Ter pressa se tornou sinônimo de vida nos últimos tempos. Já reparou que tudo precisa ser feito mais rapidamente hoje? As pessoas aceleram o áudio no WhatsApp, vão ao final do filme antes de ver o começo e até as músicas já não trazem mais a introdução. Tudo é para ontem. Há quem queira acelerar até as pessoas quando perguntam qual é o objetivo da conversa assim que o outro começa a falar. Mas será que essa aceleração pode ser chamada de vida?
Para a psicóloga Débora dos Santos, que trabalha com Abordagem Comportamental em Foco na Terapia de Aceitação e Compromisso em Salto, viver vai muito além disso e precisa fazer parte da reflexão das pessoas, para evitar que problemas decorrentes da aceleração, como a depressão e a ansiedade, comecem a prejudicar as suas vidas, o que ocorre na maioria das vezes, até sem que a pessoa consiga perceber que ela está vivendo dessa maneira.
Outra consequência alertada pela psicóloga é que, ao acelerar tudo, se perde a capacidade de saborear os momentos, ou seja, viver aquela situação pela qual se passa. Há casos, por exemplo, de pessoas que vão a um show e ficam gravando tudo o que acontece com o celular sem participar efetivamente da apresentação. Se perguntada sobre as razões para isto, a pessoa responde que grava para ver depois com mais calma e aproveitar melhor.
Segundo a psicóloga, o problema desse modo de vida é que o indivíduo não consegue tempo para autoconhecimento, cuidados com a saúde, fortalecimento de vínculos com amigos e familiares e, o pior é que, de alguma forma, gasta a maior parte do seu tempo nas redes sociais, que não trazem resultado prático para as suas vivências do ponto de vista do crescimento psicológico pessoal, o que é danoso para o futuro e para as suas relações.
“A consequência desse modo de viver são relacionamentos superficiais, nenhum autoconhecimento, baixa qualidade de vida, impaciência, baixa tolerância e frustração, podendo gerar altos níveis de ansiedade ou depressão”, ressalta a psicóloga. Uma das principais mudanças que se deve fazer é focar no presente e aproveitar o momento atual, sem remoer passado ou planejar futuro.
Na visão da psicóloga, o problema está disseminado por todas as áreas e por todas as classes sociais. Até mesmo cantores, como Lady Gaga, Mariah Carey, Madonna, Shakira, Kali Uchis e Eminem, já gravaram versões aceleradas de seus sucessos para buscar o público acelerado. Empresas de tecnologia, como o Google, também querem cada vez mais aceleração para vender mais conteúdo.
Débora dos Santos salienta a importância de realizar pequenos exercícios diários para começar uma mudança comportamental, entre eles, estipular um limite de tempo para o uso do smartphone, diminuir o uso das redes sociais, observar como está vivendo a vida e o que faz sentido para a pessoa. É a partir dessas concepções que se pode chegar a um crescimento e à correção dos erros, diz ela.
Além disso, segundo a psicóloga, é importante atentar para as atividades simples do dia a dia, como olhar para o céu, saborear algo e passar um tempo de qualidade com as pessoas. “Não conseguimos mudar tudo facilmente, mas conseguimos fazer pequenas e significativas mudanças todos os dias e é importante que elas sejam feitas para que os objetivos sejam alcançados”, finalizou.