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Presidente da Assisa vê crescimento da indústria em Salto a patamares melhores que antes da pandemia

Mas, se as condições estão melhores, ainda faltam providências do Poder Público para acelerar o processo e o aproveitamento de ideias, como a criação de um guia das empresas da cidade

A Indústria foi um dos setores que mais geraram empregos na cidade de Salto no ano de 2023, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged. O setor vive um momento de retomada após os impactos causados pela pandemia, com expansão motivada pela vinda de novas empresas e pela ampliação daquelas já existentes no município.
Em entrevista ao PRIMEIRAFEIRA, o presidente da Associação das Indústrias de Salto, a Assisa, Thiago Isola, disse que o momento de crescimento do setor é impactado pelo maior consumo do mercado interno e comentou as projeções para a cidade nesse ano de 2024. “Estamos tendo a notícia da vinda de grandes empresas, como, por exemplo, uma do setor de vidros, que está se instalando e, sozinha, vai gerar quase 500 empregos diretos. Há uma outra indústria de veículos especiais de origem americana, que também está transferindo sua unidade para Salto. Isso se reflete de várias formas e não apenas na mobilização industrial. Tendo mais empregos, naturalmente o consumo interno tende a aumentar e isso repercute no Comércio”, comentou o dirigente.
Isola citou ainda a necessidade de investimento em infraestrutura urbana para seguir atraindo novos empresários e a possibilidade da criação de produtos que facilitem uma melhor comunicação entre as empresas na busca por negócios e por novos profissionais. “Além de ajudar a vender a cidade para fora, também facilita o networking interno, já que o empresário dá preferência para a facilidade logística e para a melhoria da própria cidade”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Como está sendo a retomada da Indústria no pós-pandemia?
Thiago Isola –
A pandemia afetou todo mundo, a exceção apenas das empresas ligadas à Saúde. No primeiro ano pós-pandemia (2022) foi tudo muito difícil para algumas empresas, que acabaram usufruindo de benefícios governamentais. Desde o ano passado estamos vendo um cenário diferente e até que, de certa forma, corrente. Esse período de pandemia nos trouxe alguns cenários importantes. Um deles é com relação ao consumo interno. Antes mesmo da pandemia tínhamos algumas empresas em Salto que reduziram significativamente o número de funcionários por diversos fatores, principalmente por conta do mercado internacional, que inseria matéria-prima com um custo bastante acessível. Na pandemia houve uma trava para essas importações, devido à paralisação do tráfego de navios pelos motivos que todos conhecem. Com isso, as empresas passaram a entender a importância de ter uma fatia dessas matérias-primas oriundas das empresas nacionais, por segurança e como um aprendizado moral.

Podemos dizer que a Indústria voltou ao patamar pré-pandemia?
Thiago Isola –
Acredito que sim, mas com um cenário ainda mais positivo. Estamos tendo a notícia da vinda de grandes empresas, como, por exemplo, uma do setor de vidros que está se instalando e, sozinha, vai gerar quase 500 empregos diretos. Há uma outra indústria de veículos especiais, de origem americana, que também está transferindo sua unidade para Salto. Isso se reflete de várias formas e não apenas na mobilização industrial. Tendo mais empregos, naturalmente o consumo interno tende a aumentar e isso repercute no Comércio.

E por que esse avanço não ocorreu antes?
Thiago Isola –
Eu falo com propriedade, pois já estou no terceiro mandato à frente da Associação das Indústrias e uma das grandes problemáticas era a falta de qualificação. Por isso, acabávamos importando a mão de obra com qualificação técnica e específica de outras cidades. As empresas tinham vaga disponível e não encontravam esses profissionais no mercado municipal. A atual gestão ouviu a Associação das Indústrias e passou a consultar as empresas para entender as suas necessidades. Optou-se por trazer cursos de formação rápida para que, quem estivesse desempregado, pudesse ter atividades autônomas, como, por exemplo de eletricista, encanador, corte e costura, entre outros. Já no pós-pandemia a missão era trazer qualificação para a necessidade das empresas. Tivemos cursos de pneumática, soldador e operador de empilhadeira, todos cursos que nunca tivemos na cidade. E sempre que havia esses cursos, as vagas eram rapidamente preenchidas. Essa formação foi um divisor de águas.

E quais as novidades no setor para 2024, em Salto?
Thiago Isola –
Hoje temos um cenário favorável, com pelo menos quatro indústrias de grande monta se instalando na cidade que, somadas, devem gerar quase mil empregos. Algumas estão em fase de mudança e, por questão complexa de regularização, não podemos divulgá-las. É uma série de licenças que precisam ser obtidas que as impedem de iniciar o funcionamento. Nos próximos meses deveremos ter novidades quanto ao início das atividades. Esse progresso deve permanecer para os próximos anos, já que cada nova empresa que se instala na cidade tem a necessidade de que outras prestem serviços, o que, por sua vez, ampliará as contratações. É um ciclo.

Quais os problemas que ainda precisam ser resolvidos no setor industrial da cidade para melhorar essa situação?
Thiago Isola –
Questões problemáticas que precisamos apontar e que devem ser corrigidas ao longo do tempo são várias, mas principalmente o fornecimento de água, que impacta muitos segmentos. Empresas de injeção plástica, por exemplo, utilizam equipamentos de resfriamento que precisam de água. Empresas de galvanoplastia também precisam de água, assim como indústrias do setor alimentício. A água é quase uma matéria-prima para muitas empresas e a falta dela causa um impacto considerável. Outra questão, que já melhorou, é em relação à disponibilidade de imóveis. Estamos vendo o setor imobiliário investindo na construção de galpões de características industriais. Tivemos o caso de uma empresa do setor de extrusão de alumínio, que tinha se mudado para Salto havia alguns anos e que cresceu bastante, e precisava de um imóvel muito ajustado. O proprietário, certa vez me acionou, já decidido a mudar para Sorocaba, mas eu intervi e conseguimos localizar um imóvel que atendesse as necessidades. Ele ocupou esse novo imóvel e ainda permaneceu no antigo. A segurança também é algo a ser melhorado. Tivemos alguns problemas significativos no passado, com alguns furtos cinematográficos em que levaram um centro de usinagem inteiro. Nos últimos anos tivemos bastante diálogo com a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal e se minimizou a quantidade de ocorrências.

Qual a importância de um Parque Tecnológico para Salto, uma das promessas da atual gestão?
Thiago Isola –
Um Parque Tecnológico sempre se mostrou positivo e o exemplo maior disso e referência é Sorocaba, com um Parque Tecnológico maravilhoso. A importância de um equipamento desses é muito grande. Ele servirá como laboratório e centro de networking entre as empresas. Tendo o apoio do Poder Público auxiliando com a disponibilização de um espaço e condições, é fundamental para o desenvolvimento. Agregado a isso, seria fundamental ter uma incubadora de empresas. Tivemos algumas vivências, como, por exemplo, a incubadora criada em Itu, na qual um empresário que iniciou lá com dois ou três colaboradores, hoje é uma das maiores empresas de fornecimento de sistemas automotivos. Ele permanece em Itu, mas hoje é uma empresa gigante. A incubadora é a oportunidade de ter um espaço e ter um apoio, como, por exemplo, do Sebrae e do Senai. Para o empreendedor, hoje, colocar a cara a tapa, sozinho, é um risco. Mas, quando se tem um suporte administrativo e financeiro é excelente, além de ser um atrativo maior.

Você acredita que falta uma melhor comunicação entre os empresários locais e deles com o poder público?
Thiago Isola –
A cidade, de fato, precisa ter um melhor cadastro de quem está na cidade. Durante a pandemia, tive uma experiência com um empresário que tinha um problema de falta de um material específico. Ele me mostrou o que precisava e eu o apresentei outro empresário que fornecia o devido material. Nesse momento, intermediei essa ligação e ambos se tornaram fornecedor um do outro. Eram empresários da mesma cidade que sequer se conheciam. Até por isso ressalto a necessidade de um catálogo de empresas, como havia antigamente os catálogos de telefones. Além de ajudar a vender a cidade para fora, também facilita o networking interno, já que o empresário dá preferência para a facilidade logística e para a melhoria da própria cidade. Temos empresas de todo o tipo de segmento na cidade que muitos nem sabem. Por exemplo, temos uma empresa que faz peças para helicópteros em Salto. Por isso é importante ter essa informação clara e fácil.

Salto teve uma queda no número de exportações e de importações no último ano. A que você atribui esse fato?
Thiago Isola –
Acredito que isto se dá, como disse anteriormente, pelo consumo no mercado interno. Isso tem um impacto por conta da pandemia, mas muitas empresas melhoram por isso. E as empresas passaram a entender que consumir internamente é necessário. A pandemia foi uma surpresa. Quem garante que não acontecerá novamente? Dessa forma, as empresas se resguardaram. Elas não deixaram de consumir no mercado externo, mas existe uma fatia para consumo no mercado interno. Além disso, existem planos do governo que incentivam o consumo no mercado interno. As empresas de Manaus (AM), por exemplo, são grandes consumidoras do mercado externo, mas, devido a esse plano de ação do governo, uma delas, do setor de eletrônicos, está negociando um grande pacote de produtos com uma empresa aqui de Salto.

A Reforma Tributária de 2023 já mudou algo para o setor?
Thiago Isola –
O temor que se tem é que os investimentos previstos pelos municípios, especialmente aqueles que atingem o setor industrial, não ocorram. Um exemplo é a questão da água. E se Salto não tiver dinheiro para fazer as melhorias que estavam previstas? Pode acontecer. Isso vale para infraestrutura, pavimentação, segurança etc. Há uma preocupação natural e ainda estamos tentando entender como será o andar da carruagem, mas é nessa hora que, se o gestor público for inteligente, ele investirá ainda mais no segmento, porque será uma carta na manga com a geração de mais tributos, mais empregos e, consequentemente, mais impostos.

O fato de 2024 ser um ano político interfere na vinda de novas empresas ou a manutenção delas no município?
Thiago Isola –
Acredito que, no setor industrial, não terá um impacto tão grande, por se tratar de eleições municipais e não nacionais. Quem está, fica e quem está vindo continuará querendo vir. O que sempre esperamos é que, se o gestor continuar, que dê sequência aos planos de gestão, e, se houver uma mudança de gestão, que se deixe as vaidades de lado e se entenda que o que está dando certo tem de continuar.

Você vê Salto hoje como uma cidade mais industrial do que turística? E por que tem essa opinião?
Thiago Isola –
Sim, eu vejo dessa forma. E acredito que o setor vai avançar ainda mais. Até porque, historicamente, Salto tem essa característica. Nós já fomos a sétima economia do Estado de São Paulo, ganhando a alcunha de “Pequena Manchester Paulista”, mas que, ao longo dos anos, acabou se perdendo um pouco, talvez por visões das gestões que passaram. Essa tendência industrial pode ser comprovada com a procura das empresas por investidores de outras cidades e até mesmo do município em imóveis voltados para a indústria. Salto poderia, inclusive, estar muito mais bem qualificada no setor industrial, já que, do ponto de vista logístico, somos mais privilegiados do que Itu e Indaiatuba. De qualquer forma, temos um potencial grande de avanço, que só não é maior por uma questão de ausência territorial.

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