O quê? Deve estar se perguntando o já ansioso leitor. Calma, chegaremos à resposta, e quero ver se você concorda comigo. Vou responder remetendo ao provável autor da formulação que vou usar, Fredrik Jameson, professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Disse ele que “é mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo”. Calma, não precisa fechar a página e mandar o autor aos infernos acusando-o de comunista, esquerdista ou qualquer outra designação capaz de queimar reputações atualmente. Vamos pensar com certa calma no que foi posto até aqui.
Pense nos filmes com que estamos acostumados, esses que anunciam catástrofes e tragédias de proporções diluvianas: terremotos, enchentes, asteroides gigantes, invasões extraterrestres… são muitas as formas pelas quais o cinema tematiza o apocalipse que poria fim à aventura humana na terra. Curioso é que esses filmes populares em nenhum momento sequer – mesmo quando acabam por localizar as possíveis causas de nosso fim não em eventos naturais, mas nas consequências de nossas ações– questionam o fato de que a sociedade planetária está organizada em torno do capitalismo.
Uma das razões para tocar no assunto me foi ventilada quando eu lia uma reportagem sobre grupos de caridade voltados a moradores de rua nos Estados Unidos. Na nação mais rica do planeta se encontram atualmente centenas de milhares de moradores de rua, e a reportagem em nenhum momento sugere pensarmos no modo como organizamos nossa sociedade (ou, talvez fosse melhor dizer, não se discute a impossibilidade de organizar nossa sociedade segundo nossa vontade, porque todas as vontades devem se submeter ao tal mercado, essa entidade sem rosto que submete a tudo e todos).
Há ao menos um problema que poderia ser posto em discussão e nunca é, em lugar nenhum que tenha alguma visibilidade (e o que estou fazendo agora pretende ir contra isso): enquanto não discutirmos a fundo o modo capitalista de produção, que faz do mercado o suposto regulador da sociedade, estaremos às voltas com soluções superficiais para problemas profundos. O problema básico é que no capitalismo toda a capacidade produtiva da sociedade tem um fim supremo: aumentar o capital. A satisfação das necessidades humanas é um subproduto desse fim, e pode ou não se realizar. Para milhões, não tem se realizado. Embora tenhamos condições, dados nossos índices de produtividade, de alimentar todos os habitantes do planeta e propiciar a cada um uma moradia decente, a realidade é que são milhões de pessoas passando fome ao redor do mundo e milhões delas morando nas ruas. Isso acontece porque a sociedade não está organizada para suprir as necessidades humanas, mas para aumentar o capital. Daí todo esse discurso a favor do mercado, usando como álibi o fantasma do comunismo (o que, aliás, aconteceu por todo o século XX, e agora XXI) para que se mantenha inquestionado o atual modo de organização da sociedade.
É proibido falar sobre isso?