Cidades

Interligadas

Deque o mundo precisa?

Se eu tivesse uma resposta efetiva para essa pergunta o mais provável é que eu não estaria nesse momento onde estou e levando a vida como normalmente faço: algum fórum que reunisse líderes políticos importantes talvez já tivesse me levado a dar palestras que significariam o fim de nossas agruras cada vez mais agudas. Mas a pergunta me vem à mente a partir de uma conversa que tive com uma pessoa querida, a qual, após fazermos um certo diagnóstico de que as coisas não parecem ir muito bem no mundo atualmente, afirmou que não haveria solução enquanto as pessoas não buscassem mais a Deus. Infelizmente meu tempo estava se esgotando e eu não pude me alongar muito no bate-papo; o tempo foi suficiente apenas para me opor a tal saída, e as razões, que apresentei naquela conversa de maneira sumária, exponho aqui de maneira ligeiramente mais detida.

A primeira delas é que, na medida em que “Deus” não se manifesta diretamente a ninguém (a Bíblia mesmo diz que ninguém pode ver a Deus e permanecer vivo), ele sempre estará na boca de alguém. A vontade de “Deus”, o que ele quer que façamos, virá sempre pela intermediação de uma pessoa. E uma pessoa que fale em nome de “Deus” geralmente se investirá de uma autoridade capaz até mesmo de controlar comportamentos. Essa é a razão pela qual “Deus” ora condena, ora não condenaa homoafetividade; ora é pró-aborto, ora é contra o aborto; ora é de esquerda, ora é de direita: ele assume a posição daquele que fala em nome dele. Você pode argumentar que “Deus” se expressa por si mesmo na Bíblia. Mas isso também não resolve a questão. Um, porque os textos nos quais ele se expressa têm que ser lidos e interpretados; quem garante a interpretação correta? Quantas são as leituras existentes do mesmo texto? Dois: a própria tradução da Bíblia já é uma interpretação do texto original, de modo que todos os leitores da Bíblia que a leem em tradução, leem já uma interpretação. Um primeiro problema, portanto, de se acreditar que a solução para os males do mundo só virá se as pessoas se voltarem a “Deus” é saber a qual “Deus” as pessoas têm que se voltar, uma vez que ele chega a cada um por intermédio de alguma pessoa.

A segunda razão é que, sendo os males do mundo produzido pelos humanos (não necessariamente individualmente e todos com a mesma responsabilidade – criamos estruturas que se sobrepõem a nós), não haverá outra saída que não a que for dada pelos humanos. E aí não devemos pensar de maneira religiosa, como se buscássemos um paraíso definitivo na terra; devemos procurar melhorias constantes, aprimoramentos. E, nesse sentido, temos um elemento que pode de fato nos ajudar: a Ciência. A Ciência como procedimento, como modo de acesso ao real. A sociedade brasileira sairia ganhando se dedicássemos ao conhecimento científico (que inclui disciplinas “humanas”, como a história, a geografia, a sociologia) metade do tempo que dedicamos à religião. Mas… vejo que meu tempo acabou de novo!

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