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Folia do Divino em sala de aula

O presente texto é uma adaptação de um trabalho apresentado na pós-graduação, ocasião em que foi discutido a presença da Folia do Divino em sala de aula. Neste trabalho abordarei apenas a parte teórica. Boa leitura!

No dia 15 de abril aconteceu o primeiro pouso da Folia do Divino Espírito Santo em Itu deste ano. A iniciativa em manter a festividade é promovida pelo Instituto Cultural de Itu e o Museu da Música de Itu. Ao longo de sete semanas após o domingo de Páscoa são realizados os pousos em residências que abrem suas portas para receberem o Divino, representado pelo estandarte com a bandeira, os músicos como violeiros, bumbo e cantores, além do público em geral, convidados, fiéis e curiosos naquela festança toda em homenagem à terceira pessoa da Santa Trindade.
Conheci a Folia por meio do Prof. Ms. Luís Roberto de Francisco durante a graduação no curso de Licenciatura em História no Ceunsp (Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio). Há dez anos, o professor Luís fez um convite em aula para acompanhar o Cortejo da Bandeira do Divino que seria no final de semana próximo. Natan Coleta (amigo de curso) e eu fomos conhecer tal manifestação da cultura popular. Dali então, ano após ano, estivemos presentes em todas as edições até aqui.
A representação da tradição “como descrição de um processo geral de transmissão” (WILLIAMS, 2007) é uma prática atuante na construção da memória e da identidade enquanto formadora de uma sociedade, “pois trata-se do sentido de tradição como processo ativo” (WILLIAMS, 2007), de práticas de convivência que promovem a confraternização entre habitantes de determinadas localidades, transforma, mesmo que por alguns instantes, o cotidiano em representações outras.
Utilizarei no texto o termo representação, tanto na atuação no Folia do Divino em si como na atuação do evento em sala de aula como proposta de observação e prática de uma manifestação da cultura popular. Todo patrimônio preservado ou reproduzido passa (ou deveria se passar) por questionamentos levando em consideração “para quem se preserva, por que se preserva e qual visão de passado é selecionada e perpetuada na transformação de um bem em patrimônio”. (PINTO JR.; FERREIRA, 2017). Destaco ainda a ideia de resgate utilizada por mim em outros momentos de maneira a não se discutir o conceito. Hoje compreendo ser mais apropriado o uso de expressões como a representação:
O resgate do passado de forma pura e intocável é contrário à ideia da ressignificação, que considera os sujeitos do presente como forças ativas que têm papel fundamental na atribuição de significados ao bem cultural. A preservação, enquanto resgate de um legado, não permite uma relação dialética entre as dimensões do presente e passado. (PINTO JR.; FERREIRA, 2017).
Representação ou ressignificação são termos que cabem ao observar a permanência de tal manifestação da cultura popular nos dias de hoje. Pensar em cultura popular é pensar naquilo que é espontâneo, que surge do povo para o povo. A Folia do Divino é um exemplo disso, uma festa de cunho religioso, uma religiosidade popular com caráter cultural, é possível fazer diversas análises a dependerem da ótica.
Cultura popular é o repertório acumulado de produtos culturais como música, literatura, arte, moda, dança, cinema, televisão e rádio que são consumidos principalmente por grupos não-elite. […] a cultura popular é frequentemente um veículo para a rebelião contra a cultura dos grupos dominantes. Desse ponto de vista a cultura popular não é uma dieta habitual, anódina, servida de cima para baixo. […] é uma arena cheia de diversidade, conflito e luta sobre o conteúdo da cultura e, portanto, da forma de vida social. (JOHNSON, 1997).

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