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Os amores que eu tive

Foram tantos que tenho certeza de que não há espaço suficiente para que eu conte sobre todos eles aqui.
Mas gosto de relembrar e quando o faço me encanto de novo por cada um, iniciando pelo meu avô materno, Matheus Martins Guerra, mineiro de riso fácil, sempre com um causo para contar e entreter quem estivesse por perto. Era lindo ver os sobrinhos que vinham visitá-lo, pois tendo morado todos perto uns dos outros, este tio deixou marcas no coração de cada um e recebia a visita de muitos, exatamente por isto. Coisas que não costumam ser faladas, mas quem tem este bom sentimento, desde muito cedo percebe os bem quereres de uns pelos outros. Eu percebia. Meu avô recebeu muito deste tipo de amor e eu fui feliz, por o ter por avô e poder ver o quanto era amado não só por mim, mas pelos filhos, irmãos, sobrinhos e os outros netos.
Meus tios e tias se divertiam muito conversando com a menina faladeira e sapeca, mais conhecida como: eu mesma! E eu amava estar com eles, que se dispunham a brincar, ouvir, falar e o principal de nossos dias juntos, que era rir e fazer rir.
Meus amigos de escola, cada um deles com sua particularidade e os mais amados, imitados em caligrafia, em modo de andar, em querer vestir igual, pois não deixavam de ser ídolos do mesmo tamanho que o meu e ainda assim, gigantes aos meus olhos de se encantar com os detalhes de cada um e de todos. Viver com eles era o melhor de todos os meus dias, por isso escola para mim era tão importante. Eu os tinha, lá. A paixão pela leitura nasceu ali, primeiro com os gibis do tio Patinhas que o Luis Carlos me emprestava, depois os tantos do Ari Gonçalves, pai dos meus amigos Junior e Eder, como os gibis do Superman, Recruta Zero, Turma da Mônica. Que maravilha eu achava saber ler e escrever. Escrevia apenas cartas e as colocava no correio feliz, passando a aguardar a resposta com fervor. Até doía esperar resposta chegar e quando chegava, eu era capaz de aguardar um dia, no máximo dois, antes de abrir, para assim ficar imaginando antes o que poderia haver ali de novidade sobre nossas pequenas vidinhas.
Biblioteca municipal. Este local foi um caso de paixão bem resolvida da minha vida. O prédio imponente, onde eu chegava e subia aquelas escadas de mármore e me sentia moradora de lá. Era um verdadeiro ritual, sair da minha casa aos 8 anos de idade, no período da tarde, já que pela manhã estava na escola, no meu querido Tancredo e depois do almoço em casa, lavar a louça que a mãe mandava e só depois poder sair para me dedicar a conhecer o Sítio do Pica Pau Amarelo todinho e querer conhecer o meu primeiro amor em forma de escritor, Monteiro Lobato, sem saber ainda, que dezoito anos antes de eu vir ao mundo, o moço que me alegrava as tardes contando sobre as tantas aventuras vividas por Pedrinho e Narizinho, já havia deixado este mundinho. E como eu queria poder dizer a ele que aquilo tudo ele escreveu para mim, pois não podia haver no mundo uma criança que gostasse mais daquele lugar, o sítio, do que eu. Zélia, a bibliotecária, era minha única companhia naquele silêncio maravilhoso.
E como eu disse que aqui não caberia contar dos tantos amores que tive na vida, pauso o causo e volto mês que vem para contar mais deles e sobre eles.
Que agosto venha leve.

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