Segundo dados do Portal Infosiga, nos últimos sete anos, pelo menos 13 ciclistas foram mortos em acidentes de trânsito na cidade de Salto. Dois deles, em outubro de 2022. Além de outros tantos que acabam se acidentando, mas conseguem sobreviver. Isso sem falar nas subnotificações. Ou seja, por diversas razões não ocorre o registro da ocorrência.
Além disso, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o Brasil registrou quase quatro óbitos de ciclistas por dia entre 2018 e 2020. Os números também mostram que cerca de 55,8 mil ciclistas foram internados gravemente na rede pública entre 2018 e 2021, vítimas de sinistros de trânsito. A situação é bastante preocupante, sobretudo para quem faz utilização desse veículo como meio de transporte ou até mesmo lazer.
Diante dos seguidos casos de acidentes, o ciclista e comerciante Irivaldo José Scalet, popularmente conhecido como ‘Careca’, utiliza suas redes sociais para conscientizar os ciclistas da importância de utilizar equipamentos de segurança e conduzir as bikes de forma correta, como também para chamar atenção aos acidentes e cobrar mais segurança no trânsito.
“Assistimos, estarrecidos, tragédias envolvendo 3 ciclistas em menos de 10 dias que vieram a óbito no município. Isso nos fez perguntar: existe, de fato, segurança no trânsito para os ciclistas? Um país em que há o dobro de bicicletas em relação aos carros, parece ter o triplo de insegurança para quem circula pelas vias em duas rodas. Por isso, nós do Ciclo Careca estamos em luto, em luto pelos nossos companheiros e companheiras de esporte vítimas desse tipo de acidente e pela falta de maiores cuidados e ações com as vidas no trânsito”, publicou em outubro do ano passado em uma de suas redes sociais.
Sugestões
Em conversa com a reportagem do jornal PRIMEIRAFEIRA, Careca usa dos anos de experiência no pedal para sugerir melhorias que podem ser aplicadas a qualquer momento. “O trânsito deveria ser ensinado para as crianças nas escolas. Ensinam sobre educação sexual, por que não ensinar trânsito também? É simples fazer isso. Basta simular faixas de pedestre, colocar algumas bicicletas para os alunos criarem essa consciência do que pode e o que não pode. Mas essa educação não deve estar apenas nas escolas. É algo que deve vir de berço. Os pais precisam falar desde pequeno. Atravessar uma rua não é apenas olhar para os dois lados. É preciso estar no lugar adequado, esperar o momento certo, enfim, são regras que devem ser seguidas, mas o brasileiro como um todo acaba não seguindo”, disse.
Ciclista há mais de 30 anos, ‘Careca’ conta que em algumas vezes já acabou desrespeitando as leis de trânsito e colocando sua vida em risco. “Quantas vezes, por pressa, não avancei o semáforo. Naquela do ‘vai que dá’ é que acontecem os acidentes. Eu mesmo já fiz muita ‘caca’. O ciclista é muito confiante. A precaução é a melhor coisa que tem e a conscientização que nós ciclistas devemos ter são as mesmas de um veículo automotor. Se o semáforo fechou, pare e espere. E se está com pressa, ao menos utilize a faixa de pedestre para cruzar uma via. Não é o certo, mas pelo menos é menos arriscado”, orienta.
Como é necessário literalmente disputar espaço com os veículos na maioria das vias, o ciclista reclama da falta de locais adequados para pedalar. “O número de bicicletas em Salto é maior que o de carros. E nós, ciclistas, temos de disputar espaço nas ruas com os carros. É injusto. E para melhorar, é preciso criar mais ciclofaixas. A ciclovia ajuda bastante. Sorocaba tem mais de 100 quilômetros de ciclovia e não se ouve fala de tantos acidentes como em outras cidades que não possuem o mesmo espaço de ciclovia. O ciclista acaba se conscientizando que tem um local e precisa utilizar”, cobra.
Por fim, além de cobrar melhorias no trânsito por parte do Poder Público, ‘Careca’ pede também maior rigor nas leis para motoristas infratores. “Se o ciclista bate em um carro, não acontece nada. E se o carro atinge o ciclista, também não acontece nada. Em muitos casos os motoristas estão embriagados e não tem punição. Ele tem a CNH retida, mas continua com o carro, vai beber novamente e conduzir sem a habilitação, colocando em risco outros ciclistas. Se matar mais um o que vai acontecer? Deveria encher de guardas na cidade, ter mais policiais realizando testes do bafômetro e para o ciclista também, caso infrinja alguma lei, que pague multa, que tenha a bicicleta apreendida. Só assim para que possamos aprender”, completou.
Ampliação das ciclovias
Procurada pela reportagem do jornal PRIMEIRAFEIRA, a Prefeitura de Salto informou que está em andamento a atualização do estudo e da lei de mobilidade urbana, com a análise da ampliação das ciclovias e também a possível implantação de novas, conforme será avaliado. “A Guarda Civil Municipal (GCM), através do projeto ‘Anjos da Vida’, incorporará, no corrente ano, palestras contra drogas e bullying e também a questão da educação no trânsito”, explicou em nota.