Um engenheiro conheceu um matuto de rodagem (matuto de rodagem, é aquele matuto que larga a roça e vem trabalhar em obras governamentais, do tipo, abrir, construir estradas e acaba ficando).
O matuto normalmente acostuma ficar na dele, só observando, se alguém não o abordar, ele não responde.
De repente o engenheiro disse:
O matuto, você sabe quem sou eu?
Mais ou menos, respondeu o matuto.
Mais ou menos como? gritou o engenheiro. Ou sabe ou não sabe.O sinhô, pelo jeito, deve ser o engenheiro, né? respondeu o matuto: oia, faz três dias que estou aqui, já vi um servente de pedreiro dando um duro danado, um carpinteiro fazendo uns caixotes, já vi um ferreiro dobrando os ferros, um mestre de obras batendo níver e o sinhô faz três dias que está aqui sem fazer nada, só oiando…
Aí o engenheiro se defendeu:
Eu sou o engenheiro sim, não é que não estou fazendo nada. Sou engenheiro formado em engenharia de estradas, passei cinco anos numa faculdade, eu estou aqui supervisionando. Você está vendo aquele instrumento ali?
O matuto olhou para o instrumento que ele apontava.
O engenheiro continuou:
Aquele instrumento se chama “Teodolito”. É um instrumento de precisão suíça. Serve para traçar as curvas de nível, para sabermos onde é o melhor local para se rasgar a estrada, compreendeu?
Compreendi mais ou menos dotô, disse o matuto.
O engenheiro perguntou:
Você, quando quer abrir uma estrada, como você faz?
Respondeu o matuto:
Nois pega um jumento, apruma ele no sentido que a gente qué e dá um tapa na garupa do jumento e o jumento vai embora sozinho. Ele só escoie lugar bão prá passa, doutô. Essa tal de curva de níver que o sinhô falô, ele vai nela!
Sim, disse o doutor:
Mas e se não tiver jumento?
Isso num farta douto. Desde que nasci, tô com essa idade e nunca fartô jumento. Eu tenho fé em Deus e peço ao padrinho padre Cícero que nunca farte jumento.
E se não tiver jumento? perguntou de novo o engenheiro.
Respondeu o matuto:
Se fartá, que Deus o livre, aí o jeito que têm é contratar um engenheiro…