A música sempre fez parte da vida da saltense Elizabeth Milanez que, além de pianista, foi a fundadora do Conservatório Musical Maestro Henrique Castellari em 1966. Elizabeth começou a tocar piano aos cinco anos de idade e levou seu amor pela música para muitos outros estudantes.
Em entrevista ao PRIMEIRAFEIRA, Elizabeth contou sobre o seu amor pelo piano, o início do Conservatório Musical Maestro Henrique Castellari e como, após a venda do conservatório para o Poder Público, o conservatório perdeu a oficialização definitiva, que permitia com que os alunos recebessem diplomas reconhecidos em todo o território nacional pelo curso realizado.
Confira a entrevista na íntegra:
A música sempre esteve presente na sua vida?
Elizabeth Milanez: Eu comecei a estudar piano com cinco anos de idade. Ganhei um piano do meu pai, ele tentou me dar um ‘pianinho’ de brinquedo, mas eu não quis. Aí ele comprou um piano alemão para mim em São Paulo, eu sempre tive facilidade e então continuei com o piano. Minhas irmãs tocaram um pouco também, mas não seguiram. Minha mãe tocava violino no tempo que o cinema era mudo. A paixão pela música sempre foi algo da família. Eu estudei com Magda Tagliaferro, ela vinha de Paris e ministrava cursos em São Paulo, estudei em diversos lugares. Também estudei no Conservatório de Campinas, mas terminei o meu curso, fiz o oitavo e nono ano, no Conservatório de Itu e lá eu peguei o meu diploma.
A senhora fundou o Conservatório Musical Maestro Henrique Castellari em 1966, certo? Como surgiu essa ideia?
Elizabeth Milanez: Eu estava formada em 1964, já estava diplomada em piano, após eu estudar em diversos lugares, porque Salto não tinha nada. Então eu quis abrir uma escola de música porque Salto só tinha o grupo escolar e o Coleginho. A minha foi a terceira escola oficializada. Sempre quis colaborar um pouco com a educação na cidade. Meu pai sabia muito sobre o Maestro Henrique Castellari e teve a ideia de colocar seu nome no conservatório.
O que foi preciso para oficializar o conservatório?
Elizabeth Milanez: Tinha que ter no mínimo três pianos, tinha que ter sala para balé, acordeom e tinha tudo no conservatório. Eu funcionei três anos para conseguir a oficialização definitiva. Nós éramos visitados por fiscais do Serviço de Fiscalização Artística, inspectores vinham realizar exames, exames de admissão, exames parciais e exames finais. Por três anos eu funcionei assim. Cada ano que nós agíamos direitinho, nós passávamos para o ano seguinte. E depois, no terceiro ano, o conservatório foi oficializado, já poderia expedir diplomas, tivemos várias formaturas e muitos formandos. E depois Salto perdeu tudo isso.
Como Salto perdeu a oficialização definitiva do conservatório?
Elizabeth Milanez: Eu vendi o conservatório na época do prefeito Josias Costa Pinto (prefeito durante os anos de 1969 e 1976) porque as minhas filhas estavam em idade escolar, eu morava em São Paulo e não podia ficar viajando com elas. Então eu vendi para a Prefeitura e se tornou o Conservatório Municipal. Se eu não vendesse, teria que entregar o conservatório para o Serviço de Fiscalização Artística e Salto perderia uma escola de música já oficializada. Mas fiquei cerca de 10 anos com o conservatório, o vendi na década de 1970. Eu nem sei quando o conservatório perdeu o serviço de fiscalização e com isso não pôde mais emitir certificados, porque não me falaram, eu só fiquei sabendo depois. Eu nem sei sequer quem era o diretor do conservatório na época. O Serviço de Fiscalização Artística foi extinto e passou tudo para o Ministério da Educação (MEC). Quando o MEC pediu a documentação para o conservatório, eles não entregaram no prazo, perdeu por decurso de prazo. Perderam tudo o que eu fiz pela cidade. Tudo. Hoje, o curso é de ouvinte. Você vai lá como ouvinte. Você nunca vai receber um diploma reconhecido em todo o território nacional. Um dia, eu estava conversando com uma diretora e você não acredita o que eu ouvi. Eu perguntei como eles perderem a oficialização e ela falou, ah, não precisa. Para que a oficialização? Para que ganhar diploma? As pessoas vêm aqui para aprender a tocar piano, aprender a tocar violão, apenas para tocar na igreja evangélica. Uma ignorância pura, eu quase desmaiei quando ouvi.
Qual foi a principal dificuldade em fundar e manter o conservatório?
Elizabeth Milanez: Olha, sinceramente, eu não tinha dificuldade. Eu sempre tive minha renda particular. Eu fazia excursões com os alunos do conservatório e quem não podia pagar, eu pagava. Eu nunca tive problema com dinheiro e nunca fiz como as escolas fazem hoje, que organizam essas excursões para angariar dinheiro para o próprio bolso. Os alunos pagavam, por exemplo, a despesa do ônibus, e eu pagava todo o resto. Eu não precisava de dinheiro, porque meu pai, graças a Deus, era muito bem de vida e eu me virava de todas as maneiras. Eu era meio louca, eu vinha para São Paulo, comprava camisas e vendia. Eu era representante de fábrica de piano. Sempre, desde que eu tenho idade, eu queria ter o meu dinheiro.
A senhora segue ministrando aulas de piano atualmente?
Elizabeth Milanez: Eu dou aulas em São Paulo e em Itu também. Eu moro em São Paulo, mas como a minha irmã é idosa já e mora em Itu, eu quis pegar uns alunos em Itu, aos finais de semana, para ficar com a minha irmã.
Qual o principal conselho da senhora para quem quer trabalhar com música?
Elizabeth Milanez: Em primeiro lugar tem que estudar e buscar bons conhecimentos. A pessoa tem que se instruir, porque não pode sair por aí dando aula de música ou fazendo show sem ter conhecimento, não é verdade? A melhor idade para se estudar piano são alunos pré-escolares. O estudo do piano estimula o cérebro, aumentando as sinapses entre os neurônios, formando uma rede elétrica muito maior, o que aumenta a habilidade para estudo de outras ciências, em torno de 37%. No piano a mão direita toca na clave de sol e a mão esquerda na clave de fá. Então, é a mesma coisa que você estar lendo um livro em duas línguas ao mesmo tempo. A música aumenta as habilidades para o aprendizado de muitas outras ciências. A pessoa fica muito mais capacitada.