas atualmente no Centro de Estudos do Museu Republicano?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: No Museu Republicano funcionam os serviços de biblioteca, acervo histórico com documentação textual, iconografia, serviços de conservação de objetos, administração, comunicação, informática e reservas técnicas. Além disso, temos espaços expositivos no térreo e no primeiro andar. No momento estamos com duas exposições. Uma é “Circulações da Convenção de Itu” e a outra é “Miguelzinho Bordado”. No Auditório ainda temos cursos de extensão, palestras e eventos.

 

O secretário de Turismo de Itu disse recentemente que pretende criar uma rota turística entre os museus da cidade. Isto está mesmo na programação das próximas investidas?
Maria Aparecida de Menezes Borrego: O fortalecimento de instituições culturais e patrimônios, por conta da trajetória histórica, dá uma visibilidade para a região, para a cidade, para a população e para as nossas instituições. Se em Itu são quatro ou cinco museus, então há muito a oferecer para a população. Isto só deverá fortalecer a cultura no interior de São Paulo.

 

COMPARTILHE