Eu tinha nove anos de idade, estudava no Grupo Escolar Tancredo do Amaral e nossa professora era Célia Biston.
Final de semana eu revi o vídeo em comemoração aos 100 anos da “Tancredo do Amaral” e vou de novo, me lembrando das coisas de lá.
No início da semana reencontrei uma amiguinha de sala de aula, daquele tempo e da qual não digo o nome, por não ter pedido a ela autorização. Contei um acontecido e ela não se recordava dele. Conto para vocês também.
Um dia, não sei o porquê, tivemos aula no período vespertino, cheguei a escola atrasada naquela tarde. Caiu uma tempestade tão grande que chegar foi quase uma aventura.
Aula iniciada e a amiga chega, a mesma amiguinha de carinha triste de todos os dias, eu não sabia onde ela morava, mas imaginei que era muito longe e como todos nós, vinha para a aula caminhando. Ensopada, toda molhada e a professora imediatamente pede que outra amiguinha a leve ao banheiro e coloque sobre seus ombros uma toalha de rosto, que retirou de um armário da nossa sala.
Minutos depois as duas voltam e eu solto um gritinho de espanto. Professora Célia me olha e pede que por favor eu volte com a amiga ao banheiro. Fui e consertei o ajeitamento da nossa outra amiga, ela havia colocado a toalha por sobre a camisa do uniforme. Se assim fosse para ser, não precisariam ir ao banheiro e mães sempre falam em “pegar friagem”, por isso me era tão claro o que deveria ser feito.
Encontrava-a nas ruas da cidade, ela me olhava sem dizer olá e eu imaginava que não se lembrasse de mim.
Nesse dia do reencontro, em seu local de trabalho, criei coragem e conversei, contei e ela não se recordou. Lembra só de ter estudado no Tancredo e que, no ano seguinte (em que todos foram realocados para escolas mais próximas de casa) foi estudar no “Acylino do Amaral Gurgel”, que ficava mais perto da sua casa, no bairro Santa Lúcia.
Ela mantém a mesma carinha triste de quando éramos crianças, a mesma timidez, mas conversando, ela se mostra mais solta do que quando caminhava uma vida, para poder estudar. Não, naquele tempo não havia ônibus que nos levasse e nos trouxesse da escola.
E nesta época do ano, eu continuando criança, sempre me recordava da menininha e pensava se ela havia deixado de ser triste, como sempre me pareceu. E sempre desejei que o Natal dela fosse o mais feliz possível.
Abençoada memória que sempre me dará imagens nítidas com as quais poderei matar aquele que me mata de saudade: O tempo passado.
Boas festas com um abraço apertado em cada um que esteve comigo durante mais este ano de lembranças das coisas da vida.