Teve alguma repercussão na internet, recentemente, a entrevista de Kiko Loureiro a alguns canais no Youtube. Mas quem é Kiko Loureiro? Caso você nunca tenha ouvido falar (acho que é a situação da maior parte dos leitores), trata-se do ex-guitarrista da banda de Heavy Metal chamada Megadeth. À primeira vista, se ficarmos no campo dos estereótipos, Kiko não teria lá muita contribuição a dar: toca um gênero de música considerado extremo, usa aquelas roupas pretas típicas, anda apenas com seu grupo, não liga muito para os desgrenhados cabelos compridos… Como todo estereótipo, esse também não faz justiça ao seu alvo: as entrevistas do guitarrista foram marcadas por simpatia, conhecimento, diversidade de relatos e ricas experiências de vida.
Senão vejamos: a primeira coisa que chama atenção é que Kiko Loureiro era guitarrista de uma das mais famosas (e lucrativas) bandas de Heavy Metal do planeta. Contrariamente ao que todos pensaram quando de seu anúncio de saída da banda, ele não foi mandado embora, mas escolheu sair (guardadas as devidas proporções, seria como um jogador de futebol titular do Barcelona pedir para sair do time). Por qual razão? Um contrato mais lucrativo? Mais holofotes? Divergências musicais? Não”. Simplesmente a vontade de se dedicar mais à família e a projetos musicais mais desafiadores (“meu filho precisa mais de mim no momento que o Megadeth”, disse). Kiko relata com detalhes os anos passados à frente da lendária banda – foram 9 anos dividindo o palco com Dave Mustaine –, os ensinamentos provenientes do contato com o mundo da música, o aprendizado fruto da convivência com outros músicos e bandas e a passagem por diversos países.
Ouvir as entrevistas e bate-papos de Kiko é tomar contato com alguém que se enriqueceu como pessoa ao longo do tempo e não foi indiferente às oportunidades que teve. Casado com uma finlandesa e atualmente residindo na Finlândia, o guitarrista – unanimidade entre os músicos como alguém que domina de maneira exímia seu instrumento – fala com propriedade sobre coisas tão diversas como estado de bem-estar social, música brasileira, carreira musical e criação de filhos etc. Um dos momentos que mais me chamaram a atenção foi quando ele relatou que foi a música que fez dele um bom aluno na escola: embora não gostasse das matérias tradicionais, se esforçava para tirar boas notas, porque não queria ter que gastar tempo com provas de recuperação ou fora do período regular de aulas, o que tomaria tempo do estudo de guitarra. Para o educador que estiver atento faz todo sentido: a educação deve ser em alguma medida corporal ou não será educação para adolescentes e jovens…
Assista às entrevistas, caro leitor, e, caso cultive o estereótipo contra guitarristas de Heavy Metal, posso garantir: o antídoto estará bem à sua frente…
Leandro Thomaz de Almeida é membro da cadeira número 33 da Academia Saltense de Letras.