“Desastre”. Foi a palavra usada pela historiadora Heloísa Starling (UFMG) para definir o veto do presidente Lula aos eventos relacionados à memória de 1964, ano do golpe militar, que seriam realizados pelos ministros do atual governo, tendo destaque o pedido público de desculpas pelo Ministério dos Direitos Humanos. O “Dedinho de Prosa” assina embaixo a expressão da historiadora.
O atentado contra a democracia, materializado em golpe de Estado há sessenta anos, deve ser lembrado. Não é aceitável tal silenciamento. Uma das possibilidades para o veto é o fato do avanço nas investigações dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, colocando alguns militares do alto escalão “em xeque”. Lula sabe bem o que ele quer com tal atitude. Memória é um negócio perigoso, mas esconder do povo os crimes contra os direitos humanos promovidos pelo regime da ditadura, blindando tal memória, é um desrespeito contra o estado democrático. Está com receio de expor os golpistas (de ontem e de hoje) por qual motivo?
Datas redondas, como os sessenta anos do golpe burguês/militar, são sempre simbólicas para a memória, mas neste texto é necessário falar do esquecimento. Ao longo da construção das narrativas históricas, por diversos motivos, grupos dominantes escolheram o que esqueceriam e quem silenciariam. Ora, por quanto tempo a história da mulher, do negro, indígena, do operário ou LGBTQIAPN+, dentre outras minorias, não foram esquecidas em nossa história? A luta pela visibilidade dessas outras histórias é constante e gigante.
Com o desastroso veto, o Governo Federal está silenciando homens, mulheres, crianças, religiosos, ateus, operários, gays, poetas, artistas, enfim, diversas pessoas que militaram contra o golpe, pelo fim das torturas, pelo direto de liberdade política, pelo fim dos desaparecimentos “inexplicáveis” e pelo fim das violações dos direitos humanos em suas mais variadas facetas. 60 anos após o início da ditadura, o governo escolhe o silêncio.
História e memória são campos de disputa, escolhe-se o que lembrar e se escolhe (propositalmente) o que esquecer. É preciso falar do silêncio e do esquecimento. Por sorte, diversas instituições estão levantando debates ao longo do mês de março e abril, publicações de artigos ou livros, entrevistas como a da historiadora aqui mencionada são colocadas ao público para que todos se lembrem de mais esse episódio golpista em nossa história (seja 1964 ou 2023) afinal, a história primeiro acontece como tragédia, depois como farsa.
Um bom fim de semana a todos e todas.