Os tempos mudaram, mas, de uma forma ou de outra, a intenção de ignorar a mensagem permanece. Acredita-se que a expressão, em latim, ‘ne nuntium necare’ – não mate o mensageiro – tem relação com Dario III, rei da Pérsia, que cometeu vários erros de estratégia contra Alexandre, o Grande. Ocorre que ele mandou matar o responsável por informar sobre os fracassos. O imperador do Império Mongol, Gengis Khan, que expandiu seu território da Ásia até a Europa, era outro que tinha por hábito matar os mensageiros quando as notícias eram ruins. No inglês, a expressão mudou para ‘don’t shoot the messenger’ e passou a ser ‘não atire no mensageiro’.
Hoje, essa expressão está mais forte do que nunca, em inúmeras situações e ambientes, no público e no corporativo. É mais fácil atacar quem entrega a informação do que o fato em si. Aliás, quando se fala da imprensa, as ofensas, agressões e até assassinatos dos profissionais provam a cegueira de “ver” apenas o que é agradável aos ouvidos. Contudo, Tomás de Aquino dizia que “não se opor ao é erro é aprová-lo e não defender a verdade é negá-la” e isso é incontestável. Goste quem quiser.
Na esfera pública, temos visto por aqui tantos equívocos e atropelos, seja no Legislativo quanto no Executivo, quando o assunto é transparência. Dessa vez, a Câmara de Vereadores escolheu votar a criação de cargos de assessores no meio de um projeto que tratava da reforma administrativa do órgão, inclusive com a gratificação permitida apenas para funções que só podem vir a ser exercidas por servidores efetivos.
A divulgação antecipada da criação do cargo de assessores certamente levaria mais pessoas para assistir a sessão, além de provocar comentários em redes sociais. Faltou coragem de enfrentar a opinião pública. O que se viu na sessão extraordinária foi um discurso único e combinado da maioria, com uma ausência e dois votos contrários.
Veja, a estrutura não é suficiente para a realização de um trabalho adequado, que necessita de pesquisa e desenvolvimento de projetos, além do fundamental que é aprender a ouvir a população. Não dá pra brincar de jogo do contente, fingindo que está tudo bem, ou só criticar, o que também não leva a lugar nenhum.
A forma como a proposta foi apresentada e colocada em votação deve ser questionada. Fazer um sanduíche e discutir assuntos que tem a ver com gastos no meio de outros que parecem inofensivos não é justo com a população. O poder emana do povo, ele tem o direito de saber. Trazer esse tipo de discussão numa sessão extraordinária? Por quê? É preciso ter senso moral e coragem para promover discussões desagradáveis, mas necessárias. Isso eleva o nível e demonstra maturidade.
Ah, e, por favor, não mate o mensageiro.