Mas se permitir, essa casca passa a ser você.
Tomando consciência aos poucos de que existimos, vamos percebendo que somos humanos, que pessoas nos cuidam, nos rodeiam e vamos descobrindo o mundo, ou talvez apenas o nosso mundo. Pai, mãe, irmãos vão tomando forma e nos dão a consciência de família, mesmo sem consciência alguma.
Na maior parte das vezes é bem pequenino o nosso mundo, a casa, a vizinhança que pode conter outros pequeninos como nós ou nem.
Um cãozinho ou gatinho nos dão a noção de gente e bicho. Eles são bichos, nós somos gente. Mesmo que as atitudes às vezes nos confundam.
Palavras nos rodeiam o tempo todo e não fazem sentido algum. Só percebemos através de sentimentos se elas são doces ou se nos ferem.
Possivelmente, tudo o que te rodeia é doce, suave, tranquilo e ameno enquanto você vai crescendo, aprendendo e entendendo as palavras que ouve de vozes, de músicas e das pessoas que te cuidam e servem, por ser um ser pequenino e necessitado de cuidados especiais. Se for uma criança normal, que a maioria de nós é, será muito bem cuidado, acarinhado e segue crescendo, percebendo e entendendo mais, tudo que há a sua volta.
E com o tempo passando, vai conhecendo outras pessoas, outras histórias, se tornando aos poucos o adulto, que será tua casca pela maior parte dos teus dias. Se conseguir se manter lá atrás, onde sua vida começou, onde foi feliz, onde aprendeu tudo que estava disponível para que aprendesse, possivelmente sua casca será só tua imagem e você se manterá onde o mundo era todo seu, para ser descoberto ou inventado.
Penso que esta realidade de tudo lindo na primeira infância é minha, pode ser a de muita gente, mas nem sempre é a de todos. Os seres pequeninos que não foram bem cuidados e tratados por quem teria a competência de, provocam-me sempre um grande nó na garganta.
E vou pensando o que seria se todos os desviados desta vida tivessem sido um ser pequenino de vida boa, linda, bem cuidado, amado. Tudo seria perfeito ou a casca inevitável tomaria conta de tudo, bonito ou não e nos encaminharia aos desvios feios da vida?
Essa conversa toda estranha é parte do que minha mente faz comigo todos os dias, todas as noites e desta mistura de sentimentos e pensamentos e tentar entender, e ficar e voltar e ir outra vez para lá, para o passado que me encanta e de onde busco fonte de energia para prosseguir e não deixar que minha casca me domine totalmente.
E este adulto que é minha casca, se rende ao ser pequenino que fui todos os dias e vou agradecendo, ter existido lá no passado e me manter ainda por lá, para que aqui, a vida me seja mais leve, mais bonita e com as cores da infância que tanto amo ter vivido.
Que o seu Dia das Crianças tenha sido feliz e que seu adulto seja só e sempre, a casca inevitável de ti.
Talvez eu volte mês que vem contando ainda sobre “os amores que eu tive”.
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