Diversas vezes aqui no dedinho de prosa escrevi sobre temas como cultura, patrimônio, memória e história. São temas extremamente importantes para o desenvolvimento intelectual, cultural e social de uma sociedade. Cada vez mais as escolas estão trabalhando assuntos relacionados em suas disciplinas e/ou grades curriculares. Assuntos de tais temáticas são urgentes que estejam nos debates do poder público e da sociedade civil.
No ano passado, a Academia Saltense de Letras lançou uma coletânea com o título ´Natureza: eu, tu, ela…´, na condição de ocupante da cadeira de número um tive a oportunidade de escrever um texto para compor a publicação. O título foi ´Um Patrimônio Natural e seu uso Cultural´. Trata-se de uma reflexão acerca da natureza como patrimônio entendendo seu uso (sustentável) como prática social e cultural pela humanidade. O objeto de análise foi o Ribeirão Cabreúva, presente no centro da cidade que moro atualmente. Abaixo, um trecho do texto:
Pois bem, existe no centro da cidade um patrimônio natural que não é reconhecido oficialmente pelos órgãos de direito, porém todo cabreuvano do centro da cidade, sobretudo os mais antigos, têm alguma história para contar a respeito do Ribeirão Cabreúva. Diariamente olho para a janela da minha sala de trabalho e o vejo com suas águas tranquilas, salvo em períodos chuvosos que fica agitado. Também diariamente desço da minha sala, atravesso a rua e vou até a margem “do lado de cá” do Ribeirão para, junto do correr do seu leito, correr também meus pensamentos, principalmente em tomadas de decisões. São minutos inspiradores.
Usei o termo “do lado de cá” como uma referência a uma situação geográfica interessante que se torna mais notória quando olhamos para uma Cabreúva em meados do século XIX e início do XX, uma região em que o Ribeirão significava um limite geográfico:
Nessa realidade de pequena geografia física e humana que o dominava, nosso antigo Centro era residencial e comercial. Tudo acontecia do Ribeirão Cabreúva para dentro: trabalhar, alimentar-se, comprar, vender, residir, descansar, estudar, praticar esportes, ir aos bailes, ter religiosidade e ter musicalidade, fazer visitas, enfim, tudo acontecia nesse antigo Centro. (SILVEIRA, 2006)
O Ribeirão, que já foi chamado de Ribeirão dos Padres, e “nasce na Fazenda Ribeirão […] e deságua no Rio Tietê, já no Bairro Barrinha” (SILVEIRA, 2006), também era conhecido pelas crianças como Ribeirão da Nadime. Sendo essa uma história curiosa, mas não incomum em municípios que possuem rios, ribeirões ou riachos que passam por dentro de si. Acontece que, o mesmo rio que hoje me ajuda a refletir questões do labor, era fonte de trabalho da moça Nadime, sendo um elemento do Patrimônio Natural local utilizado como prática de cunho social e econômico. Tal como na definição já citada acerca de Patrimônio Natural, ele não necessariamente está só, pode vir associado a alguma prática humana in loco. Quem nos conta melhor essa história é o senhor Otoni Rodrigues da Silveira, pesquisador e memorialista cabreuvano, no livro “…, que entre verdes montanhas”.
Ribeirão Cabreúva, que, naquela época, pelas crianças, chegou a ser conhecido por “Ribeirão Nadime”. Nadime era filha de uma turca, cuja família residia numa pequena casa da Rua Cônego Motta […], e lavava roupas, para sustento, num cristalino trecho do Ribeirão, no início dessa mesma rua, ao lado de outras mulheres… (SILVEIRA, 2006)
Referência citada no texto: SILVEIRA, Otoni Rodrigues da. “…, que entre verdes montanhas”. Itu: Ottoni Editora, 2006.
O livro pode ser baixado em: https://www.asle.net.br/publicacoes/
Uma boa leitura e bom fim de semana a todos!