Trata-se de uma variação do futebol americano convencional, que foi oficializada como modalidade olímpica para os jogos de 2028, nos Estados Unidos, e que teve um time na cidade até a pandemia
Oficializado como esporte participante dos Jogos Olímpicos de 2028, que acontecerão em Los Angeles, nos Estados Unidos, o flag football, uma variação do futebol americano, está presente há mais de uma década em solo brasileiro. O Brasil, inclusive, é um forte candidato à medalha na modalidade. “Temos uma seleção brasileira que faz um trabalho muito interessante. Se não me engano, no último mundial feminino o Brasil terminou na quinta colocação, enquanto o masculino terminou na oitava posição. Isso tudo mesmo antes de ser esporte olímpico”, destacou o gestor do Centro de Treinamento Guarani, Allan Gabriel Barbosa, um apaixonado pelo esporte.
Até o início da pandemia, Allan esteve à frente de um projeto intitulado Salto Dark Wolves, que era uma equipe de flag football representante de Salto –e muito boa- nas competições do Estado. As dificuldades da pandemia afastaram patrocinadores, mas agora ele quer garantir o retorno da equipe às competições. Para isto, está reunindo ex-integrantes e busca apoio para voltar em 2024. As conversas já se iniciaram junto ao Poder Público. “O investimento são em flags (bandeiras), uniforme e materiais esportivos. O que mais encarece os custos são as viagens para a disputa, por exemplo, do campeonato paulista”, revela.
Para quem não sabe, Salto está inclusive na história da modalidade no Brasil, tendo sediado a primeira competição de flag football feminino. Em entrevista ao PRIMEIRAFEIRA, Allan Gabriel Barbosa falou sobre o projeto do retorno do Salto Dark Wolves, que vai envolver não apenas a disputa nos campos de São Paulo, mas um projeto amplo para disseminar a modalidade junto aos mais novos.
Veja a íntegra da conversa abaixo.
Como o flag football chegou em Salto?
Allan Gabriel Barbosa: O flag football veio de Indaiatuba, através do Felipe Von Zuben (fundador do Flames Football, projeto criado para ensinar e divulgar o futebol americano para crianças e adolescentes do interior de São Paulo). Ele trouxe o projeto para cá, criando a então equipe do Salto Flames, que começou em 2008. Eu iniciei nesse projeto como atleta e tínhamos bastante apoio. Justamente nessa época Salto recebeu o primeiro campeonato feminino de flag football do país. Foram algumas mudanças que ocorreram, primeiramente pelo Felipe, que foi morar fora do país, e de nomes da equipe, que se chamou Salto Black Birds e, quando eu assumi a diretoria da equipe, já éramos o Salto Dark Wolves. A proposta era disputar o campeonato paulista da modalidade e, nos quatro anos que disputamos, chegamos a ter 80 atletas em nossa equipe, considerando os times feminino e juvenil.
Por que a equipe não está mais na ativa?
Allan Gabriel Barbosa: Desde a pandemia não conseguimos mais apoios de empresas privadas e nem do Poder Público. Hoje estamos nesse desafio de voltar com a equipe. Com a inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos de 2028, temos a possibilidade de conseguir recursos via Lei do Incentivo ao Esporte. O projeto não morreu, mas sem verbas não temos como fazer. Alguns dos ex-atletas do Salto Dark Wolves estão jogando em times de Indaiatuba, Sorocaba e Campinas, mas mantemos contato com eles que falam em voltar desde que haja o retorno do projeto.
O que há de concreto para o retorno do Salto Dark Wolves?
Allan Gabriel Barbosa: Tivemos algumas conversas com a atual gestão, mas ainda não demos o pontapé inicial. Até porque vejo a dificuldade de times e atletas conseguirem apoio. Então, como sempre levamos os três projetos, do masculino, do feminino e do juvenil, é preciso estar bem-estruturado para conseguir o apoio.
Qual o tempo que levaria para que o Salto Dark Wolves voltasse a competir em alto nível?
Allan Gabriel Barbosa: Acredito que levaria uns dois ou três anos. Como temos muitos atletas bons que estão em times da região, poderíamos, em três anos, ter uma equipe competitiva para chegarmos pelo menos numa semifinal ou final de paulista.
O Dark Wolves tinha um envolvimento social junto à comunidade? Se tinha, como era esse trabalho?
Allan Gabriel Barbosa: Na região do São Judas, éramos parceiro da equipe de futebol do São Lourenço, em que participávamos de ações sociais, arrecadação de roupas e alimentos, de conscientização etc. Era uma forma de dar visibilidade.
Manter uma equipe de flag football demanda um alto investimento financeiro ou é um valor mais digerível?
Allan Gabriel Barbosa: Quando falamos do flag football, não. O investimento são das flags (bandeiras), do uniforme e dos materiais esportivos. O que mais encarece os custos são as viagens para a disputa, por exemplo, do campeonato paulista. Agora, se falarmos do futebol americano é um esporte caro por conta dos equipamentos de proteção que são necessários para os atletas.
Por que falta apoio para esportes de menor visibilidade?
Allan Gabriel Barbosa: Eu até entendo o porquê. Afinal, o que dá visibilidade é o que dá retorno. Teoricamente é melhor patrocinar um time de futebol do que um de futebol americano ou flag football. Vemos times de futebol com dez ou quinze patrocinadores, enquanto os times de futebol americano têm um ou dois. Nós estamos buscando formas de mostrar que o flag football dará valor e retorno para os apoiadores. O futebol americano no Brasil está buscando outros caminhos, como uma forma de vender esse projeto.
Qual a importância do flag football ter se tornado esporte olímpico para o desenvolvimento da modalidade?
Allan Gabriel Barbosa: Essa foi uma batalha que quem pratica o esporte sempre teve. Nós sofremos muitos preconceitos, sobretudo por sermos comparados ao futebol americano, que é um esporte bruto. Porém, o flag football é um esporte didático, que aceita qualquer biotipo de pessoa. Além disso, é um esporte em que se cria o respeito. Muitos árbitros que hoje apitam o flag football ou mesmo o futebol americano migraram do futebol convencional, porque os atletas se respeitam. Ocorrem os atritos, mas rapidamente acabam e vai cada um para seu canto. Então, esse respeito e a disciplina tomam conta do esporte hoje em dia. Até mesmo em escolas conseguimos criar projetos utilizando o flag football como sinônimo de trabalho em equipe e respeito pelos colegas.
Esse projeto desenvolvido por você nas escolas vai voltar?
Allan Gabriel Barbosa: Eu parei em 2022 com esse projeto, no qual dava aulas em colégios particulares como atividade extracurricular. Porém, a ideia é retomar juntamente com o projeto do Dark Wolves e, principalmente, por se tratar de uma modalidade olímpica.
A pandemia enfraqueceu a modalidade como um todo?
Allan Gabriel Barbosa: Eu acompanho as competições e existe hoje o mesmo número de times do passado. Porém, quem começa a jogar o flag football quer migrar para o full pad (competição com a inclusão de todos os equipamentos profissionais). Essa transição tem sido rápida. Por um lado, é bom, mas por outro nem tanto, porque acaba enfraquecendo a modalidade do flag football. Porém, como o flag football se tornou modalidade olímpica, a chance desses atletas retornarem é grande, visando conseguir vaga na seleção brasileira.
Qualquer um pode jogar o flag football ou o futebol americano?
Allan Gabriel Barbosa: Qualquer um pode jogar, mas existem posições específicas para cada atleta. Uma pessoa acima do peso não consegue competir com um corredor, então ela é direcionada para outra função, como, por exemplo, um defensor.
Quais as variações da modalidade?
Allan Gabriel Barbosa: Na modalidade jogam cinco contra cinco. São cinco jogadores de cada lado e não tem contato físico. Essa modalidade, inclusive, é que será disputada nos Jogos Olímpicos de 2028. No oito contra oito, ainda não tem todo o contato do futebol americano tradicional, mas já tem um pouco mais de contato físico. Na verdade, essa transição é mais ou menos como acontece nos Estados Unidos. Eles começam no cinco contra cinco, vão para o oito contra oito e depois vão para o full pad.
A cidade tem estrutura para receber jogos de flag football hoje?
Allan Gabriel Barbosa: Na verdade, eu acho que nenhum dos nossos campos estaria apto para receber o futebol americano. O desgaste do gramado é parecido, com a diferença que gastamos mais em alguns pontos. O que eu vejo é algum preconceito para com o esporte em querer ajudar na mesma proporção que ajudam o futebol convencional. Quando jogávamos no campo do centro de lazer do São Judas, éramos nós quem fazíamos a manutenção. Se chovia muito, não tinha treino para não danificar. Isso era uma das medidas que tomávamos para não falarem que o futebol americano ou o Flag Football danifica mais o gramado que outros esportes.
Acha que o Brasil tem boas possibilidades na disputa da modalidade nas Olimpíadas de 2028?
Allan Gabriel Barbosa: Temos uma seleção brasileira que faz um trabalho muito interessante. Se não me engano, no último mundial feminino o Brasil terminou na quinta colocação, enquanto o masculino terminou na oitava posição. Isso tudo mesmo antes de ser esporte olímpico. Há um intercâmbio de atletas e treinadores dos Estados Unidos para cá para auxiliar no desenvolvimento da modalidade. Eu acredito que o futebol americano feminino, que está há mais tempo nas disputas internacionais, tenha mais chances de medalha. No masculino temos ótimos jogadores, mas falta aquele macete. Ainda assim, acredito que possa ficar entre os dez primeiros. É claro que os Estados Unidos são um fenômeno e são favoritos, mas o Brasil está na briga.
O que é o Flag Football?
Nascido a partir de uma variação do futebol americano convencional, o Flag Football tem por objetivo avançar territorialmente em direção à zona de pontuação do campo adversário, buscando concretizar o touchdown (pontuação máxima). Diferentemente do futebol americano, que é jogado com equipamentos de proteção, no Flag Football o contato entre os jogadores é limitado. Cada jogador utiliza 2 fitas posicionadas em cada lado da cintura e presas a um cinto. Ao invés de derrubar o jogador que está com a posse de bola, a equipe de defesa deve impedir o avanço da equipe adversária removendo pelo menos uma fita do atacante em posse da bola ou interceptando um lançamento. A prática da modalidade começou a se desenvolver como modalidade esportiva no início dos anos 40, em bases militares americanas, de forma recreativa para os soldados. Durante os anos 50, já existiam ligas recreativas em várias regiões dos Estados Unidos, sendo que em 1960 surgiu a primeira liga nacional americana na cidade de Saint Louis. Posteriormente o esporte consolidou-se em vários países, como o Brasil, através de programas educacionais, projetos sociais e torneios.