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Turismo em Itu ajuda na retomada da economia

Cidade quer ir além da fama de que ‘tudo é grande’ e transforma o turismo, se tornando uma potência estadual

 

A cidade de Itu completou ontem (2), 413 anos, com muita história. Da mais rica do estado durante o período colonial à palco do processo da proclamação da república, em 1889, Itu ganhou destaque em meados do século passado também pela fama de ‘cidade em que tudo é grande’, graças ao personagem do programa de TV, Praça da Alegria, Francisco Flaviano de Almeidas, o Simplício. Com tanto a se conhecer, não é difícil entender por que a cidade é uma das mais turísticas do Estado. E, para comemorar o aniversário da cidade, o jornal PRIMEIRAFEIRA, conversou com o secretário de Turismo de Itu, César Benedito Calixto, que falou sobre a importância do Turismo para a cidade.

 

Quais ações a secretaria vem desenvolvendo para fomentar o turismo?
César Benedito Calixto: Propusemos algumas obras ano passado que estão sendo inauguradas esse ano. Uma delas é a reforma da Praça Padre Anchieta e a criação do Marco Zero, ponto de referência de onde foi a fundação de Itu. Vamos entregar também um terminal receptivo turístico. Como somos uma cidade em que o Centro Histórico tem grande dificuldade de circulação de ônibus, criamos um pátio para que possamos receber adequadamente excursões organizadas, onde o agente de viagem e as empresas poderão guardar os veículos com segurança e terem guias especializados para orientá-los. Isso é um avanço no receptivo turístico. Também estamos propondo uma série de melhorias na Praça dos Exageros para esse ano, agregando outras atividades de lazer no local e vamos inaugurar o polo Gastronômico de Itu, com a introdução de três núcleos gastronômicos na avenida Ernesto Fávero, fazendo uma grande transformação na área.

 

Como o turismo ajuda a manter a história da cidade?
César Benedito Calixto: Vamos entregar esse ano o restauro do Espaço Almeida Júnior, no Centro, onde será instalado o Museu Municipal de Itu. Temos uma história ligada à história do Brasil, à transição do império para República. Itu participou de todo esse processo. Além disso, há muitas personalidades importantes da música, das artes plásticas que são ituanos. O museu histórico de Itu será uma referência nacional também como centro cultural. Queremos tornar o eixo histórico do Cruzeiro Franciscano ao complexo da Igreja do Carmo como grande atrativo do patrimônio histórico brasileiro. Temos a ‘Trilha do Saber’, um passeio de aproximadamente 700 metros que leva até três horas para ser realizado. Então são várias informações que são passadas aos turistas dentro do eixo histórico ituano. Nosso objetivo é tornar isso ainda mais emblemático e importante.

 

Diante de uma diversidade de atrações, a fama de ‘Cidade dos Exageros’ está perdendo espaço?
César Benedito Calixto: Esse fenômeno da ‘Cidade dos Exageros’ está em todos os cantos do Brasil. Se você desembarcar em Natal (RN), em Gramado (RS), na Bahia ou em qualquer outro ponto do país, e você diz que é de Itu, a referência à “Cidade dos Exageros’ é inevitável. Eu sempre disse que o Simplício, lá atrás, quando nem televisão existia, foi o maior influenciador do Brasil. A força da comunicação do Simplício nunca foi tão forte, porque há muitos anos esse lema de ‘Cidade dos Exageros’ não é replicado, mas ele permanece. Itu não pode abrir mão desse adjetivo, mas Itu não é só isso. Itu possui um patrimônio Barroco, do Rococó, é uma referência geológica com o Parque do Varvito. Itu tem singularidades, mas podemos nos aproveitar desse título de ‘Cidade dos Exageros’ para mostrar ao mundo muitas outras coisas importantes.

 

Novos elementos ‘gigantes’ podem ser adicionados na cidade?
César Benedito Calixto: Eu acho que precisamos dosar. Se acrescentamos elementos nesse sentido, você acaba escolhendo uma direção. Nossa direção é dizer que Itu é um destino turístico importante. Não precisamos ter uma única bandeira.

 

O Mercado Municipal voltou a funcionar recentemente. Ele também faz parte das atrações ao turista?
César Benedito Calixto: O Mercado Municipal de Itu tende a ser uma referência em cultura e gastronomia, diferente de outros mercados, que possuem outro perfil. O desejo da Administração é que o Mercadão tenha ênfase em gastronomia. Nos próximos meses deveremos fazer um novo edital de ocupação de área para que lá seja ocupado por atividades econômicas que tornem o local um destino influente, com tendências de alimentação e artesanato.

 

Itu também tem se consolidado como um destino turístico para ciclistas. Como desenvolver ainda mais esse setor?
César Benedito Calixto: A ideia é sempre criar polos que se tornem opções de lazer e diversão. Na avenida Ermelindo Maffei entregaremos a Praça da Bike, isso por que identificamos que o ciclismo é uma atividade de lazer que se agrega a uma atividade de destino turístico. O sistema cicloviário de Itu deverá ter uma quilometragem bem extensa a partir deste ano e vamos iluminar as partes da ciclovia já existentes que não tem iluminação, para que sejam um polo de recreação e turismo, passando por todo o Centro Histórico de Itu. Avançamos bastante nesse quesito com a criação de seis roteiros de cicloturismo, tanto na zona rural quanto na zona urbana.

 

Vê a necessidade da criação de um centro de eventos na cidade?
César Benedito Calixto: Um centro de eventos precisa estar ligado à iniciativa privada. O Poder Público hoje tem uma grande dificuldade de criar grandes investimentos para um complexo como esse.

 

E os empresários estariam dispostos a investimentos do tipo?
César Benedito Calixto: Itu está muito bem localizada, os complexos comerciais estão sendo ampliados e os empresários estão trazendo polos de investimento das mais diversas áreas, então, não tenho dúvidas que Itu será escolhida para grandes investimentos. Eu espero que os empresários tragam não apenas investimentos em eventos, mas sobretudo em hotéis. Itu e região precisam de mais hotéis. Hoje, por exemplo, um evento como a Tomorrowland, que deve trazer mais de 60 mil pessoas por dia para Itu, significa que o mercado regional irá crescer. Deveremos ter a geração de empregos que irá refletir economicamente na hotelaria, na gastronomia, no receptivo turístico e para o comércio de um modo geral. O que temos de ter a ciência é que ainda estamos num processo de retomada econômica.

 

Como o turismo em Itu tem se recuperado após o período mais restrito da pandemia?
César Benedito Calixto: O turismo foi uma das áreas mais afetadas pela pandemia. O recesso econômico foi prejudicial demais. O setor vem tentando se recuperar, já que as pessoas têm muita vontade de viajar, de procurar destinos, pois criaram certa expectativa nessa retomada. E nesse último ano, o setor corporativo e também de eventos sociais, como casamentos, por exemplo, teve uma retomada bastante rápida. Em relação ao turismo de destinos individuais, percebemos que os empresários têm buscado diversificar sua atuação, tanto na área econômica, quanto no entretenimento. E a prefeitura vem fazendo sua parte, com um planejamento a curto, médio e longo prazo; retomamos o plano diretor de turismo, que será apresentado à Câmara Municipal em fevereiro; realizar algumas obras; além de entregar algumas obras. Estamos também buscando melhorar os equipamentos turísticos já existentes com novos atrativos.

 

Acredita que, com a pandemia, mais turistas buscaram roteiros mais curtos, sobretudo nas cidades do interior?
César Benedito Calixto: Eu diria que o potencial cresceu. Ainda isso não é sensível a ponto de afirmar categoricamente, mas abre essa possibilidade, porque quando as pessoas buscam destinos mais curtos, para Itu isso é favorável. O turismo de um dia, do domingo, do final de semana tem se mostrado muito legal e mantendo índices favoráveis. E é por isso que temos dado incentivos a empresários, para abrirem novas opções gastronômicas; para que ampliem o centro comercial abrindo seus negócios aos sábados e domingos. Aliás, esse é um grande desafio. No meu ponto de vista é preciso ter atividades especiais para o turista, porque a rede comercial instalada em Itu é rica e poderosa, mas quando observamos o final de semana, ela ainda é tímida, é pequena. Toda atividade turística tem na atividade comercial um agregado. Você não faz turismo se não faz comércio, ou gastronômico ou de compras. Não adianta ter um turismo forte se não tem redes comerciais fortes funcionando no final de semana. O que vemos hoje é um número pequeno diante do potencial que temos. Identificamos Itu no Estado como um destino turístico forte, mas estamos trabalhando de uma maneira bem efetiva para tentar superar essas dificuldades que ainda entendemos existir.

 

Qual a importância do turismo em parceria com outras cidades, como Salto e Cabreúva?
César Benedito Calixto: Salto, Itu e Cabreúva tem uma ligação muito próxima e uma pode explorar o turismo junto da outra. Em minha passagem como Secretário de Turismo de Serra Negra, numa época em que não se falava em turismo regional, nós lá atrás, nos anos 1990, fizemos essa proposta. O turista que se hospeda na região pode facilmente fazer uma visita nas cidades ao lado. Como acontece, por exemplo, na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul. O turista vai para Gramado, Canela, Bento Gonçalves e vai embora… Abre-se a possibilidade da expansão hoteleira, da rede gastronômica, o que obriga o turista a ficar no mínimo uns quatro dias. E isso que podemos trabalhar por aqui.

 

Qual a importância da Secretaria de Turismo para a cidade?
César Benedito Calixto: No turismo enxerga-se a transversalidade das secretarias. O que a cultura promove e fomenta, nós do turismo temos de divulgar. E assim é com outras secretarias. A Secretaria de Turismo é um grande marqueteiro e estamos buscando melhorar isso de duas formas: comunicando melhor, com o nosso site (www.turismo.itu.sp.gov.br) e redes sociais para que qualquer pessoa veja, e com a captação de eventos de grande porte para a cidade, como temos feito com as feiras gastronômicas e, recentemente, o anúncio da Tomorrowland. Isso tudo faz com que a representatividade da cidade cresça no cenário nacional.

 

Como viu o fato de a cidade de Salto passar a ter uma secretaria dedicada exclusivamente ao Turismo?
César Benedito Calixto: Festejei muito a decisão do prefeito Laerte Sonsin. Era um pleito do próprio segmento. Nâo dá para pensar turismo, que é algo estratégico, ligado a outras ações. O turismo é o vendedor da ideia. Você não consegue fazer turismo tendo também outras atribuições. Foi algo muito importante para a cidade e assim deve ser. Mas é preciso que os municípios escolham esse caminho. Muitas vezes o município não tem isso como prioridade.

 

É possível uma cidade ter o turismo como importante fonte de receitas?
César Benedito Calixto: Segundo alguns estudiosos, agregam à cadeia econômica do turismo, mais de quinhentas outras atividades econômicas. Um exemplo bem prático. Numa cidade turística, o posto de combustível ganha mais, garante o emprego do frentista, que vai comprar no açougue, no mercado, na farmácia. Agora imagine o contrário, para quem não acredita na tese. Tire a atividade turística, como se ela sumisse de uma cidade que vende o turismo. O impacto econômico seria grande. O restaurante não iria atender ou atenderia menos pessoas; o taxista teria menos passageiros; as lojas, menos clientes… Então, toda a cadeia seria reduzida e em alguns pontos, sumiria. Se tem impacto econômico, o turismo é importante. Algumas cidades tem o Imposto sobre Serviço (ISS) vinculado ao turismo, no qual o ISS arrecadado sobre cobrança de ingressos vai para um fundo de investimento exclusivo do turismo. Em Brotas-SP, esse modelo é um sucesso. Acho que temos de caminha nesse sentido. O turismo não precisa ser protagonista, pode ser um ator coadjuvante, mas que faz diferença no processo econômico.

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