Há duas décadas, meu olhar se voltava aos idosos antes mesmo da criação do Estatuto do Idoso, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro de 2003. Explorei o tema em meu Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo com a seguinte questão: “O velho é chato?”, numa provocação necessária.
Minha tese questionava a rotulação dos idosos como “chatos”. E não o são. É que concedemos o máximo de cinco minutos para uma conversa, tempo suficiente apenas para lamentações. Deixe o papo fluir e você verá que por trás das aparentes “chatices” do idoso há risos e há histórias valiosas.
Em um asilo, deparei-me não apenas com palavras afetuosas, mas com relatos tocantes, como o de um senhor que compartilhou a tristeza ao ver seus quatro filhos criados e formados, partindo para novos rumos, sem a figura de alguém que, para eles, não mais servia. “Menina, esse foi o dia mais triste da minha vida. Ah, como eu chorei quando me deixaram aqui”, ecoavam suas palavras, destacando a complexidade emocional desse momento marcante.
Outra senhora, de cabelos da cor de algodão e sorriso também afetuoso, expressou sua alegria de forma simples: “Só de você falar comigo, eu já fico feliz”.
Voltando ao Estatuto, que muito é citado e pouco colocado em prática, ele estabelece uma ampla gama de garantias à pessoa idosa, assegurando a saúde, a dignidade e condições adequadas de vida e que não caberiam aqui “em cinco minutos de prosa”.
Outra novidade que surgiu no decorrer nos anos foi a Lei 13.466/2017, que concede prioridade aos cidadãos com 80 anos ou mais. Essa informação passa despercebida até mesmo nos órgãos públicos, onde não há sequer um indicativo sobre isso. Conhecer essas leis é uma forma de solidificar o respeito e preservar a integridade do idoso, transformando as palavras em ações tangíveis.
Encerro este trajeto com a mesma provocação de anos atrás. Ao encarar o desafio de resumir aqui esses direitos, reitero a importância de dedicarmos mais tempo às pessoas idosas, uma preciosidade que transcende qualquer legislação.
Cláudia Rato é jornalista e escritora