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Anoitecer

A gente vai envelhecendo e ficando saudoso das experiências que viveu.

No meu caso, mais saudosa, pois sou saudosista desde que nasci.

Envelhecer é a melhor opção da vida, sabemos. A outra opção é que é ruim: morrer jovem.

Com o tempo passando e sabendo que tenho menos anos de vida à frente do que os que já vivi, faço muitas coisas prestando uma enorme atenção ao que antes fazia só no embalo e por impulso.

Hoje, até quando lavo uma loucinha que está na pia, agradeço o poder fazer, presto atenção ao talher que usei, que agora ensaboado, aguarda a água que o torna utilizável novamente.

Se estou no mercado, não corro mais para terminar as compras e ainda me dou o direito de ir observando quem também está lá para abastecer a sua casa, até novamente ter que voltar e fazer tudo de novo automaticamente.

Acabou meu “automático ligado”. Nada mais é feito esbaforidamente, só porque tenho a certeza de que se e quando eu não mais puder fazer, sentirei uma imensa saudade de o poder.

E eu estou falando das coisinhas pequenas mesmo da vida, do dia a dia, do que nos mantém vivos e nem percebemos, do arrumar a cama quando levanto, do tomar os remédios diários que tomo ao amanhecer e principalmente do que levanto às 5 da manhã para tomar e depois volto para a cama, aguardar o efeito, para só depois de 1 hora, eu poder se quiser, tomar meu café da manhã. E olho, acredite, para dentro da geladeira e agradeço o leite, a manteiga e o que mais tiver lá dentro e que eu vou comer. E sim, isso me lembra os desvalidos e um pensamento com força de querer resolver a vida de todos, se eleva e mentalizo todos podendo e tendo o que comer a cada hora de cada refeição do dia.

Estou no meu entardecer e o anoitecer me aguarda, eu sei. Ou só acho que sei. Do nada a vida se vai. Como costumam dizer “A vida é um sopro”.

Quero guardar na mente as pequeninas atitudes, os sorrisos recebidos e a alegria que percebo num sorriso meu dado tão facilmente a cada pessoa que cruza o meu dia e sem a pessoa ao menos imaginar, a levo comigo na mente por um bom tempo, pós sorriso trocado.

Se há algum sentido em viver, talvez seja este, o de ter o poder de encantar através do sorriso inteiro, na boca, na face, nos olhos.

Tantas questões a se pensar e a resolver e me pego só pensando nos detalhezinhos. Gasto horas com isso e quando assusto, lá se foi a manhã, a tarde e à noite me perdoa, dizendo que fui e fiz neste dia, só o que desejei e não mudando minha vida, nem a do outro, ainda assim foi um dia bom de viver e de pensar, mesmo que não faça acontecer.

Ao anoitecer enfim, desejo que desta vida, eu tenha levado comigo só aquilo que o coração consegue carregar. E ao apagar das luzes, minha vida possa ser definida pelos que se recordarem que eu existi, mais ou menos assim:

– Sinto saudade dela, pois pelo tanto que ria, só podia mesmo ser uma pessoa feliz!

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