Primeira providência será retomar a Zona Azul no dia 16 deste mês, mas ele fala também em melhorar a Guarda Civil e se diz contra a indústria da multa e a implantação de radares de velocidade
Sua experiência no serviço público, somada à sua formação acadêmica em direito e marketing político credenciaram o ex-subprefeito de dois distritos de São Paulo, Gilmar Souza dos Santos, a assumir o comando da Secretaria de Defesa Social da Prefeitura de Salto. Apesar das ligações políticas (ele é do Republicanos, partido simpático ao PL do prefeito Laerte Sonsin Júnior), ele garante que isto não foi o fator preponderante para a sua escolha. “O que me colocou aqui não foi uma ligação partidária, embora isso faça parte de qualquer governabilidade”, disse.
O novo secretário terá catorze meses para comandar uma Secretaria que possui problemas internos e enfrenta muitos problemas externos também. Ele admite que é pouco tempo, mas adiantou que está preparado e disposto e que buscará ajuda. Além disso, afirmou conhecer como governar, após mais de três anos à frente de uma subprefeitura de São Paulo, numa das regiões mais perigosas da grande São Paulo, da qual saiu apenas para disputar uma vaga de deputado, que não conseguiu alcançar.
“Estive à frente de dois distritos e precisei administrar muitos problemas, já que esses distritos são dos mais perigosos de São Paulo… o que me deu certa experiência ao vir para Salto”, garantiu ele, acrescentando que vai promover o retorno da Zona Azul para o dia 16 de novembro, que vai melhorar a Guarda Civil Municipal, fará a reorganização do trânsito, privilegiando a mobilidade, e se disse contra a indústria da multa e a implantação de radares de velocidade. O novo secretário prometeu ainda fortalecer a Defesa Civil para enfrentar as iminentes intempéries climáticas.
Abaixo a íntegra da entrevista:
Na opinião do senhor, o que o credencia a assumir a Secretaria de Defesa Social da Prefeitura de Salto?
Gilmar Souza dos Santos: Eu sou advogado de formação e gestor público, pós-graduado em marketing, fiz direito eleitoral e militei na vida pública, passando por diversos cargos políticos. Tentei uma eleição para deputado estadual em 2022 e obtive quase 11 mil votos, apesar de ter sido uma aliança política para colaborar com o partido. Meu último cargo foi o de subprefeito de dois distritos de São Paulo: Itaim Paulista e Vila Curuçá. Minha atribuição era cuidar de meio milhão de moradores, distritos esses que estão próximos de três grandes cidades: Poá, Itaquaquecetuba e Ferraz de Vasconcelos. Eu saí do cargo para a disputa das eleições, após três anos e três meses, sendo o subprefeito com mais tempo no cargo até então. Adquiri bastante experiência ali e, após a saída, continuei com as atividades no escritório de advocacia em São Paulo, até que surgiu o convite para vir para Salto. Estive à frente de dois distritos que possuíam 120 guardas municipais e duas companhias de polícia militar também com basicamente 120 policiais. Precisei administrar muitos problemas, já que esses distritos são dos mais perigosos de São Paulo. Uma das estações de trem desses distritos, locomove mais de 100 mil pessoas por dia. Isso tudo me deu certa experiência ao vir para Salto. Estou pronto para ajudar.
Qual a relação do senhor com o prefeito Laerte Sonsin Jr.?
Gilmar Souza dos Santos: Nós temos amigos em comum, que fizeram essa aproximação. O Laerte está no PL que é um partido irmão do Republicanos, do qual faço parte. Após o doutor Antônio Ruy Neto ter tido uma ótima passagem (pela secretaria) e depois o Arildo (Guadagnini, que assumiu interinamente a pasta), o Laerte queria alguém técnico. Alguns podem até falar que sou político, mas não, eu me preparei para estar aqui. Além das faculdades nas quais me graduei, eu atuei em campo, atuei em cargos públicos, sou advogado especializado em direito constitucional. Então conheço a legislação e sei como atuar nessa área. O que me colocou aqui não foi uma ligação partidária, embora isso parta de qualquer governabilidade. Em Brasília (DF) isso ocorre com muito afinco.
Embora não more na cidade, o quanto o senhor conhece de Salto?
Gilmar Souza dos Santos: Eu vim do interior do Paraná para São Paulo quando tinha nove anos de idade. Já conhecia a cidade. Tenho amigos aqui e vinha com frequência para cá. Mas quem cuidou de uma população de 500 mil moradores em São Paulo não vê dificuldade em fazer um trabalho em Salto. Fui secretário-adjunto da Habitação, em 2017, no governo João Dória (PSDB), e tive o convite para ser secretário nacional em Brasília. Fui para lá sem saber nada, mas sabia que tinha uma função, que foi cuidar de uma secretaria nacional. Como secretário visitei todos os estados da Federação, todas as capitais e inúmeros municípios. Todos os lugares têm seus problemas, é claro, e uma das primeiras coisas que fiz quando vim para cá foi me inteirar sobre o que está acontecendo. Já estou apaixonado pela cidade e quero trazer para cá toda minha experiência. O Laerte tem me dado essa condição. O fato de eu ter um CEP em outra cidade não me descredencia a nada para fazer um trabalho aqui. Eu serei avaliado pelo meu trabalho e não pelo endereço onde moro. Nada impede que daqui alguns meses eu esteja morando em Salto efetivamente, não é?
O quanto a formação do senhor como marketeiro político corrobora para seu trabalho na administração pública?
Gilmar Souza dos Santos: Ter essa experiência dentro de um meio político é muito importante. Eu lembro que, quando estive como subprefeito, levantei uma bandeira que até então ninguém fazia, que era atribuir os trabalhos ao então prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), como uma forma de mostrar gestão. Quem está numa secretaria tem a responsabilidade de falar sobre a marca do prefeito que ali está. Obviamente vou defender o time em que estou e procuro trazer o que faço para a gestão do prefeito Laerte, porque é ele quem está na ponta. Então, essa minha experiência vai me ajudar, por exemplo, a orientar algum outro secretário. Se há um grupo de pessoas inteligentes, pensantes e que possam agregar, tudo isso ajuda. E sempre me ajudou por onde passei.
Catorze meses (até o final da gestão Laerte Sonsin Jr.) é tempo suficiente para colocar as ideias do senhor em prática?
Gilmar Souza dos Santos: O grande desafio não é construir, mas sim manter. Mas, só manter não resolve. Eu quero melhorar. E para melhorar, temos um desafio. Catorze meses não serão suficientes, até porque, na minha opinião, para desenvolver um trabalho bacana, o secretário tem de começar junto do prefeito, no início da gestão. Agora, eu sou uma pessoa de missão e pode ter certeza de que, enquanto estiver aqui, farei o meu melhor. Tenho alguns projetos importantes que recebi e estou me esforçando para entregar todos eles, a contento, para a população saltense.
Quais as maiores dificuldades encontradas na pasta que o senhor assumiu e como fará para resolvê-las?
Gilmar Souza dos Santos: Dificuldades nós temos em os lugares. Temos de melhorar o trânsito, por exemplo. Mas, para isso devemos entender que o polo gerador desse trânsito não é apenas Salto. Temos Campinas, Indaiatuba, Sorocaba e outras importantes cidades que nos circunvizinham. Diferentemente, por exemplo, de Manaus (AM), onde já estive algumas vezes, em que noventa por cento dos moradores estão na capital, enquanto o restante está em cidades represadas com ligações através de barcos. Salto tem uma frota de, aproximadamente, 86 mil veículos e considerando apenas a população que estaria apta a dirigir, são praticamente de 2 a 3 carros por moradores. Temos de melhorar não apenas o trânsito, mas também a mobilidade urbana. Precisamos ter fluidez no trânsito. Os secretários anteriores fizeram mudanças importantes em vias da cidade e já estamos em consultas públicas para melhorias em outras ruas. Ninguém merece ficar parado no trânsito por 20 ou 30 minutos. Outro desafio é estabelecer a nova sede da Guarda Civil Municipal e, para isso, já estou procurando recursos em Brasília, além de fortalecer a Defesa Civil, já que Salto enfrenta, e isso não é de agora, problemas em relação às chuvas.
Como estão as discussões para a implementação do estacionamento rotativo, a conhecida Zona Azul, em Salto?
Gilmar Souza dos Santos: Primeiramente, não quero que a chamemos de Zona Azul, porque carrega no nome um estigma de multar e multar. A pessoa quando vê as palavras Zona Azul, imediatamente já pensa num talão e num agente de trânsito multando. E não é o que queremos. A missão é fazer com que o Centro de Salto tenha vagas para estacionar, o que é uma reclamação recorrente dos comerciantes. Eu peguei esse processo em andamento e o meu desafio foi priorizar essa questão. Me debrucei com a equipe de Trânsito, com a de Tecnologia e com a de Comunicação e hoje já temos o nosso carro guardião pronto com as câmeras instaladas e vamos colocar, no total, 150 placas informativas. Dia 16 de novembro nós vamos dar o start no estacionamento rotativo. E o principal, nosso lema não é multar e sim fazer com que o comércio tenha vagas. E com um diferencial. Se por um acaso o motorista esquecer de colocar o crédito, terá até 24 horas para fazê-lo. Isso não existe em lugar nenhum.
Há uma reclamação sobre a atuação dos guardas em relação à aplicação excessiva de multas. Como pretende orientá-los?
Gilmar Souza dos Santos: A minha orientação e a do prefeito é de educar. O trânsito tem de ser educativo e não punitivo. Muitas pessoas já são punidas, entre aspas, pela lentidão do trânsito, natural em qualquer cidade. Os guardas não devem ficar escondidos com o talão na mão e até binóculos, como acontecem em outras cidades, para poder multar e criar essa indústria de multa. Obviamente temos sanções estabelecidas por lei. O agente não pode ver alguém usando o celular ao volante ou atravessando no sinal vermelho e orientar, pois, o que mais existe hoje são peças publicitárias informando sobre os riscos dessas práticas. Mas a lavratura dessas multas só acontecerá em algumas circunstâncias.
E em relação aos radares, eles serão instalados?
Gilmar Souza dos Santos: A essência do radar é avaliar onde existem muitas colisões, muitos acidentes de trânsito. Se não temos um trânsito que mata, para quê ter radares? Em algumas cidades, o interesse do radar é realmente multar. Nossa visão é não ter radar. Queremos estabelecer semáforos onde necessário, ter mais agentes de trânsito, ter uma melhor sinalização, de maneira com que os motoristas consigam trafegar de forma tranquila. Então, o radar não está no nosso radar. Eu sou contra isso, inclusive. É algo inaceitável ao meu modo de ver e conduzir o trânsito.
Na segurança pública, o senhor acredita que há alguma região que mais necessite atenção do Poder Público hoje?
Gilmar Souza dos Santos: A segurança tem de ser feita de forma completa. Não tem como privilegiar ou pensar num bairro isolado. Segurança pública tem de ser pensada de forma macro. Por isso temos a muralha eletrônica com 101 câmeras instaladas e temos o patrulhamento da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar, de forma que o morador de qualquer extremo da cidade tenha sensação de segurança. Não adianta a cidade ser segura, ela tem de parecer segura para a população. A pessoa precisa ter o sentimento de poder sair de casa com o celular na mão e saber que ninguém irá roubá-la no meio do caminho. Temos índices bons nos rankings de segurança, mas isso apenas não basta. Precisamos melhorar. Infelizmente há alguns bairros com maiores índices de criminalidade e o meliante se locomove. O furto ocorre em qualquer lugar.
A Defesa Civil está preparada e equipada para atender as iminentes ocorrências de cheias dos rios no período chuvoso?
Gilmar Souza dos Santos: O prefeito Laerte quer melhorar a nossa Defesa Civil contatando mais pessoas. Temos, de momento, em nosso radar pedir ajuda ao Estado. Hoje não temos efetivo suficiente para atender todas as demandas. Sobre as chuvas, vamos criar sistemas de alertas para as pessoas que moram em áreas de risco e fazer um trabalho junto ao governo do Estado para fortalecer. É pouco? É. Mas é o que podemos fazer agora.
O senhor já teve algum contato com os representantes da Câmara de Vereadores. Já os conheceu pessoalmente?
Gilmar Souza dos Santos: Tive sim, com alguns da base do prefeito e outros que não são da base. Eu ainda vou em cada gabinete conversar com cada um dos vereadores. Se ele vai me atender, aí já não sei, mas eu vou. E vou pedir recursos para a Defesa Social. Oposição é oposição em qualquer cidade, mas devemos ter um nível de oposição. Não podem nos rebaixar a qualquer custo. Até porque, a população não quer saber de qual sigla o vereador ou secretário são e sim se irão ajudar na resolução dos problemas.
Como o senhor avalia o mandato do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobretudo no que envolve a sua pasta?
Gilmar Souza dos Santos: O Tarcísio quebrou um vínculo tucano de quase trinta anos. Ele trabalhou no governo Dilma Rouseff, no governo Michel Temer e no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quando ele vem para São Paulo é um grande desafio. Mas o Tarcísio tem uma habilidade com a qual vem conseguindo fazer um grande trabalho. Montou uma base forte e tem mostrado um perfil de equilíbrio, sem ser radical, tanto de esquerda quanto de direita. Ele está dando um show em segurança pública. Colocou o (Guilherme) Derrite como secretário de Segurança Pública, que não é da alta patente da Polícia Militar, mas conhece. Então você vê que a experiência não é pelo tempo de casa, mas pelo convívio. Temos reuniões marcadas na Casa Civil e com alguns deputados justamente para ter essa parceria com o governo do Estado visando trazer melhorias para Salto. São construções políticas que eu estou tentando buscar para manter ou melhorar ainda mais a segurança.