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Obras paralisadas: por que não há necessidade de demolir?

A paisagem urbana de muitas cidades é pontuada por esqueletos de concreto e estruturas inacabadas. Na pandemia, esse problema foi agravado em razão da paralisação das atividades para conter a Covid-19. São obras que, por diversas razões –sejam elas financeiras, burocráticas, forças da natureza, sanitárias ou ainda de planejamento–, encontram-se paralisadas. Diante desse cenário, surge uma dúvida recorrente: seria necessário demolir uma obra que permaneceu por muito tempo exposta às intempéries? A resposta é: nem sempre.
Aqui estão algumas considerações sobre o assunto:

  1. Avaliação estrutural: antes de qualquer decisão, é fundamental realizar uma avaliação estrutural. Um engenheiro ou arquiteto capacitado poderá determinar a integridade dos pilares, vigas e lajes. É possível que, mesmo após anos exposta, a estrutura continue sólida e segura para dar continuidade à obra.
  2. Intempéries e proteção: sol, chuva e variações térmicas afetam, sem dúvida, as estruturas. No entanto, materiais como concreto armado têm uma boa resistência a essas condições. Se a obra foi bem-feita inicialmente, com o uso de materiais de qualidade e técnicas corretas, sua resistência será maior.
  3. Reparações e reforços: mesmo que haja algum grau de deterioração, nem sempre a solução é a demolição. Muitas vezes, reparos localizados ou reforços estruturais são suficientes para revitalizar a obra. Isso pode incluir a aplicação de resinas, injeções de concreto ou até mesmo a colocação de novos elementos estruturais.
  4. Economia e sustentabilidade: demolir uma estrutura tem custos financeiros e ambientais. Além dos gastos diretos com a demolição, há o desperdício dos materiais já empregados. Se uma obra paralisada pode ser retomada e concluída, isto significa economia de recursos e uma atitude mais sustentável.
  5. Reaproveitamento e adaptação: em alguns casos, o propósito original da construção pode não ser mais viável. Entretanto, a estrutura existente pode ser adaptada para novos usos. Por exemplo, um prédio inicialmente destinado a ser um hotel pode ser transformado em um condomínio residencial.
    Conclusão: é compreensível que a visão de uma obra parada suscite preocupações e dúvidas. No entanto, a demolição não é a única e nem sempre a melhor solução. Com planejamento, avaliação técnica e uma visão inovadora, essas estruturas podem ganhar nova vida, servindo à comunidade e ao desenvolvimento urbano de forma eficiente e sustentável.

Fábio Passarela é engenheiro, economista e mestre em sustentabilidade

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