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Depois dos 60, escritora inicia projeto para ajudar crianças a se alimentarem melhor

Dorothy Rooma também é ilustradora e criou a série “Teodoro adora” para leitores de três a cinco anos; agora quer ampliar a proposta e levá-la às escolas com a ajuda de parcerias

A ilustradora e escritora paulista Dorothy Rooma lançou recentemente a sua primeira coletânea de livros didáticos, intitulada “Teodoro adora”, que objetiva incentivar a prática de hábitos saudáveis em crianças na faixa etária entre três e cinco anos. Nos quatro livros publicados pela editora saltense Mirarte, ela propõe o contato dos pequenos com as frutas, verduras e legumes, incentivando o consumo, além de prezar pela importância da escovação dos dentes. E agora quer transformar o conteúdo num projeto maior para ser levado até as escolas, disseminando ainda mais a prática de hábitos saudáveis.
“Eu entendo que a Educação é um fator modificador nas famílias, mas as crianças e até os pais, às vezes, podem se esquecer o quanto é importante pensar numa vida saudável. Então por que não lembrar e ajudar pais e tutores a falarem isso para as crianças? Os livros têm uma repetição. Todos começam com uma visão positiva e então o Teodoro começa a receber os elementos que possibilitam ao tutor da criança incentivar o consumo dos alimentos”, disse.
Através do Teodoro, personagem criado para interagir com as crianças, e com o incentivo de empresas, ela quer levar esse projeto para as escolas, proporcionando conhecimento e diversão, na qual, de forma lúdica, gere o interesse nas crianças para uma boa alimentação. “Se a criança leva um livro desse para casa e passar a comer uma dessas frutas, eu posso dizer que contribui e que deixei um legado para o futuro dessa criança”.
Além disso, ela também falou da experiência em encontrar um novo rumo na carreira, após se aposentar como professora universitária e voltar às suas origens, dos tempos de magistério, ao trabalhar com as crianças novamente. “Você se repensa, você se renova. É um ponto que te faz voltar lá atrás. Uma situação (proximidade com as crianças) que bateu na porta novamente”.
Confira a entrevista na íntegra abaixo:

Como surgiu o seu interesse por desenvolver um projeto literário voltado exclusivamente ao público infantil?
Dorothy Rooma:
Minha alma sempre esteve voltada a falar com crianças. Sou uma “baby boomer” (termo usado para as pessoas que nasceram entre 1945 e 1964, no período pós Segunda Guerra, no qual houve um súbito aumento na natalidade em diversos países. Essa geração antecede a Geração X de 1965 a 1984), mas sou muito atualizada. Minha primeira graduação foi o magistério, já com o interesse em trabalhar com crianças. Acontece que a vida passou e fiz outra graduação, no caso administração de empresas. Daí trabalhei com economia mista no setor privado e em tantas outras atividades, como o desenvolvimento de bonecos em feltro. Também fiz mestrado e doutorado, entre tantas outras atividades de maneira informal. Nos últimos quatro anos, já aposentada, após ter atuado como professora universitária, fui a uma loja de uma grande marca de produtos eletrônicos e acabei sendo convidada para trabalhar com eles. Isso me abriu as perspectivas sobre a cultura da empresa e o contato com as pessoas. Tudo isso depois dos 60 anos. Foi então que notei a oportunidade de tocar aquilo que chamo de “projeto de garagem”. Eu uso esse termo porque muitas empresas começaram numa garagem e o próprio Steve Jobs (inventor e empresário americano, cofundador da Apple) começou em uma garagem e é lá que está sua paixão, que virou um projeto, que vira ação e que vira um grande primeiro passo. Todo esse projeto, aliás, saiu do papel quando eu estava com Covid, em junho ou julho do ano passado, e resolvi desenhar num programa de criação digital. Foram dez dias de cama e praticamente sete livros prontos. Eu os considero como livros didáticos. Se a criança não sabe ler, tudo bem. É um projeto visual, com o desenho dos alimentos ou dos objetos. A criança que já sabe ler, vai identificando as letrinhas; outras já vão formando as palavras, criando um visual a partir desse trabalho.

E você sempre teve esse interesse por desenhos e ilustrações?
Dorothy Rooma:
Sempre desenhei, mas desenhos para eu mesma. Tenho um gosto pelas cores, adoro papel, adoro lápis e todas essas experiências estéticas se juntaram na arte digital. Foi então que eu falei para eu mesma que conseguiria tangibilizar minha ideia (tornar concreto algo abstrato). Essa inspiração (do Teodoro e outros personagens) estava num esboço que encontrei muito tempo depois. O Teodoro era um desenho espontâneo, feito por minha filha, lá pelo ano de 1997 ou 1998 que eu guardei. Ele ficou num portfólio junto de outros desenhos meus, como, por exemplo, um ET, o Timuzu; e um gato personagem, o Aderbal, que são projetos futuros que pretendo ainda desenvolver.

Como você, uma paulistana, foi publicar o livro numa editora saltense aparentemente sem ligação com a sua arte?
Dorothy Rooma:
Eu estava em busca de uma editora, mas acima de tudo, de ser feliz. Eu encontrei a Rose (Ferrari, proprietária da editora Mirarte) através de uma indicação em um grupo de mensagens que participo. A editora Mirarte se interessou e, do conjunto de livros que tenho pensado, nasceram esses quatro livros, no formato físico, que é o que precisa ter para uma criança de três a cinco anos. Eles são o ponto de partida para outros livros. O que era um projeto hoje é um fato e temos algumas ambições.

Como surgiu a ideia de realizar um projeto social através das histórias do Teodoro como você propõe?
Dorothy Rooma:
Eu pensei como seria levar isso para a escola, para um diálogo mais próximo das crianças. E se as empresas pudessem entender que, na posição de sua marca, estariam se aproximando do conceito de stakeholders (empresas que têm algum tipo de interesse na gestão e nos resultados de um projeto ou organização, influenciando ou sendo influenciadas)? Então, através da sustentabilidade educacional, passa a ser um braço cultural, até que chegamos no social, que são as crianças. A Rose me propôs esse projeto cultural com o objetivo de proporcionar o contato das crianças com frutas, por exemplo. Muitas delas podem nunca ter tido contato com algumas dessas frutas ou têm algum preconceito em comê-las. A ideia é levar essa contação de história juntamente com uma arte-educadora para outras atividades.

Como surgiu a ideia de trabalhar esses temas?
Dorothy Rooma:
Há dez anos, em minha tese de doutorado, sobre o consumo ético e sustentabilidade ambiental, eu tratei sobre as nove dimensões da sustentabilidade. E isso ficou em mim. Eu entendo que a Educação é um fator modificador nas famílias, mas as crianças e até os pais, as vezes podem se esquecer o quanto é importante pensar numa vida saudável. Então por que não lembrar e ajudar pais e tutores a falarem isso para as crianças? Os livros têm uma repetição. Todos começam com uma visão positiva e então o Teodoro começa a receber os elementos que possibilitam ao tutor da criança incentivar o consumo dos alimentos. Mas como um algoritmo, há o complemento da tarefa, fazendo com que o Teodoro fique feliz por ter realizado essa tarefa.

Como é para você pessoalmente proporcionar a uma criança esse conceito de hábitos saudáveis?
Dorothy Rooma:
Estamos falando de uma questão de mudança de comportamento. Uma pessoa com menor poder aquisitivo pode optar por uma fruta mais simples, enquanto a que pode ter maior poder aquisitivo talvez vá optar pelo conjunto das frutas. São detalhes que podem ser adequados de acordo com cada perfil social. O objetivo é levar a ideia, o conceito. O princípio de tudo são os hábitos saudáveis e eles cabem tanto para um lado quanto para o outro. Se a criança leva um livro desse para casa e passar a comer uma dessas frutas, eu posso dizer que contribui e que deixei um legado para o futuro dessa criança.

Você começou trabalhando com crianças e após vários anos se reaproxima do público infantil. O que trouxe de aprendizado?
Dorothy Rooma:
Você se repensa, você se renova. É um ponto que te faz voltar lá atrás. Uma situação (proximidade com as crianças) que bateu na porta novamente. Vou te dar um exemplo. Sou uma empreendedora do Teodoro, algo que é muito sério e me toma muito tempo, com atividades que vão desde o registro de marca, de personagem, construção do boneco em vários tipos de materiais. Eu não conhecia Salto até então e ao vir para cá, tratar sobre negócios, pedi para a Rose me levar até um empreendimento que vendia um doce que eu nunca tinha experimentado e tinha visto em um anúncio. Então foi uma espécie de volta ao passado. Um exercício de se fazer ser criança novamente. Além disso tudo, há aquela sensação bacana de que é possível empreender mesmo aos 65 anos como eu tenho. É claro que eu tenho noção do passo a passo, do investimento possível, das parcerias e das minhas realizações. A sensação que eu tenho e até Steve Jobs falou em uma célebre palestra na Universidade de Stanford (nos Estados Unidos) é a de que há um momento na vida em que juntamos os pontos. Eu já conhecia esse discurso desde o tempo de professora universitária, até que ele me veio à tona numa rede social. Considero essa experiência o fechamento de um ciclo.

Qual dica você deixaria para quem está com algum projeto “na garagem” e não sabe como colocar em prática?
Dorothy Rooma:
Eu tenho uma trajetória profissional e acadêmica rica. Ela pode não ser sensacional, mas em tudo que eu fiz existia uma aprendizagem e necessitava de entrega. Eu sempre estive em trabalhos formais e me palpitava o questionamento sobre o que fazer sobre mim mesma. O empreendimento é uma autoria, pode ser a materialidade de um livro, de um aplicativo, de um doce ou de qualquer outra coisa que esteja dentro de você. Nos dois últimos meses fiz algumas orientações com profissionais e foi onde perguntei a todos quais eram os seus projetos de garagem? A pessoa pode e muitos precisam ter um trabalho formal para manter o padrão de vida, mas o projeto de garagem existe porque a pessoa percebeu uma carência no mercado que precisa ser atendida e ela adoraria fazer. É preciso unir a paixão com a demanda, trabalhando nos projetos nas horas vagas. Os celulares estão aí, com aplicativos para anotações, mas abra também cadernos e anote informações. De repente você começa a juntar tudo e isso cria um corpo. Eu acabei tendo a felicidade de conseguir unir tudo isso no momento certo. Eu sei do meu tamanho, que ainda sou pequena perto de muitos outros profissionais, mas isso não me fez deixar de acreditar. É preciso tocar a vida juntamente com esses projetos até que uma hora, pode dar certo. Pode até não dar certo. Eu já fiz várias coisas, como por exemplo, colares. Eu comecei a dar certo e precisei fazer as embalagens e uma série de outras coisas, mas chegou uma hora que eu não tinha o principal, que era o produto. Foi então que eu vi que não iria acontecer. O que isso quer dizer? Que cada tentativa me ensinou algo. Se associe a pessoas que pensem com a mesma paixão que você, mas que te complementem. Então estabeleça os contratos, as parcerias, os investimentos. Eu, com 65 anos poderia gastar meu dinheiro com viagens, mas esse projeto é uma viagem para mim. Com a pandemia aprendemos que a viagem interna é mais possível que a viagem externa. Não enterrem seus sonhos: registrem suas ideias, levem para o papel também, conversem com pessoas próximas. Construam uma vida paralela até um certo dia em que essa vida paralela poderá ser a sua vida principal.

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