Um projeto, desenvolvido pela Secretaria de Educação da Prefeitura de Salto desde o segundo semestre deste ano, promete resgatar, já neste 7 de setembro, no desfile da Proclamação da Independência, a tradição das fanfarras, que, durante muito tempo, foi praticada nas escolas da cidade e que foi abandonada nos últimos anos.
Intitulado “Fanfarra: Música, Educação, Disciplina e Lazer”, o projeto procura resgatar não só a música por meio das fanfarras, que são inspiradas nas bandas militares, mas também a educação com a vinculação da proposta às aulas normais, a disciplina pela necessidade de organização e o lazer, já que a música entretém.
Inicialmente, ele está sendo realizado em três unidades do Cemus (VII “Professora Maria Florinda Zanni” – Jardim Nova Era, IX “Professora Maria de Lourdes Guarda” – Jardim Monte Paschoal, e XI “Prof.ª Lázara Maria Lara Begossi” – Jardim Planalto), mas a ideia é levá-lo para todas as unidades do município.
Para realizar o projeto que já esteve presente nas escolas no passado como uma atividade corriqueira, a Prefeitura contratou uma empresa, a Fera Proart, por meio de licitação, e ela disponibiliza o professor de música Bruno Fernandes dos Reis e um auxiliar, que são os responsáveis pelas aulas semanais.
O PRIMEIRAFEIRA ouviu a coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação, professora Cristiane Matos, que está à frente do projeto pela Prefeitura, e o professor Bruno dos Reis, que falaram quais as expectativas que têm para esse primeiro desfile e para a retomada das fanfarras ao longo do tempo.
Como surgiu a ideia de criar esse projeto chamado “Fanfarra: Música, Educação, Disciplina e Lazer”?
Cristiane Matos: Já tivemos um projeto de fanfarras há muitos anos, mas ele foi descontinuado. Quando entrou essa nova gestão pensamos em voltar com ele. Então surgiu a oportunidade de conversarmos e aí foi feita uma licitação. O Bruno (Fernandes dos Reis) é professor dessa empresa (a Fera Proart) que ganhou a licitação para realizar o projeto. Estamos iniciando neste ano e até pensando no desfile de 7 de setembro já, mas a ideia é dar continuidade. Quisemos iniciar para já apresentarmos nesse desfile, mas as aulas continuarão no ano que vem.
Como está sendo desenvolver esse projeto com as crianças?
Bruno Fernandes dos Reis: Eu fiquei surpreso, porque o tempo para o primeiro compromisso, que é o desfile de 7 de setembro deste ano, é um pouco curto, porém eu me deparei com os alunos com a questão da coordenação motora muito boa e o entusiasmo deles é surpreendente. A nossa preocupação, por ser em horário extracurricular, era não termos uma grande adesão, mas tivemos uma adesão muito boa dos alunos. Acredito que, passando o dia 7, teremos uma adesão ainda maior, pois temos instrumentos para atendermos mais alunos. Limitamos um pouco as vagas para esse nosso primeiro compromisso para 30 para termos um ensino bom até o dia 7. A minha primeira impressão é que faremos um bom desfile e que dá para fazermos um bom trabalho. Nem parece que eles nunca tiveram contato com instrumentos, porque os alunos são pequenos, em média de 8 a 10 anos. Grande parte deles não sabia o que era a fanfarra, porque tivemos a pandemia e eles ficaram sem esse tipo de movimento durante todo esse tempo. Então, estão conhecendo a fanfarra por dentro, já participando de uma. Está sendo uma experiência muito legal.
Quantas escolas estão participando inicialmente do projeto e quais os dias e horários dos ensaios?
Bruno Fernandes dos Reis: Inicialmente, estamos realizando o projeto em três escolas: Cemus VIII “Professora Maria Florinda Zanni”, Cemus IX Professora Maria de Lourdes Guarda” e Cemus XI “Prof.ª Lázara Maria Lara Begossi”. Os ensaios são uma vez por semana, com duração média de 2h, 2h30 em cada escola. Mas, antes do desfile do dia 7 faremos um ensaio geral provavelmente um desfile em um quarteirão. Então o projeto não será somente para os alunos, mas abrangerá toda a comunidade em torno dos alunos.
Qual a importância da realização desse projeto para os alunos?
Bruno Fernandes dos Reis: Na minha opinião, a fanfarra agrega muito para os alunos. Primeiro de tudo é disciplina, porque é um trabalho coletivo e eles conseguem entender que o trabalho bem-feito e a dedicação de cada um ajudam no trabalho do colega e isso gera um bom resultado. Além disso, eles precisam trabalhar muito a concentração, pois nessa idade é muito difícil para eles focarem. Mesmo assim, eles estão entendendo a importância do foco e concentração muito bem. A coordenação motora também, que eles precisam ter para tocar e marchar ao mesmo tempo, não é algo fácil, mas estou surpreso como eles estão respondendo de forma positiva.
Esses alunos já possuíam contato com música antes do projeto?
Bruno Fernandes dos Reis: Fiquei surpreso com a desenvoltura deles, pois no nosso primeiro contato, no primeiro ensaio eles já conseguiram fazer música. Parecia que eles já tinham tido contato com fanfarra ou com algum instrumento. Quando perguntei a eles, alguns diziam que o pai tocava violão, o irmão tocava bateria, o vizinho saxofone, ou algo assim, mas contato direto nenhum deles tinha. Então é muito importante esse projeto e ainda conseguiremos dar aula para 60 alunos em cada escola. Ter 60 alunos por escola aprendendo música e tocando em fanfarra é algo muito bom. Por conta da pandemia, não somente na nossa região, mas acho que em todo o Estado de São Paulo, as fanfarras e bandas marciais sofreram muito, porque todos os projetos pararam e nem todos retornaram pós-pandemia. Salto está sendo uma das pioneiras nessa retomada. Acho que da região somente Salto e Sorocaba retornaram as atividades.
O senhor ministra as aulas sozinho dentro do projeto?
Bruno Fernandes dos Reis: Não, nos ensaios eu trago um parceiro de trabalho, que inclusive foi meu aluno em 2001 e com o passar dos anos começou a trabalhar comigo. Ele é militar, músico do exército e trabalha na banda de Osasco. Ele também é percussionista, então vem nos ensaios e me ajuda bastante. Como o tempo é curto, com dois professores conseguimos dar um “gás” maior nessa reta final.
Como o projeto foi apresentado para os alunos?
Cristiane Matos: Já tínhamos intenção de trabalhar com as fanfarras, mas começamos nessas três escolas, porque foram unidades nas quais já tínhamos começado há um tempo atras com oficineiros de música. Essas escolas já tinham os instrumentos também, o que facilitou muito. Quando o Bruno chegou mostramos o que já tínhamos de instrumentos nas escolas e ele foi avaliar se precisava restaurar alguma coisa e o que dava para usar. Os gestores das escolas mandaram um bilhete para os pais falando do projeto e como seria feito para ver quais alunos teriam interesse. Os alunos que se inscreveram de fato tinham interesse em participar.
Como é resgatar essa tradição das fanfarras para a rotina profissional do senhor?
Bruno Fernandes dos Reis: Muitos pais de alunos, quase todos, já participaram em algum momento de fanfarra. As fanfarras sempre foram uma tradição em Salto. Muitos pais perguntam se eles também não podem tocar, porque querem reviver essa tradição. Os próprios pais fizeram propaganda e incentivaram os filhos a participarem. Há 15, 20 anos as fanfarras e bandas marciais eram muito mais fortes. Com o tempo, essa tradição foi se perdendo, mas agora está voltando. Agora que estaremos com essas fanfarras montadas conseguiremos fazer apresentações em festas das escolas e em formaturas. Conseguiremos nos apresentar mais e nos auto divulgar para toda a comunidade.
Mais escolas participarão do projeto ainda neste ano?
Cristiane Matos: A ideia da Secretaria de Educação é expandir o projeto para mais unidades sim. Neste ano começamos com as três unidades, porque já tinham os instrumentos e queríamos já levar a fanfarra para esse desfile de 7 de setembro. E a devolutiva que o professor Bruno vem trazendo para nós é muito boa. A questão do interesse dos alunos, a desenvoltura deles, então nossa expectativa para o dia 7 está muito alta. Vamos tentar inserir as fanfarras em encerramentos de projetos e eventos da cidade, para fazer com que os alunos coloquem em prática tudo que eles estão aprendendo.
Então quantas escolas devem participar do projeto das fanfarras?
Cristiane Matos: Hoje temos 11 escolas que conseguiríamos atender, pois tem alunos nessa faixa etária. O restante é educação infantil. São muito pequenos. A intenção é ir aumentando o número de escolas participantes por ano, pois precisamos ir renovando os instrumentos. Eles vão se desgastando com o uso. Teremos que comprar instrumentos novos. Mas a intenção é que todas as escolas passem por esse ensinamento, porque entendemos a importância da música e da cultura dentro da escola. Sabemos que isso é muito importante para a vida social deles, pois eles participarem de um desfile, por exemplo, faz com que eles se sintam importantes e isso vai abrir portas para quem quiser estudar música.
O quanto o ensino da música ajuda nos estudos gerais dos alunos?
Bruno Fernandes dos Reis: Aqui eu ainda não fiz um diagnóstico, porque é muito recente. Mas, por outras experiências que já tive, posso falar que o ensino da música faz muita diferença. Um fato curioso é que geralmente os que mais se interessam e têm mais facilidade para as aulas de música são os bagunceiros. Mas gosto de fazer um acompanhamento, porque não adianta nada o aluno ser um bom músico na fanfarra e ir mal na escola. Se ele estiver mal na escola, não tem por que estar na fanfarra. Ele precisa focar na escola. Com a experiência que tenho em outros projetos, sei como a fanfarra ajuda, porque vira uma ferramenta para o aluno se dedicar e ir bem na escola também, para que ele continue na fanfarra. Além disso, também ajuda eles a terem mais foco e concentração, porque não é fácil tocar um instrumento. Precisa fazer com que o corpo e a mente trabalhem em conjunto. Eles começam a usar isso na sala de aula. A fanfarra ajuda ainda os alunos a terem mais disciplina, pois eles precisam estudar para aprender a tocar na fanfarra. O objetivo do projeto não é só a fanfarra. Quero ajudar de alguma forma a preparar eles para a vida, por mais que seja ainda o início. É nessa idade que ajuda a formação de caráter deles, a disciplina, concentração. Tive alunos que participaram de projetos comigo e hoje são músicos profissionais, assim como já tive alunos adolescentes que estavam envolvidos com drogas e se libertaram desse vicio. Com a música conseguimos dar outro caminho para as pessoas e acredito que aqui não será diferente.
E para a secretaria o quanto o ensino da música ajuda nos estudos gerais dos alunos?
Cristiane Matos: Tem também a questão do respeito, do trabalho em equipe, porque um depende do outro. É o cuidado que um precisa ter com o outro. E isso faz muita diferença na sala de aula, porque a criança vê que ali ela está produzindo e está dando tudo certo. Ela quer levar esse comportamento para outro lugar. Costumo falar que isso vai contaminando para o bem para que os outros alunos também tenham esse comportamento. Hoje em dia, por conta das telas e o uso excessivo delas, está cada vez mais complicado o foco e a concentração das crianças. Percebemos que a música ajuda bastante. A fanfarra é um estímulo para esse treino do foco, da concentração e do trabalho em equipe.
Qual a expectativa do senhor para o desfile de 7 de setembro?
Bruno Fernandes dos Reis: Acredito que será um bom desfile e vai dar tudo certo. Somente pelos primeiros ensaios já vi que as crianças são diferenciadas. A vontade e a empolgação delas é o que está mais ajudando. Acho que o público presente nem vai notar que tivemos tão pouco tempo de ensaio. Tivemos que pular muitas etapas, por exemplo. Se tivéssemos começado em fevereiro, seria um outro formato de ensino, mas como já temos esse primeiro compromisso pulei algumas etapas. No primeiro ensaio, eles já tiveram contato com o instrumento, mas, se tivéssemos mais tempo, isso não teria acontecido já. No primeiro ensaio, eu contaria a história de como surgiram as fanfarras, o porquê de cada instrumento e tudo mais. Mas aceleramos e no primeiro ensaio eles já tocaram, marcharam, fizeram os comandos que vêm das bandas militares e responderam super bem. De início, mostrei como funcionava cada um dos instrumentos (liras, bumbo, contra surdo, caixas e pratos) e deixei eles irem no instrumento que gostariam, mas no meio do ensaio fui remanejando da forma que achei que seria melhor para essa primeira apresentação. Passando o dia 7 vamos remanejar para ver qual instrumento cada aluno quer tocar, mas nesse primeiro momento fui separando conforme a aptidão de cada um.