Um artista apaixonado e experiente me disse esses dias, após uma salva de palmas: “Isso é a melhor coisa do mundo. Não tem preço”. Eu levei um tempo para digerir. Achei tão verdadeiro e bonito, para alguém que dedica sua vida à arte, considerar a apreciação de seu ofício a quintessência.
Mas em uma reflexão aprofundada, Guy Debord (escritor francês) sussurra no meu ouvido como o mundo se tornou um palco, e a busca pelo estrelato, o âmago da sociedade. Na atualidade, o sentimento de importância de Dale Carnegie é satisfeito pelo aplauso. Performar é o novo viver.
Num cenário dominado pelos múltiplos canais midiáticos, o real se dilacera. Ele se multiplica nas cenas e recortes dos veículos comunicacionais. Cada lugar, cada grupo, cada situação pede um papel diferente. A sociedade é de atores, sem espaço para improvisos, sem lugar para a espontaneidade no ofício. Estamos constantemente lutando pela aceitação nos cenários variados da contemporaneidade, atuando em diversos papéis, buscando o personagem que mais se encaixa. O homem se perde em suas facetas fictícias e ilusórias.
Desconstruímos os rituais dionisíacos, os palcos italianos. Quebramos a barreira tempo-espaço e a quarta parede. O palco do agora é um simulacro. Nesse palco, a verdade é silenciada pelo aplauso. Não é sobre artistas, como Stanislavski, dedicados à arte pura e real. É sobre o estrelato. Os homens-estrelas, buscando mais brilho, ofuscam uns aos outros num inevitável processo de autocombustão. Mas o fogo não queima enquanto uma plateia inteira aplaude de pé.